sexta-feira, fevereiro 20, 2009
a época mais estúpida do ano
e pronto, ela aí está, a época mais estúpida do ano: o carnaval. nunca consegui entender muito bem o propósito do carnaval, para que serve e qual é a sua utilidade, especialmente em portugal, onde normalmente, por esta altura, está um frio de rachar e se colocam pessoas semi-nuas, em desfile, a tentar imitar o que se faz no brasil, onde o carnaval decorre em pleno verão. comparar o nosso carnaval com o do brasil é o mesmo que tentar comparar a vida sexual da odete santos com a da elsa raposo. por cá temos todos os santos anos a mesmíssima coisa: um desfile carnavalesco com tractores enfeitados, bonecos a imitar os nossos políticos ou dirigentes desportivos, frases ou versos a criticar o governo e meia centena de homens e mulheres, elas sempre com muita pouca roupa (mesmo que estejam temperaturas negativas) e eles, curiosamente, a vestirem-se de mulher. depois há umas bandas filarmónicas e, basicamente, muitas serpentinas e apitos. o povinho, pelos vistos, gosta destas coisas e vai sempre a correr ver passar o cortejo. então se houver alguém que apareça na televisão em cima de um tractor a acenar à multidão, ainda melhor. nem que seja o tino de rans ou o zé maria do big brother. ver ao vivo alguém que aparece na televisão é tema de conversa para meio ano. agora que as novelas brasileiras já não têm praticamente saída em portugal, deixaram de vir actores e actrizes daquele país, o que poderia indiciar um substancial corte orçamental no balúrdio que se gasta todos os anos nestas "macacadas". mas não é o que acontece. gente como diana chaves, rita pereira, josé carlos malato, joão baião, jorge gabriel, isabel figueira ou cláudia vieira cobra "rios de dinheiro" por percorrer alguns quilómetros em cima de um tractor a acenar e a sorrir para a assistência, como se fosse algo que exigisse muitos anos de formação e treino sistemático. quem é que paga isto tudo? os carros alegóricos, as roupas, os bonecos, as bandas filarmónicas, as vedetas da televisão... compensará, em termos financeiros, organizar um carnaval em portugal? quais são as contrapartidas económicas?
o carnaval está, para mim, como o fogo de artifício da passagem de ano. são futilidades onde se gastam milhares de euros, quando há tanta gente por esse país fora que ainda não tem luz, água potável, saneamento básico, infraestruturas básicas para uma vida humanamente digna. será um desfile carnavalesco de três horas que os vai afastar da pobreza em que vivem?
o que é realmente "carnavalesco" é ouvir sistematicamente os presidentes das câmaras municipais a queixarem-se da falta de verbas para tudo e mais alguma coisa, nomeadamente as tais infraestruturas básicas, pedindo apoios ao governo, mais subsídios e mais verbas para as autarquias, para depois assistirmos a isto todos os anos. juro que me arrepio todo quando ouço falar nos valores envolvidos na organização destes pretensos "carnavais". não estamos em crise? ainda ninguém ouviu falar nos cerca de mil novos desempregados por semana? da subida em flecha das taxas de desemprego? do fecho das principais fábricas empregadoras do nosso país? já andamos a ouvir falar em crise há muito tempo e, no entanto, por esta altura, mais uma vez, toda a gente parece querer seguir à risca a imbecilidade daquele adágio popular "é carnaval, ninguém leva a mal". não levarão a mal aqueles pais que se viram, de um momento para o outro, sem emprego, porque a fábrica onde trabalhavam fechou? não levarão a mal as mães e os pais deste país que têm de se governar com os seus respectivos ordenados mínimos? não levarão a mal os idosos, que continuam a receber reformas miseráveis? não levarão a mal aqueles miúdos que ainda têm que estudar à luz de uma vela? será um aceno do josé carlos malato, em cima de um tractor, que vai compensar toda esta gente?
não estou com isto tudo a querer ser fundamentalista ao ponto de exigir a abolição do carnaval enquanto houver pobreza, desemprego, fome e miséria em portugal, porque dessa forma também não haveria carnaval em nenhuma parte do mundo. pretendo apenas criticar, numa altura de recessão económica e de profundos cortes orçamentais, o despesismo exacerbado em algo tão fútil como o carnaval, uma tradição que parou no tempo no nosso país, que não inova, chega a ser deprimente (então quando está frio ou a chover ainda o é mais), sendo todos os anos a mesma coisa, pelo que vejo nas imagens televisivas, só mudando as vedetas em cima do tractor a acenar à multidão.
Meu amigo, acho que as tuas rações são verdadeiras..muita pobreza, a crisi...mas igualmente não acho que sea uma festa estupida, porque por um o dois dias as pessoas podem ser outros, e esta è uma coisa catártica: fazer o que geralmente não fazes, sair fora dos usuais esquemas da sociedade...ou sonhar um bocado que nunca faz mal..e reir muito...
ResponderEliminaracho que poderia ser melohr si não se gastava tão dinheiro...
também não suporto esta época...
ResponderEliminarbjs
Sou brasileira e não gosto muito de carnaval.Assim como em seu país,aqui também o governo gasta para por essa folia nas ruas.
ResponderEliminarEnquanto a pobreza e a fome assola milhões de crianças.
Entendo sua indignação.