sábado, março 20, 2010

lógica? qual lógica?


acho que nunca vou ser capaz de entender a lógica que define o destino do meu próprio mundo. sou constantemente atropelado por seguir um caminho de onde já estão a regressar todas as outras pessoas. se for eu a descobrir outro caminho, sou derrubado e ultrapassado por toda a gente que quer chegar mais rápido. não encontro conforto na intermitência da minha vida social, nos esporádicos e breves contactos, na fugacidade dos encontros, na competitiva troca de palavras em que se coloca em confronto a miserabilismo da condição humana, na ansiedade de uma próxima vez, nos imponderáveis silêncios e afastamentos, na incerteza do próximo dia. mas recuso, ao mesmo tempo, fazer a auto-promoção necessária para abrir novas portas, nadar em oceanos em vez de rios, percorrer estradas em vez de caminhos... desta forma, continuarei a definhar, dia após dia, na minha inconsequência, num mundo (o real e o virtual) que nunca chega a parar para eu, finalmente, entrar. dia após dia, a mesma ânsia de culpabilização interior, o desboroar lento e previsível de uma indómita vontade de encaixar em algum lado, de fazer parte de alguma coisa. vou escurecendo lentamente, transformando ímpetos em poeira e potenciais sorrisos em taciturnos semblantes, coarctando a minha própria boa vontade. trago comigo, sempre, os meus melhores amigos, a ironia e o sarcasmo, para me defenderem de qualquer invasão ou tentativa de aproximação exterior. se o mundo é um oceano, eu não sei claramente nadar; e quando aprender, tenho a certeza que deixará de existir água... voltarei a chegar tarde demais, como sempre. será sempre esta a minha grande dúvida: não me consigo ou não me quero integrar?
seja no mundo real ou no virtual, a lógica é a mesma da foto anexa.

6 comentários:

  1. Qual será a palavra que define o contrário de mundo? Ainda não consegui descobri-la, mas por certo ela existe. Será algo entre o desequilíbrio e o desnaturado. O mundo, tal como o temos, nunca é aquilo que queríamos ter. E quando alguém diz “mas tu tens isto, tens aquilo…” e dispensam-se aqui os bens materiais, não chega; queremos sempre mais. Um mais que não é tanto como isso, ou será até um pouco, mas é o nosso “pouco” que nos preenche, que nos faz sentir, que nos faz saber, que se não estamos no rumo certo, pelo menos estamos em algo que nos pertence, que faz parte…
    Conquistar o ponto de equilíbrio, não é fácil e muito menos sermos almas contentadas; somos incansáveis corredores há procura de mais e aí atraímos também a ansiedade que pode ser o nosso pior inimigo; viver sem ela seria o ideal; viver sem pressão, seria o ideal; viver sem hipocrisia seria o ideal; viver sem os amigos que afinal são “desamigos” seria o ideal. Estamos cá e a adaptação é quase inevitável, mas para isso teríamos que nos transformar em seres pautados pela falsidade, por sorrisos descorados, por palavras inquinadas…
    Sem saber nadar, temos que mesmo assim, desbravar o oceano e seguir….
    Mesmo quando a lógica não tem lógica, há sempre um ínfimo parecer que nos faz ver que afinal ainda vale a pena.!

    ResponderEliminar
  2. Foi o texto mais brilhante q li a relatar o q tenho estudado de forma tão secante acerca da fobia social. Trata-se, tal como se trata uma cárie, como se tratam as cefaleias crónicas, uma perna partida, a diabetes, a doença bipolar, a psoríase, a ejaculação prematura, as varizes, o cancro da mama, o acne e tantas outras patologias. Umas mais triviais, outras mais complicadas. Umas mais visíveis aos olhos, outras menos.
    Mas depois vem a pergunta filosófica: se a tratarmos, este brilhantismo mantém-se?
    Se serve de consolo, de fobia social todos podemos ter um pouco, como de poeta e louco...
    Ainda assim, ninguém me perguntou nada... Apaga, cospe e insulta com todo o direito.

    ResponderEliminar
  3. fátima:
    é claro que vale sempre a pena continuar, mesmo com a cabeça baixa, os olhos a fixar o chão e as mãos cheias de nada. haverá sempre uns dias em que vamos querer ficar sozinhos a contemplar o vazio, sem ninguém a incomodar, e outros em que sentiremos que somos realmente capazes de suportar um ser humano ao nosso lado. no meio termo estará a resposta para este dilema, porque o que acontece é sentirmos falta da solidão quando estamos acompanhados e ansiarmos por alguma pessoa quando estamos sozinhos. comigo, sempre foi assim, um ciclo atrás de outro. um com muitos amigos, outro com poucos, uma fase mais eufórica, logo seguida de uma depressiva. não se trata de um caso bipolar, na medida em que tudo isto é consciente. gosto do meu espaço, da minha liberdade, das minhas rotinas, da minha música de "cortar os pulsos" (sempre depressiva, intensa e pungente), mas, por vezes, ou muitas vezes, apetece-me insurgir-me contra mim mesmo, dar um murro na mesa e fazer algo para quebrar essa rotina, para sair deste meu casulo confortável e seguro, e arriscar novos passos. sempre que fiz esse "esforço", todavia, de me entrosar noutros locais, noutros contextos, com outras pessoas, os resultados nunca foram os esperados e, inevitavelmente, dei sempre por mim a desejar voltar à minha solidão, à minha rotina, ao meu ambiente confortável. com o acumular dos anos, o que se ganha em maturidade perde-se em tolerância. por isso, quando estou a fazer esses tais esforços de integração social, de alargar os horizontes e as minhas opções, é frequente ouvir uma voz interior a dizer-me "é realmente aqui que queres estar?". normalmente, não é.
    mas, tal como dizes no teu comentário, é preciso desbravar o oceano, continuar a nadar. o mundo nunca será perfeito, vamos sempre ter que lidar com a hipocrisia, a ansiedade, os falsos amigos, a pressão profissional e social, etc.. e, como tu dizes, a "a adaptação é quase inevitável, mas para isso teríamos que nos transformar em seres pautados pela falsidade, por sorrisos descorados, por palavras inquinadas". no teu "quase" residem pessoas como eu, que não receberam o argumento e os diálogos previamente estabelecidos. prefiro ser catalogado como antipático, arrogante, sisudo e anti-social do que me sujeitar a interpretar o papel que alguém me destinou.
    obrigado pela visita e pelo comentário!

    ResponderEliminar
  4. miau com pintas:
    o adjectivo inicial não é de todo merecido (mesmo que o tenhas dito a brincar...). fiz apenas um resumo da matéria dada, tendo em conta os vários textos que ficaram para trás sobre esta matéria. continuo a ser o mesmo museu de sempre, no mesmo sítio de sempre, que as pessoas visitam durante meia hora, procurando mostrar algum interesse, para, no final da visita, saírem aliviadas e confortadas com a ideia de nunca mais lá voltarem a pôr os pés. há dez anos, tinha direito a uma hora para tentar impressionar alguém. havia mais disponibilidade, outra abertura, mais tempo; hoje, se conseguir quinze minutos já é muito bom. mas, em quinze minutos, que imagem darei de mim? provavelmente a pior de todas. colecciono "más primeiras impressões" em todo o lado e em todas as faixas etárias, sou coerente nesse aspecto. que fazer então? o museu está, assim, muito perto do encerramento ao público, sem nunca ter aparecido alguém com a ousadia de perguntar ao "artista" qual o significado das obras expostas.
    obrigado pelo comentário!

    ResponderEliminar
  5. quem te mentiu?...
    ou... quem teve a maldade de te estragar o espelho...?
    e não era a brincar, o qualificador. senti mesmo inveja do talento com que manifestas os teus sentimentos. inveja não, q é um sentimento q repudio. admiração. admirei a tua arte de escolher as palavras e de lhe dares ritmo. isso!
    sim, venho aqui qdo vejo q há novidades, com alguma curiosidadezinha infantil. fujo qdo vejo futebol. não chego aos 15 minutos nesses posts. nos outros demoro-me até nas vírgulas, saboreio, rio, fico a pensar.
    tu agradeces os comentários. eu agradeço os teus posts. ;o)

    ResponderEliminar