domingo, janeiro 31, 2010

o meu síndrome da invisibilidade

hoje apetece-me escrever. não sei bem de quê, mas apetece-me. é uma aventura começar a escrever sem ter um tópico, um assunto, um tema. é a minha forma, eu que sou tão temeroso e pouco vocacionado para a espontaneidade, de me lançar no escuro, "push the envelope" (sempre quis utilizar esta expressão num post). chateia-me imenso que nunca me aconteça nada de relevante para vos contar, uma ameaça de bomba, uma perseguição a alta velocidade na auto-estrada, uma luta entre a vida e a morte como refém num assalto a um banco... tanta coisa que me poderia acontecer, mas nada me acontece. no máximo dos máximos, quase sou atropelado numa passadeira, porque, comprovando a minha teoria de que sou, efectivamente, invisível, os condutores têm uma enorme dificuldade em ver-me. vir para aqui chatear-vos com a forma como sou atendido (e às vezes nem isso) em estabelecimentos comerciais e repartições públicas também seria bastante maçador. mas pronto, como não tenho mesmo assunto, saliento apenas um episódio, ocorrido numa superfície comercial de viseu. o meu filho anda com a "panca" do bowling, ficou imediatamente viciado quando experimentou pela primeira vez, ao ponto de, agora, querer fazer lá a sua festa de aniversário (sim, é possível). mas, se dependesse de mim, tal nunca se realizaria. isto porque, na semana passada, depois de repetidos pedidos do meu filho, fui com ele ao bowling. lá chegados, com as pistas todas ocupadas, tentei saber no balcão, que estava sem clientes e apenas com os dois funcionários, se poderíamos jogar. cheguei ao balcão, repito que não estava mais ninguém para atender, apenas eu, e esperei que os dois funcionários, um rapaz e uma rapariga, acabassem a conversa que estavam a ter para, depois, ser efectivamente atendido. o tempo foi passando, a conversa nunca mais acabava e eu a sentir-me cada vez mais minúsculo. a minha teoria da invisibilidade voltou a ganhar contornos preocupantes. depois de mais de um minuto disto, desisti. afastei-me do balcão, sem que algum deles tivesse sequer reparado que eu lá estive. bem, eu não tenho um metro e meio, sou bem alto, por sinal, acho muito difícil não me terem visto. mesmo assim, decidiram que eu não seria merecedor da atenção deles. curiosamente, apenas 30 segundos depois, apareceu um grupo de teenagers, que se dirigiu ao balcão e, surpresa, foram imediatamente atendidas! uau! não é fantástico? como eu entendo, em casos como este, a personagem de michael douglas no filme "falling down". mas enfim, adiante. preferi ficar com a raiva toda cá dentro, que vai acumulando, acumulando, até um dia já não aguentar mais. se calhar até vai ser num caso muito menos "grave" do que este, como por exemplo um empregado de um café esquecer-se de me trazer o pacote de açúcar, mas esse é um risco que eu vou ter que correr (eu e todos os empregados de café deste país). e depois, eu estava com o meu filho. não queria que ele ficasse traumatizado para o resto da vida se eu saltasse o balcão e começasse a arrancar, uma por uma, as unhas das mãos dos tais funcionários.
eu gosto de passar por invisível, não quero que me abordem na rua, tento ser o mais "low profile" possível, mas caramba, também não é preciso exagerarem no desprezo. há dias, numa farmácia de viseu, antes de ser atendido, ouvi por diversas vezes os funcionários da mesma perguntarem aos clientes se já tinham o calendário da farmácia, dando a dois ou três deles o referido calendário. quando chegou a minha vez de ser atendido, esperei, obviamente, que, na mesma linha de orientação, também me fosse oferecido um calendário. não é pelo calendário em si, que provavelmente iria deixar em casa, em cima do frigorífico, ou no móvel de entrada, sem que alguma vez me servisse dele, mas pelo facto de o mesmo ter sido oferecido a todos os outros clientes da farmácia nos minutos que precederam o meu atendimento. muito bem, pedi os medicamentos, o senhor foi buscar, trouxe os medicamentos, pediu-me o nome para a factura, disse-me quanto era, paguei-lhe, deu-me o troco e... mais nada. "e o calendário?" - poderia ter perguntado, "toda a gente recebeu um antes de mim". não disse nada, obviamente, mas foi mais uma daquelas situações que servem para ir encurtando o espaço entre o rastilho e a dinamite. é que desta vez nem sequer foi um problema de invisibilidade. o homem viu-me, de facto, atendeu-me e tudo, mas achou que eu não era digno de levar para casa um calendário daquela farmácia. lá está, eu até já deveria estar habituado e este género de situações, tantas são as vezes que elas ocorrem. tenho cara de mau? devo ter. serei invisível? não creio, sinceramente, embora pareça que sou. tenho um problema de atitude? sim, tenho, mas um problema grave que não permite que eu reaja no instante em que as situações acontecem e reaja depois, umas semanas mais tarde, na porcaria deste blogue...

2 comentários:

  1. Também já fui assim, como tu, do lado dos bonzinhos! Mas experimenta explodir uma destas vezes! Ganhas-lhe o gosto e não vais querer outra coisa! E pronto, transformas-te num ser humano horrível, como eu! Alás, pensando melhor, e recordando a tua "má língua", já estás no bom caminho... ;)
    ( Oh, yeah, Big Cosmos is watching you, Man!!)

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  2. Por vezes me sinto assim, não é sempre, verdade, mas o tanto que me incomoda, vária com meu estado de espírito. Em parte, saber que outros também sofrem do mesmo mal, faz sentir me menos estranha...kkk como se isso bastasse. Ao contrário de você, eu tenho um metro e meio, talvez colabore com sua teoria, mas me sobre em outras dimensões, o que descarta essa hipótese. Foi legal identificar-me assim, pois achei seu porcaria de blog, conforme sua definição... mas não é, de certo... bom seria que todos com nossos sentimentos compartilhássemos experiências de vida, para que senão colaborássemos com os semelhantes ao menos os aliviássemos pela fato de serem únicos penar com a sociabilidade ou falta dela.

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