quarta-feira, julho 30, 2008
preparar as férias
porquê um livro sobre a filosofia e 'seinfeld'? como é que a filosofia, uma disciplina que é mais ou menos «uma teoria geral de tudo», se encaixa com um programa que afirma ser «sobre nada»? bem, nem sempre o tudo e o nada estão completamente afastados! o «nada» com que 'seinfeld' lida é definitivamente alguma coisa que, por vezes, é filosófica. a comédia televisiva mais popular dos anos 90 conseguiu chamar a atenção para os acontecimentos diários da vida de uma forma pouco habitual, realçando os seus lugares comuns e mundanos, e chamando a nossa atenção para coisas que nos passam despercebidas. sócrates dizia que «a vida que não é examinada não vale a pena ser vivida». as personagens de 'seinfeld' examinam certamente as suas vidas, apesar de se duvidar que sócrates aprovasse muito as suas vidas ou as suas análises! em "a filosofia segundo seinfeld", treze fãs da série, que por acaso também são filósofos catedráticos, examinam com determinação e paixão as ideias, as histórias, o humor e as personagens de 'seinfeld'- sinopse do livro "a filosofia segundo seinfeld", de william irwin, que comprei hoje, perfeito para aquelas manhãs e tardes de ócio na praia.
a segunda parte da terceira série de "entourage", que em portugal tem o nome de "vidas em hollywood"no circuito de dvd e de "a vedeta" quando passou recentemente na sic, é essencial para alguém, como eu, totalmente viciado nesta série e que quer, mesmo que isso implique fazer apenas uma refeição por dia, ter a série completa lá em casa. como se ainda faltassem argumentos, estou ainda mais motivado para ver esta segunda parte da terceira série porque nela entra a actriz carla gugino, que sigo com atenção desde os tempos de "spin city", em que interpretava a namorada de michael j. fox.
tenho a impressão de que vou gostar bastante destas férias...
ride
uma das minhas músicas preferidas: "ox4", dos ingleses ride, do disco "going blank again", de 1992. começa a desenhar-se uma gigantesca nostalgia pelos gloriosos anos 90 em termos musicais.
segunda-feira, julho 28, 2008
lisboa - liverpool - porto
quaresma.
simão sabrosa.
joão moutinho.
o primeiro saiu do sporting para o barcelona. regressou a portugal para o fc porto.
o segundo saiu do sporting para o barcelona. regressou a portugal para o benfica.
o terceiro vai sair do sporting para o everton. vai regressar a portugal para o fc porto.
a meu ver, o sporting não o deveria vender nem que dessem 100 milhões por ele, só para castigar a total falta de amor à camisola que o fez jogador. para mim, era obrigá-lo a ficar no clube até acabar o contrato, mantendo-o sempre no banco de suplentes. moutinho já tinha admitido antes que festejou efusivamente a vitória do benfica em alvalade por 6-3. agora, tem estas declarações nojentas, impróprias de um capitão de equipa (creio que o mais novo de sempre do sporting). se ainda houve capacidade para o "perdoar" da primeira vez, agora não existe nem um vislumbre de que isso possa vir a acontecer. se paulo bento tiver escrúpulos, idoneidade e carácter, deixará de contar com moutinho para a próxima época. ele que fique por lá a ajudar o paulinho a arrumar os equipamentos. caneira, polga, liedson, tonel, qualquer um destes jogadores pode ficar com a braçadeira de capitão. de joão moutinho eu nunca mais quero ouvir falar. morreu. um ano a jogar pelo everton (se não sair logo em dezembro) não deve ser um castigo assim tão grande, tendo em conta que depois poderá finalmente ter o seu grande admirador como presidente, o mesmo presidente que não se cansou de dizer recentemente que ele é "um jogador à fc porto".
simão sabrosa.
joão moutinho.
o primeiro saiu do sporting para o barcelona. regressou a portugal para o fc porto.
o segundo saiu do sporting para o barcelona. regressou a portugal para o benfica.
o terceiro vai sair do sporting para o everton. vai regressar a portugal para o fc porto.
a meu ver, o sporting não o deveria vender nem que dessem 100 milhões por ele, só para castigar a total falta de amor à camisola que o fez jogador. para mim, era obrigá-lo a ficar no clube até acabar o contrato, mantendo-o sempre no banco de suplentes. moutinho já tinha admitido antes que festejou efusivamente a vitória do benfica em alvalade por 6-3. agora, tem estas declarações nojentas, impróprias de um capitão de equipa (creio que o mais novo de sempre do sporting). se ainda houve capacidade para o "perdoar" da primeira vez, agora não existe nem um vislumbre de que isso possa vir a acontecer. se paulo bento tiver escrúpulos, idoneidade e carácter, deixará de contar com moutinho para a próxima época. ele que fique por lá a ajudar o paulinho a arrumar os equipamentos. caneira, polga, liedson, tonel, qualquer um destes jogadores pode ficar com a braçadeira de capitão. de joão moutinho eu nunca mais quero ouvir falar. morreu. um ano a jogar pelo everton (se não sair logo em dezembro) não deve ser um castigo assim tão grande, tendo em conta que depois poderá finalmente ter o seu grande admirador como presidente, o mesmo presidente que não se cansou de dizer recentemente que ele é "um jogador à fc porto".
quinta-feira, julho 24, 2008
mini-férias
três dias. duas noites. sem harrison ford ou anne heche. o sul espera por mim, com a tradicional passadeira vermelha, a banda filarmónica, a chave da cidade, as criancinhas para beijar e os balões, sem esquecer a largada de pombas, e vai tratar-me bem certamente. volto, retemperado na segunda-feira. até lá...
quarta-feira, julho 23, 2008
capítulo VII
capítulo VII
a vida parecia querer começar finalmente a sorrir-me. experimentava sensações novas, redescobria as tremideiras que eu julgava que tinham ficado na adolescência, o bater acelerado do coração, os suores frios, a efervescência da sedução, o prazer de conquistar. a paula teve esse condão de ignição, de me despertar para um recomeço de vida aos quarenta. os cabelos brancos deixaram de ser sinónimo de velhice para passarem a ser sinónimos de charme, de "know how", de experiência e sabedoria. nas saídas seguintes com o andré, depois da festa em casa da paula, cheguei até a ficar assustado com a facilidade com que tudo se desenrolava. era tudo excessivamente fácil, especialmente com o andré. resumia-se a umas bebidas, uns olhares furtivos, dois dedos de conversa e a habitual pergunta "não querem ir para um sítio mais calmo?". como sempre, eu conduzia o carro. o andré nem esperava e abria sempre as "hostilidades" no banco de trás. normalmente, voltávamos para o nosso apartamento, onde cada um de nós se enfiava no seu quarto com a respectiva companhia. uma vez estávamos tão embriagados que só de manhã reparámos que tínhamos trocado as nossas parceiras.
nessas noites, era frequente encontrarmo-nos na cozinha às tantas da manhã, cheios de fome, aproveitando a ocasião para comentar a "performance" das nossas parceiras. uma vez, o andré foi tão eloquente àcerca das qualidades de uma espanhola, de vinte e poucos anos, que eu sugeri uma troca a meio da noite. e ele estava coberto de razão...
foram meses loucos esses, de bebida, sexo e alguma droga. era inevitável não "chocar" com ela. um charro primeiro, depois ecstasy, o que interessava era manter o barco à superfície, a navegar sem obstáculos. e quanto mais entrava neste estilo de vida, mais queria experimentar. o contraste com a minha vida profissional era gritante. sentia a pachorrenta e formal repartição de finanças cada vez mais como uma enorme e apertada camisa de forças. as horas diárias que lá passava eram asfixiantes, "chupavam-me" toda a energia e a vida que a noite me dava. como a tal camisa me apertava cada vez mais, comecei a levar às escondidas uma garrafa de vodka, daquelas que os detectives aconchegavam no bolso das gabardines nos filmes antigos, que escondia na minha secretária. aligeirava, e de que maneira, aquela tortura toda, sem que ninguém desconfiasse. apenas o andré sabia, porque também bebia. graças a deus que a vodka não deixa hálito nenhum. saíamos sempre do trabalho com a nítida sensação que o dia estava apenas nesse momento a começar. bons e despreocupados tempos esses...
para elevar ainda mais os meus índices de felicidade, a sónia deu-me uma excelente novidade quando fui buscar o marco num dos sábados. o apartamento tinha sido finalmente vendido. disse-me para passar no escritório dela na segunda-feira seguinte para tratarmos da papelada. depois de pago o empréstimo ao banco, ainda deu para "encaixar" 25 mil euros. eu fiquei com 10 e ela com 15, por causa do marco. achei justo.
o rapaz sempre fez um esforço e passou de ano. organizei uma grande festa para ele e para os amigos lá em casa. notei que ele me olhava de forma diferente, com algum orgulho até. apresentou-me os amigos todos e, na altura do brinde, agradeceu-me bastante pela confiança que depositei nele aquando da sua "quebra psicológica". foi muito gratificante ter ficado com a sensação que não o tinha perdido, apesar da nossa distância e dos poucos momentos que passava com ele. afinal, não tinha feito tudo mal na minha vida. o marco era a prova disso.
num dos sábados seguintes, fomos ao colombo ao cinema, um programa habitual. íamos sempre à sessão das 15h00, depois de almoçarmos por lá. depois de almoço, estávamos nós na fnac a "queimar tempo", quando vi, na secção dos livros, uma cara conhecida. já estava a "engatilhar" uma abordagem quando o marco se antecipou a cumprimentá-la. aproximei-me dos dois, à espera de uma óbvia apresentação. e ela não tardou. era a sofia ribeiro, professora de história do marco. eu sabia que a conhecia de algum lado... dois beijinhos na face, perfume inebriante, pele imaculada, cabelos rebeldes a escorrerem-lhe pelo pescoço... confesso que fiquei um pouco nervoso. a minha postura foi a mesma do jorge oliveira antigo, não a do novo. as palavras não saíam como eu queria que elas saíssem, a eloquência parecia ter adormecido, o charme engasgou-se com o meu espontâneo regresso à timidez. felizmente, ela estava muito mais à vontade e, basicamente, falou pelos dois. o marco afastou-se para a secção dos cds e eu fiquei a falar com a sofia, que não se cansava de elogiar a sensacional recuperação do meu filho, sobretudo depois de mais uma contrariedade na sua vida, o divórcio dos pais. eu, nos pequenos lapsos de tempo em que não estava totalmente perdido nos seus olhos castanhos, fui capaz de balbuciar alguns sons de concordância. no sentido de "quebrar o gelo", especialmente o meu, que poderia ser facilmente confundido com o icebergue onde bateu o titanic, resolvi perguntar-lhe se já tinha tomado café. ela depois disse algo que eu nunca mais me esqueci, algo que resumia perfeitamente o género de mulher que era, com sentido de humor, cultura geral e simpatia q.b.: - "sim, já tomei café várias vezes. sei perfeitamente o que é". foi o perfeito "desbloqueador". eu soltei uma gargalhada, ela abriu um sorriso resplandecente, quase que de alívio pela minha reacção. ficou ali estabelecido o nosso primeiro sinal de cumplicidade.
a vida parecia querer começar finalmente a sorrir-me. experimentava sensações novas, redescobria as tremideiras que eu julgava que tinham ficado na adolescência, o bater acelerado do coração, os suores frios, a efervescência da sedução, o prazer de conquistar. a paula teve esse condão de ignição, de me despertar para um recomeço de vida aos quarenta. os cabelos brancos deixaram de ser sinónimo de velhice para passarem a ser sinónimos de charme, de "know how", de experiência e sabedoria. nas saídas seguintes com o andré, depois da festa em casa da paula, cheguei até a ficar assustado com a facilidade com que tudo se desenrolava. era tudo excessivamente fácil, especialmente com o andré. resumia-se a umas bebidas, uns olhares furtivos, dois dedos de conversa e a habitual pergunta "não querem ir para um sítio mais calmo?". como sempre, eu conduzia o carro. o andré nem esperava e abria sempre as "hostilidades" no banco de trás. normalmente, voltávamos para o nosso apartamento, onde cada um de nós se enfiava no seu quarto com a respectiva companhia. uma vez estávamos tão embriagados que só de manhã reparámos que tínhamos trocado as nossas parceiras.
nessas noites, era frequente encontrarmo-nos na cozinha às tantas da manhã, cheios de fome, aproveitando a ocasião para comentar a "performance" das nossas parceiras. uma vez, o andré foi tão eloquente àcerca das qualidades de uma espanhola, de vinte e poucos anos, que eu sugeri uma troca a meio da noite. e ele estava coberto de razão...
foram meses loucos esses, de bebida, sexo e alguma droga. era inevitável não "chocar" com ela. um charro primeiro, depois ecstasy, o que interessava era manter o barco à superfície, a navegar sem obstáculos. e quanto mais entrava neste estilo de vida, mais queria experimentar. o contraste com a minha vida profissional era gritante. sentia a pachorrenta e formal repartição de finanças cada vez mais como uma enorme e apertada camisa de forças. as horas diárias que lá passava eram asfixiantes, "chupavam-me" toda a energia e a vida que a noite me dava. como a tal camisa me apertava cada vez mais, comecei a levar às escondidas uma garrafa de vodka, daquelas que os detectives aconchegavam no bolso das gabardines nos filmes antigos, que escondia na minha secretária. aligeirava, e de que maneira, aquela tortura toda, sem que ninguém desconfiasse. apenas o andré sabia, porque também bebia. graças a deus que a vodka não deixa hálito nenhum. saíamos sempre do trabalho com a nítida sensação que o dia estava apenas nesse momento a começar. bons e despreocupados tempos esses...
para elevar ainda mais os meus índices de felicidade, a sónia deu-me uma excelente novidade quando fui buscar o marco num dos sábados. o apartamento tinha sido finalmente vendido. disse-me para passar no escritório dela na segunda-feira seguinte para tratarmos da papelada. depois de pago o empréstimo ao banco, ainda deu para "encaixar" 25 mil euros. eu fiquei com 10 e ela com 15, por causa do marco. achei justo.
o rapaz sempre fez um esforço e passou de ano. organizei uma grande festa para ele e para os amigos lá em casa. notei que ele me olhava de forma diferente, com algum orgulho até. apresentou-me os amigos todos e, na altura do brinde, agradeceu-me bastante pela confiança que depositei nele aquando da sua "quebra psicológica". foi muito gratificante ter ficado com a sensação que não o tinha perdido, apesar da nossa distância e dos poucos momentos que passava com ele. afinal, não tinha feito tudo mal na minha vida. o marco era a prova disso.
num dos sábados seguintes, fomos ao colombo ao cinema, um programa habitual. íamos sempre à sessão das 15h00, depois de almoçarmos por lá. depois de almoço, estávamos nós na fnac a "queimar tempo", quando vi, na secção dos livros, uma cara conhecida. já estava a "engatilhar" uma abordagem quando o marco se antecipou a cumprimentá-la. aproximei-me dos dois, à espera de uma óbvia apresentação. e ela não tardou. era a sofia ribeiro, professora de história do marco. eu sabia que a conhecia de algum lado... dois beijinhos na face, perfume inebriante, pele imaculada, cabelos rebeldes a escorrerem-lhe pelo pescoço... confesso que fiquei um pouco nervoso. a minha postura foi a mesma do jorge oliveira antigo, não a do novo. as palavras não saíam como eu queria que elas saíssem, a eloquência parecia ter adormecido, o charme engasgou-se com o meu espontâneo regresso à timidez. felizmente, ela estava muito mais à vontade e, basicamente, falou pelos dois. o marco afastou-se para a secção dos cds e eu fiquei a falar com a sofia, que não se cansava de elogiar a sensacional recuperação do meu filho, sobretudo depois de mais uma contrariedade na sua vida, o divórcio dos pais. eu, nos pequenos lapsos de tempo em que não estava totalmente perdido nos seus olhos castanhos, fui capaz de balbuciar alguns sons de concordância. no sentido de "quebrar o gelo", especialmente o meu, que poderia ser facilmente confundido com o icebergue onde bateu o titanic, resolvi perguntar-lhe se já tinha tomado café. ela depois disse algo que eu nunca mais me esqueci, algo que resumia perfeitamente o género de mulher que era, com sentido de humor, cultura geral e simpatia q.b.: - "sim, já tomei café várias vezes. sei perfeitamente o que é". foi o perfeito "desbloqueador". eu soltei uma gargalhada, ela abriu um sorriso resplandecente, quase que de alívio pela minha reacção. ficou ali estabelecido o nosso primeiro sinal de cumplicidade.
work in progress
para todos aqueles, que devem ser, sem qualquer ponta de exagero, uns quatro, que seguem as desventuras de jorge oliveira, naquilo a que eu chamo de "livro amador", ou de "cobaia literária", fica a informação que os próximos capítulos não deverão tardar muito, assim a inspiração o permita, já que se trata de um "work in progress" que eu, de vez em quando, alimento, levando-lhe umas batatas fritas e o resto das refeições cá de casa. (mas que grande frase esta... caramba, se isto não é ser escritor, não sei o que possa ser...).
por isso, não desanimem, caros leitores. está calor, é verdade. apetece cometer suicídio de cinco em cinco minutos, também é verdade. o sporting continua sem contratar um jogador de jeito para a próxima época, é igualmente verdade. mas podem ficar, desde já, com esta certeza: a história vai continuar, para o bem ou para o mal. agora que comecei, também eu quero saber como é que tudo aquilo vai acabar. no final, sou bem capaz de acender a lareira com todas aquelas folhas a4, mas vai ficar, certamente, uma sensação de realização, pelo atingir de um objectivo, porque eu raramente consigo acender a lareira...
por isso, não desanimem, caros leitores. está calor, é verdade. apetece cometer suicídio de cinco em cinco minutos, também é verdade. o sporting continua sem contratar um jogador de jeito para a próxima época, é igualmente verdade. mas podem ficar, desde já, com esta certeza: a história vai continuar, para o bem ou para o mal. agora que comecei, também eu quero saber como é que tudo aquilo vai acabar. no final, sou bem capaz de acender a lareira com todas aquelas folhas a4, mas vai ficar, certamente, uma sensação de realização, pelo atingir de um objectivo, porque eu raramente consigo acender a lareira...
terça-feira, julho 22, 2008
emmy's 2008
foram anunciadas as nomeações para a 60ª edição dos emmy's, a ter lugar no dia 21 de setembro de 2008. aqui ficam as categorias mais importantes:
melhor actor em série cómica:
tony shalhoub - monk
steve carell - the office
lee pace - pushing daisies
alec baldwin - 30 rock
charlie sheen - two and a half men
melhor actor em série dramática:
james spader - boston legal
bryan cranston - breaking bad
michael c. hall - dexter
hugh laurie - house
gabriel byrne - in treatment
jon hamm - mad men
melhor actor em mini-série ou filme:
ralph fiennes - bernard and doris
ricky gervais - extras (special series finale)
paul giamatti - john adams
kevin spacey - recount
tom wilkinson - recount
melhor actriz em série cómica:
julia louis-dreyfus - the new adventures of old christine
christina applegate - samantha who?
tina fey - 30 rock
america ferrera - ugly betty
mary-louise parker - weeds
melhor actriz em série dramática:
sally field - brothers & sisters
kyra sedgwick - the closer
glenn close - damages
mariska hargitay - law & order
holly hunter - saving grace
melhor actriz em mini-série ou filme:
catherine keener - an american crime
susan sarandon - bernard and doris
judi dench - cranford (masterpiece)
laura linney - john adams
phylicia rashad - a raisin in the sun
melhor actor secundário em série cómica:
jeremy piven - entourage
kevin dillon - entourage
neil patrick harris - how i met your mother
rainn wilson - the office
jon cryer - two and a half men
melhor actor secundário em série dramática:
william shatner - boston legal
ted danson - damages
zeljko ivanek - damages
michael emerson - lost
john slattery - mad men
melhor actor secundário em mini-série ou filme:
david morse - john adams
stephen dillane - john adams
tom wilkinson - john adams
denis leary - recount
bob balaban - recount
melhor actriz secundária em série cómica:
kristin chenoweth - pushing daisies
jean smart - samantha who?
amy poehler - saturday night live
holland taylor - two and a half men
vanessa williams - ugly betty
melhor actriz secundária em série dramática:
candice bergen - boston legal
rachel griffiths - brothers & sisters
chandra wilson - grey's anatomy
sandra oh - grey's anatomy
dianne wiest - in treatment
melhor actriz secundária em mini-série ou filme:
eileen atkins - cranford (masterpiece)
ashley jensen - extras (special series finale)
alfre woodard - pictures of hollis woods
audra mc donald - a raisin in the sun
laura dern - recount
melhor actor convidado em série cómica:
shelley berman - curb your enthusiasm
rip torn - 30 rock
will arnett - 30 rock
steve buscemi - 30 rock
tim conway - 30 rock
melhor actor convidado em série dramática:
stanley tucci - e.r.
glynn turman - in treatment
robin williams - law & order
robert morse - mad men
oliver platt - nip/tuck
charles durning - rescue me
melhor actriz convidada em série cómica:
polly bergen - desperate housewives
kathryn joosten - desperate housewives
sarah silverman - monk
carrie fisher - 30 rock
edie falco - 30 rock
elaine stritch - 30 rock
melhor actriz convidada em série dramática:
ellen burstyn - big love
diahann carroll - grey's anatomy
cynthia nixon - law & order
anjelica huston - medium
sharon gless - nip/tuck
melhor performance individual em programa de variedades ou musical:
jon stewart - óscares 2008
stephen colbert - the colbert report
david letterman - late show with david letterman
don rickles - mr. warmth: the don rickles project
tina fey - saturday night live
melhor série cómica:
curb your enthusiasm
entourage
the office
30 rock
two and a half men
melhor série dramática:
boston legal
damages
dexter
house
lost
mad men
melhor mini-série:
the andromeda strain
cranford (masterpiece)
john adams
tin man
melhor filme feito para televisão:
bernard and doris
extras: the extra special series finale
the memory keeper’s daughter
a raisin in the sun
recount
melhor programa de variedades, musical ou cómico:
the colbert report
the daily show with jon stewart
late show with david letterman
real time with bill maher
saturday night live
melhor actor em série cómica:
tony shalhoub - monk
steve carell - the office
lee pace - pushing daisies
alec baldwin - 30 rock
charlie sheen - two and a half men
melhor actor em série dramática:
james spader - boston legal
bryan cranston - breaking bad
michael c. hall - dexter
hugh laurie - house
gabriel byrne - in treatment
jon hamm - mad men
melhor actor em mini-série ou filme:
ralph fiennes - bernard and doris
ricky gervais - extras (special series finale)
paul giamatti - john adams
kevin spacey - recount
tom wilkinson - recount
melhor actriz em série cómica:
julia louis-dreyfus - the new adventures of old christine
christina applegate - samantha who?
tina fey - 30 rock
america ferrera - ugly betty
mary-louise parker - weeds
melhor actriz em série dramática:
sally field - brothers & sisters
kyra sedgwick - the closer
glenn close - damages
mariska hargitay - law & order
holly hunter - saving grace
melhor actriz em mini-série ou filme:
catherine keener - an american crime
susan sarandon - bernard and doris
judi dench - cranford (masterpiece)
laura linney - john adams
phylicia rashad - a raisin in the sun
melhor actor secundário em série cómica:
jeremy piven - entourage
kevin dillon - entourage
neil patrick harris - how i met your mother
rainn wilson - the office
jon cryer - two and a half men
melhor actor secundário em série dramática:
william shatner - boston legal
ted danson - damages
zeljko ivanek - damages
michael emerson - lost
john slattery - mad men
melhor actor secundário em mini-série ou filme:
david morse - john adams
stephen dillane - john adams
tom wilkinson - john adams
denis leary - recount
bob balaban - recount
melhor actriz secundária em série cómica:
kristin chenoweth - pushing daisies
jean smart - samantha who?
amy poehler - saturday night live
holland taylor - two and a half men
vanessa williams - ugly betty
melhor actriz secundária em série dramática:
candice bergen - boston legal
rachel griffiths - brothers & sisters
chandra wilson - grey's anatomy
sandra oh - grey's anatomy
dianne wiest - in treatment
melhor actriz secundária em mini-série ou filme:
eileen atkins - cranford (masterpiece)
ashley jensen - extras (special series finale)
alfre woodard - pictures of hollis woods
audra mc donald - a raisin in the sun
laura dern - recount
melhor actor convidado em série cómica:
shelley berman - curb your enthusiasm
rip torn - 30 rock
will arnett - 30 rock
steve buscemi - 30 rock
tim conway - 30 rock
melhor actor convidado em série dramática:
stanley tucci - e.r.
glynn turman - in treatment
robin williams - law & order
robert morse - mad men
oliver platt - nip/tuck
charles durning - rescue me
melhor actriz convidada em série cómica:
polly bergen - desperate housewives
kathryn joosten - desperate housewives
sarah silverman - monk
carrie fisher - 30 rock
edie falco - 30 rock
elaine stritch - 30 rock
melhor actriz convidada em série dramática:
ellen burstyn - big love
diahann carroll - grey's anatomy
cynthia nixon - law & order
anjelica huston - medium
sharon gless - nip/tuck
melhor performance individual em programa de variedades ou musical:
jon stewart - óscares 2008
stephen colbert - the colbert report
david letterman - late show with david letterman
don rickles - mr. warmth: the don rickles project
tina fey - saturday night live
melhor série cómica:
curb your enthusiasm
entourage
the office
30 rock
two and a half men
melhor série dramática:
boston legal
damages
dexter
house
lost
mad men
melhor mini-série:
the andromeda strain
cranford (masterpiece)
john adams
tin man
melhor filme feito para televisão:
bernard and doris
extras: the extra special series finale
the memory keeper’s daughter
a raisin in the sun
recount
melhor programa de variedades, musical ou cómico:
the colbert report
the daily show with jon stewart
late show with david letterman
real time with bill maher
saturday night live
domingo, julho 20, 2008
visitas ao "dealer" (fnac)
o primeiro concerto da mariana
tondela, 17 de julho de 2008.
rita redshoes no tom de festa, no teatro acert.
apesar de algo ensonada durante o concerto (as últimas quatro músicas já as ouviu de chupeta na boca), a mariana, no dia seguinte, perguntou se podíamos ir outra vez à festa... sinal de que gostou, tal como os pais. a cantora, de 27 anos, impressiona e desarma qualquer público mais desconfiado com a sua sinceridade, como quando relatou a sua última visita ao hospital, dias antes, e como descobriu que tinha uma "vértebra estranha" e menos uma costela... eu e ela temos algo em comum: o facto de agrafar sempre uma música a qualquer momento da sua vida. nesse dia, o da visita ao hospital, ela lembrou-se da música dos chic, "le freak". risada geral na plateia. a sua locomoção durante o concerto motivou sempre algumas risadas no público, bem como alguns "piropos". a paula chegou mesmo a sugerir que ela tirasse os seus famosos sapatos vermelhos, com um salto bem alto, por sinal, no sentido de atenuar as dores nas costas, que quase lhe cancelaram o concerto. mas ela acabou por vir e ainda bem. cantou todas as músicas do seu único disco, "golden era", com direito a repetição do single "dream on girl" no encore, e mais duas versões: "lonesome town", de ricky nelson, e "you only live twice", de nancy sinatra. o momento alto do concerto, para mim, foi a interpretação da música "minimal sounds", num registo muito próximo de uns portishead. a "beth orton" portuguesa excedeu as minhas expectativas. confesso que não estava à espera de tanto. o concerto, esse, ficará para sempre como o primeiro concerto da mariana. e só isso é inesquecível...
quarta-feira, julho 16, 2008
"this guy's in love with you"
"this guy's in love with you", original de herb alpert, com letras de burt bacharach, cantado aqui pela magistral voz de mike patton, num dos últimos concertos dos faith no more. esta música acabou por fazer parte do disco duplo de despedida da banda, intitulado "who cares a lot?".
evidence - faith no more
mike patton, nos bons velhos tempos dos faith no more, uma das bandas mais subvalorizadas das últimas décadas. a música chama-se "evidence" e pertence ao disco "king for a day, fool for a lifetime". digam lá se há alguém com mais "pinta" do que mike patton neste teledisco?
mondo cane
o novo projecto musical do "camaleónico" mike patton, antigo vocalista de bandas como faith no more, mr bungle, tomahawk, fantômas e peeping tom, chama-se mondo cane, que reúne uma curiosa colecção de versões de músicas italianas das décadas de 50, 60 e 70. confesso que nunca me passaria pela cabeça ouvir a espantosa voz de patton a recriar clássicos italianos, mas o carismático cantor consegue surpreender-nos sempre. desta vez veste a pele de um frank sinatra italiano, de fato elegante e gel no cabelo, acompanhado por uma orquestra. o resultado é, no mínimo, surpreendente. as músicas que coloco hoje no blogue chamam-se "ore d'amore", um original de fred bongusto, de 1967, e "quello che conta", dos compositores luciano salce e ennio morricone, de 1962. este ano, 1962, também foi o ano de estreia do documentário "mondo cane", de paolo cavara e gualtiero jacopetti, uma visão chocante da condição humana na sua mais depravada e perversa forma, com imagens de bizarros rituais, comportamento cruel e violência animal. o documentário recebeu uma nomeação, em 1964, para os óscares, na categoria de "melhor música original", e foi igualmente nomeado nesse ano para "melhor banda sonora original" nos grammy's.
quem sabe se mike patton não centrará um dia a sua atenção em portugal? é que não me custa nada imaginá-lo a cantar carlos do carmo e tony de matos... mesmo nada...
terça-feira, julho 15, 2008
coldplay
como os rapazes cresceram... o quarto disco de originais dos coldplay, "viva la vida or death and all his friends", não tem quase nada a ver com o resto da discografia da banda. já houve quem dissesse que este é o "ok computer" dos coldplay, um corte arriscado, mas bem sucedido, com o passado recente do quarteto britânico. nos anteriores três discos, "parachutes" (2000), "a rush of blood to the head" (2002) e "x&y" (2005), as músicas ouviam-se uma ou duas vezes e ficavam imediatamente no ouvido, com as naturais desvantagens em termos de desgaste rápido do próprio disco, que se consumia rapidamente, tal o entusiasmo que provocava no início. com "viva la vida" acontece o oposto. ouve-se uma vez e parece que não fica nada na cabeça. ouve-se outra e outra e... nada, nem se conseguem distinguir as músicas. até que o disco "bate" mesmo e começa a fazer sentido. para quem, como eu, gosta dos coldplay desde o início da carreira este era o disco que se exigia. mais do mesmo seria fastidioso. a própria banda entendeu isso, escolhendo produtores consagrados para este disco, provenientes de diferentes registos musicais (brian eno e markus dravs, habituados a trabalhar com bandas como os u2, arcade fire e bjork). não admira, portanto, que a sonoridade seja bastante ecléctica, misturando world music com referências sonoras próximas de uns beatles ou até mesmo de uns... cocteau twins. é uma verdadeira amálgama sonora, que resulta na perfeição. acabaram-se os solos de piano de chris martin, as baladas a puxar ao isqueirinho nos concertos, os óbvios singles para passar na rádio. eles cresceram. amadureceram. e "viva la vida" é a prova definitiva de que o quarteto de londres ainda não se esgotou criativamente. aliás, parece que agora é que estão, na realidade, a começar.
capítulo VI
capítulo VI
o verão aproximava-se. os dias quentes tinham-se instalado, esticando o dia, aumentando a vontade de sair à rua, de apreciar uma esplanada, com uma gelada cerveja na mão, chinelos nos pés, calções e t'shirt. estar em casa ou no trabalho era uma camisa de forças. o mundo parecia sorrir lá fora, com a habitual agitação urbana transformada em melodias harmoniosas, em ambientes coloridos pelo sol durante o dia, que embelezava mesmo os mais lúgubres recantos de lisboa, e iluminados pela lua de noite, fazendo pulsar as suas artérias mais solitárias. mal acabávamos de jantar, geralmente algo que coubesse no microondas e estivesse ao alcance no congelador, eu e o andré escapávamos para a rua. eu sentia-me um adolescente, a viver as mesmas sensações do meu filho quando o deixávamos sair à noite com os amigos. a convivência diária com o andré tinha alterado muito do meu comportamento social. era inevitável. ele era um especialista na matéria. em termos de bares, cafés, restaurantes e tascas, era muito raro o sítio onde ele não conhecesse alguém. em parte, começava finalmente a sentir-me novamente amparado, a caminhar com o profundo conhecimento de que haveria sempre duas sombras na minha silhueta, fazendo com que os meus níveis de auto-estima começassem a subir. comecei então a sentir que não poderia defraudar a pessoa que me colocou naquele estado, que me tinha aberto todos aqueles horizontes. a forma que eu arranjei de o fazer foi "embarcar" nas suas aventuras, não recusando nada pelo caminho. tinha 40 anos e sentia que ainda não tinha vivido a vida em toda a sua plenitude e, olhando para a vida do andré, era impossível não deixar de sentir alguma inveja. aquilo que no princípio renunciava, quando fui morar com ele, "batia" forte agora como uma premente necessidade.
o meu primeiro grande teste foi numa festa particular em casa de um casal amigo do andré, a paula e o césar cardoso, ele industrial automóvel e ela decoradora de interiores, ambos na casa dos cinquenta anos. a casa era enorme, com vastos relvados, jardins e piscina. mal olhei para ela comecei imediatamente a sentir-me mal vestido. fomos recebidos pelos donos da casa, que cumprimentamos com requintada cortesia, porque o ambiente exigia algum decoro e um comportamento imaculado. rapidamente deixou de se ver o bem tratado relvado da casa, à medida que os restantes convidados iam chegando. césar cardoso sabia receber, agia como um profissional nas suas deambulações pelos vários nichos de gente, cumprimentando, trocando meia dúzia de palavras simpáticas e perguntando sempre se era preciso alguma coisa. facilmente se compreendia nas suas acções o sucesso da sua carreira profissional. a sua esposa era mais comedida, chegando a dar alguns ares de arrogância. foi sempre muito fácil localizá-la durante a noite, constantemente acompanhada por duas amigas numa mesa à beira da piscina.
a noite avançava, assim como o número de copos vazios. a música ia ficando cada vez mais alta nos meus ouvidos. o champanhe escorria desalmadamente pela minha garganta, fazendo aumentar consideravelmente a qualidade da banda. senti então uma vontade incrível de dançar. a banda convidava. parecia mal não aceitar. o andré ainda não tinha tentado o seu habitual truque "eu tenho duas, ficas tu com uma; a mais feia de preferência". desta vez até queria que o fizesse, mas nem sequer o estava a ver. enquanto o procurava, vi o anfitrião encaminhar-se para a garagem com um grupo de pessoas. talvez para mostrar algum carro, porque um bom profissional nunca descansa. o andré já me tinha avisado que ele era assim, viciado no trabalho. por isso tinha tudo aquilo que eu estava a ver, incluindo a paula, sua mulher. ela lá continuava à beira da piscina. aproximei-me lentamente. se eu queria mudar mesmo, teria que começar pelos testes mais difíceis. afinal tinha estado grande parte da noite a olhar para ela. por isso sabia sempre onde ela estava. e o reflexo da água da piscina iluminada na sua cara atribuía-lhe um ar angelical, com olhos meigos e solitários. interrompi educadamente a conversa e convidei-a para dançar. as amigas olharam-me de alto a baixo, com um evidente ar de espanto e indignação. a paula gentilmente recusou o meu pedido, não conseguindo, todavia, deixar transparecer alguma satisfação pelo convite. não querendo parecer mal educado, convidei igualmente as suas amigas de mesa, recebendo a mesma resposta. procurando a melhor saída possível para o meu evidente embaraço, perguntei onde eram as casas de banho. foi a única pergunta que me ocorreu, talvez motivada pelo constante empertigamento da minha bexiga. depois das indicações, afastei-me, roubando mais um copo de champanhe de uma bandeja qualquer. já dentro de casa, errei a porta da casa de banho e dou de caras com o andré, num quarto, aos beijos com uma loura qualquer. nem me viram. fechei a porta devagarinho e, ao virar-me, dou de caras com a paula. tirou-me o copo da mão e disse que me ia indicar onde era a casa de banho. bebeu um pouco de champanhe e seguiu à minha frente, bem devagarinho, soltando os cabelos. o seu corpo ainda virava a cabeça a muitos homens, isso era óbvio. quando vi que tínhamos realmente entrado na casa de banho, não deixei de sentir algum desapontamento, com receio que as suas intenções fossem apenas as de me indicar, mesmo, a casa de banho. mas não eram. fechou a porta à chave, levantou a saia e tirou meticulosamente as suas cuecas. no meu interior, o medo de ser apanhado com a mulher do dono de casa e a excitação de fazer amor depois de tanto tempo travavam uma intensa luta. a fogosidade da paula, a porta trancada, o efeito do champanhe e a minha erecção fizeram a balança pender nitidamente para a excitação. fizemos amor em pé, contra a parede, tentando fazer o menor barulho possível. a intensidade foi tanto maior em virtude do perigo que corríamos de ser apanhados. uniu-nos uma enorme cumplicidade, aliada a uma tremenda sede de afectos e a uma evidente atracção física. no final, depois de nos recompormos, ela saiu primeiro, não sem antes me ter dito que teríamos que repetir um dia.
quando voltei a encontrar o andré, ele estava com duas mulheres... tarde demais.
o verão aproximava-se. os dias quentes tinham-se instalado, esticando o dia, aumentando a vontade de sair à rua, de apreciar uma esplanada, com uma gelada cerveja na mão, chinelos nos pés, calções e t'shirt. estar em casa ou no trabalho era uma camisa de forças. o mundo parecia sorrir lá fora, com a habitual agitação urbana transformada em melodias harmoniosas, em ambientes coloridos pelo sol durante o dia, que embelezava mesmo os mais lúgubres recantos de lisboa, e iluminados pela lua de noite, fazendo pulsar as suas artérias mais solitárias. mal acabávamos de jantar, geralmente algo que coubesse no microondas e estivesse ao alcance no congelador, eu e o andré escapávamos para a rua. eu sentia-me um adolescente, a viver as mesmas sensações do meu filho quando o deixávamos sair à noite com os amigos. a convivência diária com o andré tinha alterado muito do meu comportamento social. era inevitável. ele era um especialista na matéria. em termos de bares, cafés, restaurantes e tascas, era muito raro o sítio onde ele não conhecesse alguém. em parte, começava finalmente a sentir-me novamente amparado, a caminhar com o profundo conhecimento de que haveria sempre duas sombras na minha silhueta, fazendo com que os meus níveis de auto-estima começassem a subir. comecei então a sentir que não poderia defraudar a pessoa que me colocou naquele estado, que me tinha aberto todos aqueles horizontes. a forma que eu arranjei de o fazer foi "embarcar" nas suas aventuras, não recusando nada pelo caminho. tinha 40 anos e sentia que ainda não tinha vivido a vida em toda a sua plenitude e, olhando para a vida do andré, era impossível não deixar de sentir alguma inveja. aquilo que no princípio renunciava, quando fui morar com ele, "batia" forte agora como uma premente necessidade.
o meu primeiro grande teste foi numa festa particular em casa de um casal amigo do andré, a paula e o césar cardoso, ele industrial automóvel e ela decoradora de interiores, ambos na casa dos cinquenta anos. a casa era enorme, com vastos relvados, jardins e piscina. mal olhei para ela comecei imediatamente a sentir-me mal vestido. fomos recebidos pelos donos da casa, que cumprimentamos com requintada cortesia, porque o ambiente exigia algum decoro e um comportamento imaculado. rapidamente deixou de se ver o bem tratado relvado da casa, à medida que os restantes convidados iam chegando. césar cardoso sabia receber, agia como um profissional nas suas deambulações pelos vários nichos de gente, cumprimentando, trocando meia dúzia de palavras simpáticas e perguntando sempre se era preciso alguma coisa. facilmente se compreendia nas suas acções o sucesso da sua carreira profissional. a sua esposa era mais comedida, chegando a dar alguns ares de arrogância. foi sempre muito fácil localizá-la durante a noite, constantemente acompanhada por duas amigas numa mesa à beira da piscina.
a noite avançava, assim como o número de copos vazios. a música ia ficando cada vez mais alta nos meus ouvidos. o champanhe escorria desalmadamente pela minha garganta, fazendo aumentar consideravelmente a qualidade da banda. senti então uma vontade incrível de dançar. a banda convidava. parecia mal não aceitar. o andré ainda não tinha tentado o seu habitual truque "eu tenho duas, ficas tu com uma; a mais feia de preferência". desta vez até queria que o fizesse, mas nem sequer o estava a ver. enquanto o procurava, vi o anfitrião encaminhar-se para a garagem com um grupo de pessoas. talvez para mostrar algum carro, porque um bom profissional nunca descansa. o andré já me tinha avisado que ele era assim, viciado no trabalho. por isso tinha tudo aquilo que eu estava a ver, incluindo a paula, sua mulher. ela lá continuava à beira da piscina. aproximei-me lentamente. se eu queria mudar mesmo, teria que começar pelos testes mais difíceis. afinal tinha estado grande parte da noite a olhar para ela. por isso sabia sempre onde ela estava. e o reflexo da água da piscina iluminada na sua cara atribuía-lhe um ar angelical, com olhos meigos e solitários. interrompi educadamente a conversa e convidei-a para dançar. as amigas olharam-me de alto a baixo, com um evidente ar de espanto e indignação. a paula gentilmente recusou o meu pedido, não conseguindo, todavia, deixar transparecer alguma satisfação pelo convite. não querendo parecer mal educado, convidei igualmente as suas amigas de mesa, recebendo a mesma resposta. procurando a melhor saída possível para o meu evidente embaraço, perguntei onde eram as casas de banho. foi a única pergunta que me ocorreu, talvez motivada pelo constante empertigamento da minha bexiga. depois das indicações, afastei-me, roubando mais um copo de champanhe de uma bandeja qualquer. já dentro de casa, errei a porta da casa de banho e dou de caras com o andré, num quarto, aos beijos com uma loura qualquer. nem me viram. fechei a porta devagarinho e, ao virar-me, dou de caras com a paula. tirou-me o copo da mão e disse que me ia indicar onde era a casa de banho. bebeu um pouco de champanhe e seguiu à minha frente, bem devagarinho, soltando os cabelos. o seu corpo ainda virava a cabeça a muitos homens, isso era óbvio. quando vi que tínhamos realmente entrado na casa de banho, não deixei de sentir algum desapontamento, com receio que as suas intenções fossem apenas as de me indicar, mesmo, a casa de banho. mas não eram. fechou a porta à chave, levantou a saia e tirou meticulosamente as suas cuecas. no meu interior, o medo de ser apanhado com a mulher do dono de casa e a excitação de fazer amor depois de tanto tempo travavam uma intensa luta. a fogosidade da paula, a porta trancada, o efeito do champanhe e a minha erecção fizeram a balança pender nitidamente para a excitação. fizemos amor em pé, contra a parede, tentando fazer o menor barulho possível. a intensidade foi tanto maior em virtude do perigo que corríamos de ser apanhados. uniu-nos uma enorme cumplicidade, aliada a uma tremenda sede de afectos e a uma evidente atracção física. no final, depois de nos recompormos, ela saiu primeiro, não sem antes me ter dito que teríamos que repetir um dia.
quando voltei a encontrar o andré, ele estava com duas mulheres... tarde demais.
sexta-feira, julho 11, 2008
capítulo V
capítulo V
passaram-se três meses depois da minha saída de casa. continuava em lisboa mas a minha vontade era sair dali. estava a viver em casa do andré, meu colega da repartição. solteiro, 34 anos, o andré era um "bon vivant", uma pessoa que apreciava e perseguia os prazeres da vida, sem dar "cavaco" a ninguém. no trabalho era educado, calmo e ponderado; fora desse ambiente soltava-se completamente e procurava sempre divertir-se ao máximo. não se tratava de um caso de dupla personalidade, mas sim de uma pessoa que sabia perfeitamente separar a vida profissional da vida particular. a minha chegada a casa dele, naquela que seria inicialmente uma breve fase de transição, não alterou em nada o seu modo de viver. apesar de ter um vasto grupo de amigos, passou a ter em mim um parceiro para as saídas nocturnas, para os copos, para as farras e, sobretudo, um "designated driver". o álcool nunca me fascinou muito. via-o sempre como um meio de transporte de um ponto a), um estado normal e racional, para um ponto b), um estado anormal e irracional. nas primeiras saídas nocturnas nunca me conseguia entrosar nos ambientes, em qualquer um deles. e o andré bem tentou diversificar os mesmos. casinos, discotecas, casas particulares, festas na praia, etc.. em todos me sentia deslocado. obviamente, como não apologista das bebidas alcoólicas, o meu estado de espírito ao longo dessas noites era sempre igual. assistia à lenta metamorfose do andré, bebida a bebida, até conseguir chegar ao "ponto g", como ele referia. nessa altura, parava de beber e, simplesmente, deixava o corpo seguir o seu destino. perdi a conta aos "engates" que ele desperdiçou por minha causa. não lhe era muito difícil virar a cabeça a uma mulher. era alto, bem constituído, moreno, cabelo curto e fazia sempre questão de se vestir bem, não descurando pormenor nenhum no seu aspecto. por vezes conseguia ver o "telejornal" inteiro enquanto esperava que ele se arranjasse. quando vinha ter comigo com duas mulheres eu sabia perfeitamente qual era a ideia. invariavelmente, aquela que me estava destinada era sempre substancialmente menos atraente do que a dele. meia dúzia de palavras depois, às vezes nem tanto, vinha o habitual "torcer de nariz", seguido de um ligeiro sussurro ao ouvido da amiga e a consequente explicação para um afastamento. eu não me importava. era evidente que a minha personalidade não se encaixava ali, nem eu tinha alguma predisposição para a moldar àqueles ambientes. limitava-me a observar, noite após noite, a estudar os movimentos, os "joguinhos" de sedução, os truques. nesse aspecto, aprendi muito com o andré, ele sentia-se sempre como peixe na água, seduzia as empregadas com o seu estilo extrovertido e brincalhão. até as piadas menos trabalhadas e nitidamente saloias, quando estava menos inspirado, recebiam rasgados sorrisos, seguidos da famosa passagem das mãos pelos cabelos e leve inclinar da cabeça. para alguém como eu, que sempre tive uma vida pacata e familiar, sem devaneios nocturnos durante largos anos, todo aquele cenário pertencia a um outro mundo alternativo. era tudo novo para mim. lentamente fui aprendendo a "jogar". até me tornar muito bom também...
(continua)
passaram-se três meses depois da minha saída de casa. continuava em lisboa mas a minha vontade era sair dali. estava a viver em casa do andré, meu colega da repartição. solteiro, 34 anos, o andré era um "bon vivant", uma pessoa que apreciava e perseguia os prazeres da vida, sem dar "cavaco" a ninguém. no trabalho era educado, calmo e ponderado; fora desse ambiente soltava-se completamente e procurava sempre divertir-se ao máximo. não se tratava de um caso de dupla personalidade, mas sim de uma pessoa que sabia perfeitamente separar a vida profissional da vida particular. a minha chegada a casa dele, naquela que seria inicialmente uma breve fase de transição, não alterou em nada o seu modo de viver. apesar de ter um vasto grupo de amigos, passou a ter em mim um parceiro para as saídas nocturnas, para os copos, para as farras e, sobretudo, um "designated driver". o álcool nunca me fascinou muito. via-o sempre como um meio de transporte de um ponto a), um estado normal e racional, para um ponto b), um estado anormal e irracional. nas primeiras saídas nocturnas nunca me conseguia entrosar nos ambientes, em qualquer um deles. e o andré bem tentou diversificar os mesmos. casinos, discotecas, casas particulares, festas na praia, etc.. em todos me sentia deslocado. obviamente, como não apologista das bebidas alcoólicas, o meu estado de espírito ao longo dessas noites era sempre igual. assistia à lenta metamorfose do andré, bebida a bebida, até conseguir chegar ao "ponto g", como ele referia. nessa altura, parava de beber e, simplesmente, deixava o corpo seguir o seu destino. perdi a conta aos "engates" que ele desperdiçou por minha causa. não lhe era muito difícil virar a cabeça a uma mulher. era alto, bem constituído, moreno, cabelo curto e fazia sempre questão de se vestir bem, não descurando pormenor nenhum no seu aspecto. por vezes conseguia ver o "telejornal" inteiro enquanto esperava que ele se arranjasse. quando vinha ter comigo com duas mulheres eu sabia perfeitamente qual era a ideia. invariavelmente, aquela que me estava destinada era sempre substancialmente menos atraente do que a dele. meia dúzia de palavras depois, às vezes nem tanto, vinha o habitual "torcer de nariz", seguido de um ligeiro sussurro ao ouvido da amiga e a consequente explicação para um afastamento. eu não me importava. era evidente que a minha personalidade não se encaixava ali, nem eu tinha alguma predisposição para a moldar àqueles ambientes. limitava-me a observar, noite após noite, a estudar os movimentos, os "joguinhos" de sedução, os truques. nesse aspecto, aprendi muito com o andré, ele sentia-se sempre como peixe na água, seduzia as empregadas com o seu estilo extrovertido e brincalhão. até as piadas menos trabalhadas e nitidamente saloias, quando estava menos inspirado, recebiam rasgados sorrisos, seguidos da famosa passagem das mãos pelos cabelos e leve inclinar da cabeça. para alguém como eu, que sempre tive uma vida pacata e familiar, sem devaneios nocturnos durante largos anos, todo aquele cenário pertencia a um outro mundo alternativo. era tudo novo para mim. lentamente fui aprendendo a "jogar". até me tornar muito bom também...
(continua)
quarta-feira, julho 09, 2008
to wish impossible things - the cure
to wish impossible things
Remember how it used to be
When the sun would fill the sky
Remember how we used to feel
Those days would never end
Those days would never end
Remember how it used to be
When the stars would fill the sky
Remember how we used to dream
Those nights would never end
Those nights would never end
It was the sweetness of your skin
It was the hope of all we might have been
That filled me with the hope to wish
Impossible things
To wish impossible things
But now the sun shines cold
And all the sky is grey
The stars are dimmed by clouds and tears
And all I wish
Is gone away
All I wish
Is gone away
All I wish
Is gone away
compilação musical de junho
e ao sexto mês... eu descansei. é verdade, não ouvi nada de novo em junho, apenas visitei os meus arquivos musicais, recordando músicas marcantes e entrando novamente em contacto com a minha vincada nostalgia. para julho tenho já em carteira alguns discos, como os coldplay, sigur rós, spiritualized, hercules & love affair, etc.. a compilação de junho é quase como que um "resumo da matéria dada", em que os sons me transportam para os primeiros tempos deste blogue e para toda a montanha russa de emoções vividas. ei-la:
1. the same deep water as you - the cure
2. a jealous heart is a heavy heart - damien jurado
3. ballad of sister sue - slowdive
4. man is the baby - antony and the johnsons
5. salty seas - devics
6. to wish impossible things - the cure
7. darkest dreaming - david sylvian
8. over the hillside - the blue nile
9. true - the frames
10. steam engine - my morning jacket
11. transatlanticism - death cab for cutie
12. bleed a river deep - ed harcourt
13- trust - the cure
1. the same deep water as you - the cure
2. a jealous heart is a heavy heart - damien jurado
3. ballad of sister sue - slowdive
4. man is the baby - antony and the johnsons
5. salty seas - devics
6. to wish impossible things - the cure
7. darkest dreaming - david sylvian
8. over the hillside - the blue nile
9. true - the frames
10. steam engine - my morning jacket
11. transatlanticism - death cab for cutie
12. bleed a river deep - ed harcourt
13- trust - the cure
capítulo IV
capítulo IV
encarei o fim do meu casamento de 16 anos com a sónia de uma forma natural. há muito que procurávamos caminhos opostos e tínhamos ambições distintas. apenas nos limitávamos a partilhar a mesma casa nos últimos tempos, incapazes sequer de um beijo na face quando ela saía de casa ou chegava do emprego. enquanto fazia as minhas malas, tentei lembrar-me da última vez que tínhamos feito amor. a única data que me veio à cabeça foi a do dia de aniversário do marco, em outubro, há muitos meses atrás. depois da festa lá em casa, ele saiu com os amigos e eu e a sónia ficamos sozinhos em casa. eu estava bem disposto, bem bebido; ela não sabia por onde começar a arrumar a mesa e a sala, que estava de pantanas devido à "passagem" de um grupo de dezena e meia de adolescentes famintos, todos eles munidos do inseparável telemóvel. aliás, até creio que eles comunicaram uns com os outros por esse meio, tal a avidez com que manuseavam o aparelho. quando se partiu o bolo, depois dos parabéns, estava mesmo à espera que o marco mandasse sms's aos amigos a perguntar se queriam bolo. enfim... juventude! no meu tempo havia o cubo mágico, o walkman, os headphones. mudam-se os tempos, mudam-se as distrações juvenis. mas, apesar de tudo, acho que nunca andei vestido com umas calças pelas virilhas e com as cuecas a verem-se. nessa noite, quem estava impecavelmente vestida era a sónia. de vestido preto, pelos joelhos, e com um acentuado decote, por onde espreitavam parte dos seus vistosos seios. nessa noite desejei-a com intensidade e não descansei enquanto não a possuí. fizemos amor na cozinha, em pé. lembro-me que, durante o acto, me veio à cabeça a cena do filme "basic instinct", em que o michael douglas e a jeanne tripplehorn se envolvem da mesma forma. no filme, eles acabam nas costas de um sofá. na minha cozinha, acabamos na mesa. mas quer-me parecer que nós prolongamos mais a "cena" do que o par cinematográfico (também não era difícil, no filme a cena demora uns 40 segundos). foi bom, foi mesmo muito bom. por isso é que custa tanto a perceber por que motivo não o fazíamos mais vezes. creio que esse orgasmo na cozinha foi mesmo a última coisa que fizemos juntos.
a questão da custódia do marco era um assunto praticamente resolvido à partida. como iria discutir isso com uma mãe advogada? concordamos que seria melhor ele ficar. o acordo com a sónia foi colocarmos o apartamento à venda e depois dividirmos o dinheiro. assim como eu ficar com o marco aos fins de semana, de quinze em quinze dias. por isso, quando saí de casa, num quente dia de março, fiquei com a sensação de que estava a partir para umas férias sozinho, na medida em que sabia perfeitamente que ainda ia ver a sónia muito mais vezes. o marco deu-me um forte abraço e, quando encostou a cabeça no meu ombro, disse-me algo baixinho que eu nunca mais esqueci: "eu vou estudar mais, prometo".
quando entrei no táxi, comecei a chorar desalmadamente. lembro-me que, na rádio, passava o "purple rain", do prince. e como eu desejava que estivesse a chover, que as nuvens cobrissem o céu e tapassem o sol. esse sol que me feria, que contrastava seriamente com as trevas no meu interior, com os negros abismos da minha alma. sim, a verdade é que eu era, naquele momento, um homem livre, com carta branca para começar de novo, para um "reset" a todos os níveis; mas a minha sombra no pavimento continuava a ser a de um frágil miúdo assustado.
(continua)
encarei o fim do meu casamento de 16 anos com a sónia de uma forma natural. há muito que procurávamos caminhos opostos e tínhamos ambições distintas. apenas nos limitávamos a partilhar a mesma casa nos últimos tempos, incapazes sequer de um beijo na face quando ela saía de casa ou chegava do emprego. enquanto fazia as minhas malas, tentei lembrar-me da última vez que tínhamos feito amor. a única data que me veio à cabeça foi a do dia de aniversário do marco, em outubro, há muitos meses atrás. depois da festa lá em casa, ele saiu com os amigos e eu e a sónia ficamos sozinhos em casa. eu estava bem disposto, bem bebido; ela não sabia por onde começar a arrumar a mesa e a sala, que estava de pantanas devido à "passagem" de um grupo de dezena e meia de adolescentes famintos, todos eles munidos do inseparável telemóvel. aliás, até creio que eles comunicaram uns com os outros por esse meio, tal a avidez com que manuseavam o aparelho. quando se partiu o bolo, depois dos parabéns, estava mesmo à espera que o marco mandasse sms's aos amigos a perguntar se queriam bolo. enfim... juventude! no meu tempo havia o cubo mágico, o walkman, os headphones. mudam-se os tempos, mudam-se as distrações juvenis. mas, apesar de tudo, acho que nunca andei vestido com umas calças pelas virilhas e com as cuecas a verem-se. nessa noite, quem estava impecavelmente vestida era a sónia. de vestido preto, pelos joelhos, e com um acentuado decote, por onde espreitavam parte dos seus vistosos seios. nessa noite desejei-a com intensidade e não descansei enquanto não a possuí. fizemos amor na cozinha, em pé. lembro-me que, durante o acto, me veio à cabeça a cena do filme "basic instinct", em que o michael douglas e a jeanne tripplehorn se envolvem da mesma forma. no filme, eles acabam nas costas de um sofá. na minha cozinha, acabamos na mesa. mas quer-me parecer que nós prolongamos mais a "cena" do que o par cinematográfico (também não era difícil, no filme a cena demora uns 40 segundos). foi bom, foi mesmo muito bom. por isso é que custa tanto a perceber por que motivo não o fazíamos mais vezes. creio que esse orgasmo na cozinha foi mesmo a última coisa que fizemos juntos.
a questão da custódia do marco era um assunto praticamente resolvido à partida. como iria discutir isso com uma mãe advogada? concordamos que seria melhor ele ficar. o acordo com a sónia foi colocarmos o apartamento à venda e depois dividirmos o dinheiro. assim como eu ficar com o marco aos fins de semana, de quinze em quinze dias. por isso, quando saí de casa, num quente dia de março, fiquei com a sensação de que estava a partir para umas férias sozinho, na medida em que sabia perfeitamente que ainda ia ver a sónia muito mais vezes. o marco deu-me um forte abraço e, quando encostou a cabeça no meu ombro, disse-me algo baixinho que eu nunca mais esqueci: "eu vou estudar mais, prometo".
quando entrei no táxi, comecei a chorar desalmadamente. lembro-me que, na rádio, passava o "purple rain", do prince. e como eu desejava que estivesse a chover, que as nuvens cobrissem o céu e tapassem o sol. esse sol que me feria, que contrastava seriamente com as trevas no meu interior, com os negros abismos da minha alma. sim, a verdade é que eu era, naquele momento, um homem livre, com carta branca para começar de novo, para um "reset" a todos os níveis; mas a minha sombra no pavimento continuava a ser a de um frágil miúdo assustado.
(continua)
segunda-feira, julho 07, 2008
capítulo III
capítulo III
foram penosos os primeiros meses. recusava-me a sair de uma confortável, mas compreendida, depressão. ela serviu-me de camuflagem para muitas coisas que eu não queria fazer. as tais coisas que antigamente pedia ao meu pai para resolver. de certa forma, estava a negar-me a aceitar as responsabilidades inerentes ao meu papel de chefe de família, pai de um filho menor, agora que acima de mim não tinha mais ninguém. desamparado de mãe e pai, os holofotes apontavam agora para mim. era eu que tinha, agora, de resolver os problemas dos outros. mas como, se eu nem os meus conseguia resolver? nunca soube.
o ambiente degradava-se de dia para dia em minha casa. era raro o dia em que não havia discussões. as contas avolumavam-se, muito por causa de ter ficado três meses de baixa psicológica, as notas do marco pioraram, a sónia acudia a vários fogos mas era incapaz de lidar com tudo isto. ainda por cima era a única que trabalhava por esta altura. eu vegetava por casa, comendo tostas mistas ao almoço, jogando playstation e vendo má televisão. não abria a porta a ninguém, não atendia o telefone nem o telemóvel. estive completamente isolado do mundo durante três meses. a minha única tarefa diária era ir buscar o marco ao liceu, às 17h30. numa dessas situações, enquanto esperava no carro pelo meu filho, fui interpelado por uma muher, que aparentava ter trinta e poucos anos de idade, de calças de ganga justas e top preto. tinha longos cabelos pretos e uns olhos esverdeados. obviamente, quando a vi aproximar-se do meu carro, tentei recompor-me o melhor possível. a minha grande dúvida, no momento, foi se mantinha ou não os óculos de sol. não queria que ela visse as minhas olheiras mas, por outro lado, sempre considerei uma grande falta de educação falar com alguém que não tira os óculos escuros para falar comigo. por isso tirei-os. no preciso momento em que ela ia começar a falar. não pude deixar de notar um ligeiro esgar de desconforto e alguma repugnância perante o que se lhe apresentava diante dos olhos.
- boa tarde, o senhor é o pai do marco, não é?
- sou sim - afirmei, tentando dizer o menor número de palavras possível, não fosse ela reparar, igualmente, no meu terrível mau hálito. onde é que há um cigarro quando um tipo precisa de um?
- eu sou a professora de história do seu filho. chamo-me sofia ribeiro. soube pelos colegas do marco que o avô tinha morrido. os meus sentimentos.
- obrigado.
- ele foi-se um pouco abaixo, como deve saber. pelo que os outros professores dele me contam, também aconteceu o mesmo nas outras disciplinas. por isso, estou um pouco preocupada com ele, que sempre foi um aluno exemplar. na altura do falecimento ele não teve nenhum acompanhamento psicológico?
- não, não teve. sofreu muito, é verdade. ele gostava muito do avô artur.
- já andava há uns tempos para falar consigo ou com a sua mulher, porque eu considero que ele devia ser acompanhado psicologicamente. é uma pena ele desperdiçar a inteligência que tem desta forma. vem aí o terceiro período e ele precisa de subir as notas para não perder o ano.
- sim, tem que ser. tem que ser. - confesso que não me lembrava de nada minimamente inteligente para dizer. já não me lembrava da última vez que tinha falado com alguém. talvez tenha sido no funeral.
- eu vou deixar-lhe um cartão da escola, com o número do gabinete de acompanhamento psicológico, para a eventualidade de o senhor e a sua esposa decidirem aceitar esta minha proposta.
- sim, muito obrigado. logo ao jantar discutirei o assunto com a minha mulher.
ela sorriu e despediu-se, afastando-se do meu carro devagarinho. pelo menos era assim que eu a via, numa espécie de câmara lenta, com os cabelos selvagens a debater-se com o vento numa luta inglória. sofia ribeiro! lindo nome! no meu tempo não havia professoras assim. ou que se vestissem assim. raio de sorte!
durante o jantar, toquei no assunto. o marco sentiu-se incomodado, logo dizendo que não precisava de acompanhamento nenhum. a sónia, de forma ríspida e autoritária, fez-lhe ver que o seu rendimento escolar tinha que ser alterado rapidamente, ameaçando proibir as suas saídas ao sábado à noite. o marco olhou para mim, à espera de defesa. vi nos olhos dele que aquela não era a altura propícia para o desapontar, que me estava a estender uma mão à espera do salvamento de uma queda inevitável. era este o momento.
- marco, a mãe está a brincar. não vai nada proibir-te de sair aos sábados. apenas tens que perceber que tens que te aplicar e estudar mais. nunca nos deste problemas na escola. não vai ser este ano, pois não?
o marco esboçou um enorme sorriso, aliviado, contente pelo meu voto de confiança.
- marco, vai para o teu quarto, por favor, que eu quero falar com o teu pai. - disse a sónia.
de repente, senti colocarem-me no pescoço umas grossas cordas, às quais deram um daqueles nós que só se aprendem nos escuteiros. o pontapé na cadeira que me deixaria suspenso no ar abandonado à minha sorte foi dado pela sónia ainda antes de o marco ter chegado ao quarto:
- esta foi a última vez que me desautorizaste à frente do nosso filho. estou farta! chega, acabou! passo o dia inteiro a trabalhar, para poder pagar as nossas contas, para pôr comida na mesa, gasolina nos carros, e é esta a recompensa que eu tenho? tu ficas em casa o dia todo, sabe-se lá a fazer o quê, não te preocupas com nada nem com ninguém, não queres saber onde eu estou, onde está o teu filho, o que come, com quem anda, e depois és tu, ainda por cima, que dás a palavra final sobre o que é melhor para ele? isso não, nem pensar. eu, que faço uma ginástica terrível para arranjar tempo para tudo, trabalho, casa, escola do marco, compras... a única coisa que te peço é que o vás buscar à escola todos os dias. achas muito? depois quando acontecem situações como esta, é o paizinho que é bestial, porque faz as vontades todas ao filhinho. eu não, eu sou sempre a má da fita. para mim, acabou! estou esgotada! farta disto tudo!
como poderia eu rebater isto? era tudo verdade. tudo! apenas um grande canalha tentaria argumentar algo em sua defesa, utilizando as artimanhas possíveis e imaginárias para reverter a situação a seu favor. a verdade tinha-me batido de frente, como um autocarro a chocar contra uma bicicleta. o meu papel era o de ficar estendido no chão, com as rodas tortas, os pedais partidos e o volante desfeito.
(continua)
foram penosos os primeiros meses. recusava-me a sair de uma confortável, mas compreendida, depressão. ela serviu-me de camuflagem para muitas coisas que eu não queria fazer. as tais coisas que antigamente pedia ao meu pai para resolver. de certa forma, estava a negar-me a aceitar as responsabilidades inerentes ao meu papel de chefe de família, pai de um filho menor, agora que acima de mim não tinha mais ninguém. desamparado de mãe e pai, os holofotes apontavam agora para mim. era eu que tinha, agora, de resolver os problemas dos outros. mas como, se eu nem os meus conseguia resolver? nunca soube.
o ambiente degradava-se de dia para dia em minha casa. era raro o dia em que não havia discussões. as contas avolumavam-se, muito por causa de ter ficado três meses de baixa psicológica, as notas do marco pioraram, a sónia acudia a vários fogos mas era incapaz de lidar com tudo isto. ainda por cima era a única que trabalhava por esta altura. eu vegetava por casa, comendo tostas mistas ao almoço, jogando playstation e vendo má televisão. não abria a porta a ninguém, não atendia o telefone nem o telemóvel. estive completamente isolado do mundo durante três meses. a minha única tarefa diária era ir buscar o marco ao liceu, às 17h30. numa dessas situações, enquanto esperava no carro pelo meu filho, fui interpelado por uma muher, que aparentava ter trinta e poucos anos de idade, de calças de ganga justas e top preto. tinha longos cabelos pretos e uns olhos esverdeados. obviamente, quando a vi aproximar-se do meu carro, tentei recompor-me o melhor possível. a minha grande dúvida, no momento, foi se mantinha ou não os óculos de sol. não queria que ela visse as minhas olheiras mas, por outro lado, sempre considerei uma grande falta de educação falar com alguém que não tira os óculos escuros para falar comigo. por isso tirei-os. no preciso momento em que ela ia começar a falar. não pude deixar de notar um ligeiro esgar de desconforto e alguma repugnância perante o que se lhe apresentava diante dos olhos.
- boa tarde, o senhor é o pai do marco, não é?
- sou sim - afirmei, tentando dizer o menor número de palavras possível, não fosse ela reparar, igualmente, no meu terrível mau hálito. onde é que há um cigarro quando um tipo precisa de um?
- eu sou a professora de história do seu filho. chamo-me sofia ribeiro. soube pelos colegas do marco que o avô tinha morrido. os meus sentimentos.
- obrigado.
- ele foi-se um pouco abaixo, como deve saber. pelo que os outros professores dele me contam, também aconteceu o mesmo nas outras disciplinas. por isso, estou um pouco preocupada com ele, que sempre foi um aluno exemplar. na altura do falecimento ele não teve nenhum acompanhamento psicológico?
- não, não teve. sofreu muito, é verdade. ele gostava muito do avô artur.
- já andava há uns tempos para falar consigo ou com a sua mulher, porque eu considero que ele devia ser acompanhado psicologicamente. é uma pena ele desperdiçar a inteligência que tem desta forma. vem aí o terceiro período e ele precisa de subir as notas para não perder o ano.
- sim, tem que ser. tem que ser. - confesso que não me lembrava de nada minimamente inteligente para dizer. já não me lembrava da última vez que tinha falado com alguém. talvez tenha sido no funeral.
- eu vou deixar-lhe um cartão da escola, com o número do gabinete de acompanhamento psicológico, para a eventualidade de o senhor e a sua esposa decidirem aceitar esta minha proposta.
- sim, muito obrigado. logo ao jantar discutirei o assunto com a minha mulher.
ela sorriu e despediu-se, afastando-se do meu carro devagarinho. pelo menos era assim que eu a via, numa espécie de câmara lenta, com os cabelos selvagens a debater-se com o vento numa luta inglória. sofia ribeiro! lindo nome! no meu tempo não havia professoras assim. ou que se vestissem assim. raio de sorte!
durante o jantar, toquei no assunto. o marco sentiu-se incomodado, logo dizendo que não precisava de acompanhamento nenhum. a sónia, de forma ríspida e autoritária, fez-lhe ver que o seu rendimento escolar tinha que ser alterado rapidamente, ameaçando proibir as suas saídas ao sábado à noite. o marco olhou para mim, à espera de defesa. vi nos olhos dele que aquela não era a altura propícia para o desapontar, que me estava a estender uma mão à espera do salvamento de uma queda inevitável. era este o momento.
- marco, a mãe está a brincar. não vai nada proibir-te de sair aos sábados. apenas tens que perceber que tens que te aplicar e estudar mais. nunca nos deste problemas na escola. não vai ser este ano, pois não?
o marco esboçou um enorme sorriso, aliviado, contente pelo meu voto de confiança.
- marco, vai para o teu quarto, por favor, que eu quero falar com o teu pai. - disse a sónia.
de repente, senti colocarem-me no pescoço umas grossas cordas, às quais deram um daqueles nós que só se aprendem nos escuteiros. o pontapé na cadeira que me deixaria suspenso no ar abandonado à minha sorte foi dado pela sónia ainda antes de o marco ter chegado ao quarto:
- esta foi a última vez que me desautorizaste à frente do nosso filho. estou farta! chega, acabou! passo o dia inteiro a trabalhar, para poder pagar as nossas contas, para pôr comida na mesa, gasolina nos carros, e é esta a recompensa que eu tenho? tu ficas em casa o dia todo, sabe-se lá a fazer o quê, não te preocupas com nada nem com ninguém, não queres saber onde eu estou, onde está o teu filho, o que come, com quem anda, e depois és tu, ainda por cima, que dás a palavra final sobre o que é melhor para ele? isso não, nem pensar. eu, que faço uma ginástica terrível para arranjar tempo para tudo, trabalho, casa, escola do marco, compras... a única coisa que te peço é que o vás buscar à escola todos os dias. achas muito? depois quando acontecem situações como esta, é o paizinho que é bestial, porque faz as vontades todas ao filhinho. eu não, eu sou sempre a má da fita. para mim, acabou! estou esgotada! farta disto tudo!
como poderia eu rebater isto? era tudo verdade. tudo! apenas um grande canalha tentaria argumentar algo em sua defesa, utilizando as artimanhas possíveis e imaginárias para reverter a situação a seu favor. a verdade tinha-me batido de frente, como um autocarro a chocar contra uma bicicleta. o meu papel era o de ficar estendido no chão, com as rodas tortas, os pedais partidos e o volante desfeito.
(continua)
domingo, julho 06, 2008
capítulo I e II
capítulo I
lá fora chovia torrencialmente. o som da chuva aumentava gradualmente e tornava-se quase incómodo. liguei a televisão e levantei-me da cama. corri as cortinas para ver a chuva a cair, sempre me senti bem ao fazê-lo. sossegava-me. relaxava-me. da televisão ecoavam sons familiares de um qualquer canal de música. desliguei-a imediatamente. naquele momento nada queria sentir, especialmente o que certas músicas me fazem sentir. apenas queria ouvir o som da chuva. apenas isso. encaminhei-me para a casa de banho, apanhando pelo caminho duas almofadas, que voltei a colocar em cima da cama, e um par de meia que preguiçosamente deixei ficar pelo tapete. no espelho da minúscula casa de banho encontrei um rosto desiludido e enrugado, para o qual não olhei mais do que cinco segundos. lavei a cara, como que a querer transfigurar-me e purificar-me, como se a água fosse capaz de me arrancar do rosto os traços de uma vergonha galopante. passei várias vezes a água pela cara. cada vez com mais intensidade. a força com que as minhas mãos batiam na minha face provocava-me uma sensação de castigo corporal auto-infligido, que, no meu subconsciente, sabia que merecia. não sequei a cara, a água escorreu-me pelo peito, eliminando dele pequenas partículas de um perfume tentador que me ficou entranhado na pele e com o qual não estava a conseguir lidar da melhor forma. o cheiro que, na noite passada, tanto me inebriou e seduziu, agora provocava-me náuseas e eu queria ver-me livre dele o mais rapidamente possível. olhei, impotente, para o espelho outra vez. foi a isto que me reduzi? um patético homem de 45 anos, numa minúscula casa de banho, a travar uma luta interior por causa de um perfume? um acumular de frustrações sucessivas tinha-me colocado ali, naquele dia, às onze horas da manhã, naquela pensão rasca, num chuvoso e frio dia de novembro. voltei para o quarto. ela ainda dormia, toda nua e destapada, apesar do frio. ao olhar para ela, senti apenas desprezo. por ela e por mim. o quarto tresandava ao perfume dela. abri a janela, devagarinho, porque não a queria acordar. estabelecer um diálogo com ela seria tão confortável como abraçar uma dúzia de facas afiadas. continuava a chover torrencialmente. e eu sempre gostei de andar à chuva. naquele preciso momento, era o que eu mais queria na vida. vesti-me rapidamente, com uma emergente vontade de sair dali. a consulta à minha carteira apenas confirmou as minhas piores expectativas: não tinha dinheiro para pagar o quarto, porque já tinha pago à prostituta. como é que eu iria resolver o assunto? não podia sair pela recepção, porque me obrigariam a pagar. podia sempre tentar reaver o dinheiro, mas tinha receio de ser apanhado. olhei para a janela, que ainda estava aberta, e observei quais eram as minhas hipóteses de fuga. estava num 1º andar e, à primeira vista, não me pareceu muito difícil saltar para a varanda da casa em frente, para depois descer umas escadas metálicas até à rua, por onde não passava ninguém há largos minutos. benditas as vielas da baixa de coimbra, em que as casas estão praticamente umas em cima das outras. quando me preparava para saltar ouço: "mas para onde é que você pensa que vai?". o seu sotaque brasileiro ainda ecoava na minha cabeça quando me atirei ao encontro das grades, falhando a aterragem na varanda. os meus 45 anos e a falta de qualquer actividade desportiva nos últimos 10 anos ficaram bem reflectidos na minha perna esquerda aquando da queda. mesmo assim, consegui deslizar até às escadas metálicas e colocar-me em fuga, debaixo de um chinfrim abrasileirado e de uma panóplia de insultos e ameaças. felizmente o carro não estava muito longe e pude, assim, escapar-me, guardando para mais tarde o meu passeio à chuva. o meu domingo estava agora a começar. olhei para o espelho e vi uma pessoa diferente, vi uma pessoa capaz de alterar o seu próprio rumo e destino. teriam sido estes os impulsos que faltavam? a aventura? o medo? o risco? de qualquer forma, e tirando as dores na perna esquerda, cada vez mais lancinantes, instalou-se pela primeira vez, em muitos anos, um rasgado sorriso na minha cara e estava a ser deveras gratificante poder ver isso reflectido no espelho.
capítulo II
o meu nome é jorge oliveira, sou divorciado, tenho um filho, o marco, que vejo aos fins-de-semana de quinze em quinze dias, e sou delegado de informação médica. não que tenha grande apetência para o cargo profissional que ocupo, mas foi o que pude arranjar depois de quase três anos de desemprego. é claro que tinha outras ambições para a minha vida, nunca pensei chegar assim tão derrotado a esta idade, mas a minha vida caiu a pique depois da morte do meu pai, há quatro anos. depois seguiu-se a separação da minha mulher, o desemprego e uma cada vez menor resistência a todo um vasto leque de vícios e companhias obscuras. a perda do meu pai foi muito dolorosa, perdi o meu rochedo, o meu apoio. era sempre com ele que ia ter quando os problemas atacavam. a prestação da casa, os seguros, as avarias do carro... ele arranjava sempre soluções para tudo. habituei-me tanto a que fosse ele a resolver todas as coisas chatas que me apareciam que acabei por me desleixar, por nunca me ter verdadeiramente interessado por elas, pela forma como se resolviam. quando o perdi, senti-me sozinho, desamparado. não estava ainda preparado para o perder, não me tinha ainda ensinado tudo. naquela noite fria de janeiro, quando o telefone tocou às três da manhã, senti imediatamente que tinhas partido. que outra má notícia poderia ser? a minha mulher estava ao meu lado, o meu filho dormia no seu quarto, a mãe já tinha partido há anos... só podias ser tu pai! caminhei para o telefone como um condenado a caminho da execução. o choro compulsivo do meu irmão foi a confirmação final. metade do que tinha sido até aí partiu com ele. infelizmente, a melhor parte.
o meu pai vivia com o joão, em tomar, desde que a nossa mãe morreu. vinha passar apenas um mês connosco. a minha cunhada, a matilde, trabalhava em casa, como ama, e podia dedicar-lhe mais tempo do que nós. eu, na altura, era funcionário público, nas finanças, e a sónia, minha mulher, já era advogada, com escritório próprio. como invejei nos anos seguintes o joão e a matilde, por terem podido estar mais tempo com o meu pai do que eu, ouvir os seus conselhos, ir ao futebol, jogar às cartas. nos meses seguintes à sua morte, a tensão em minha casa já era muito grande. a sónia sentia que eu a culpava por não termos passado mais tempo com o meu pai. o trabalho era tudo para ela, queria construir uma carreira, estabelecer-se como advogada de topo na cidade. quando lhe ventilei a hipótese de o meu pai ficar em nossa casa mais tempo do que o tradicional mês de julho, quando o joão e a matilde iam de férias, a sónia logo disse que era incomportável com o ritmo das nossas vidas, ela sem horário para chegar a casa e eu com horários rígidos e inflexíveis. fez-me ver igualmente que o meu pai não iria ser feliz na cidade, com a confusão do trânsito, o barulho, as multidões. eu, obviamente, concordei, porque a sónia tinha razão. mas depois de ele morrer, culpei-a inconscientemente pelo facto de não ter passado mais tempo com o meu pai. e o casamento começou a ir pelo cano abaixo...
(continua)
lá fora chovia torrencialmente. o som da chuva aumentava gradualmente e tornava-se quase incómodo. liguei a televisão e levantei-me da cama. corri as cortinas para ver a chuva a cair, sempre me senti bem ao fazê-lo. sossegava-me. relaxava-me. da televisão ecoavam sons familiares de um qualquer canal de música. desliguei-a imediatamente. naquele momento nada queria sentir, especialmente o que certas músicas me fazem sentir. apenas queria ouvir o som da chuva. apenas isso. encaminhei-me para a casa de banho, apanhando pelo caminho duas almofadas, que voltei a colocar em cima da cama, e um par de meia que preguiçosamente deixei ficar pelo tapete. no espelho da minúscula casa de banho encontrei um rosto desiludido e enrugado, para o qual não olhei mais do que cinco segundos. lavei a cara, como que a querer transfigurar-me e purificar-me, como se a água fosse capaz de me arrancar do rosto os traços de uma vergonha galopante. passei várias vezes a água pela cara. cada vez com mais intensidade. a força com que as minhas mãos batiam na minha face provocava-me uma sensação de castigo corporal auto-infligido, que, no meu subconsciente, sabia que merecia. não sequei a cara, a água escorreu-me pelo peito, eliminando dele pequenas partículas de um perfume tentador que me ficou entranhado na pele e com o qual não estava a conseguir lidar da melhor forma. o cheiro que, na noite passada, tanto me inebriou e seduziu, agora provocava-me náuseas e eu queria ver-me livre dele o mais rapidamente possível. olhei, impotente, para o espelho outra vez. foi a isto que me reduzi? um patético homem de 45 anos, numa minúscula casa de banho, a travar uma luta interior por causa de um perfume? um acumular de frustrações sucessivas tinha-me colocado ali, naquele dia, às onze horas da manhã, naquela pensão rasca, num chuvoso e frio dia de novembro. voltei para o quarto. ela ainda dormia, toda nua e destapada, apesar do frio. ao olhar para ela, senti apenas desprezo. por ela e por mim. o quarto tresandava ao perfume dela. abri a janela, devagarinho, porque não a queria acordar. estabelecer um diálogo com ela seria tão confortável como abraçar uma dúzia de facas afiadas. continuava a chover torrencialmente. e eu sempre gostei de andar à chuva. naquele preciso momento, era o que eu mais queria na vida. vesti-me rapidamente, com uma emergente vontade de sair dali. a consulta à minha carteira apenas confirmou as minhas piores expectativas: não tinha dinheiro para pagar o quarto, porque já tinha pago à prostituta. como é que eu iria resolver o assunto? não podia sair pela recepção, porque me obrigariam a pagar. podia sempre tentar reaver o dinheiro, mas tinha receio de ser apanhado. olhei para a janela, que ainda estava aberta, e observei quais eram as minhas hipóteses de fuga. estava num 1º andar e, à primeira vista, não me pareceu muito difícil saltar para a varanda da casa em frente, para depois descer umas escadas metálicas até à rua, por onde não passava ninguém há largos minutos. benditas as vielas da baixa de coimbra, em que as casas estão praticamente umas em cima das outras. quando me preparava para saltar ouço: "mas para onde é que você pensa que vai?". o seu sotaque brasileiro ainda ecoava na minha cabeça quando me atirei ao encontro das grades, falhando a aterragem na varanda. os meus 45 anos e a falta de qualquer actividade desportiva nos últimos 10 anos ficaram bem reflectidos na minha perna esquerda aquando da queda. mesmo assim, consegui deslizar até às escadas metálicas e colocar-me em fuga, debaixo de um chinfrim abrasileirado e de uma panóplia de insultos e ameaças. felizmente o carro não estava muito longe e pude, assim, escapar-me, guardando para mais tarde o meu passeio à chuva. o meu domingo estava agora a começar. olhei para o espelho e vi uma pessoa diferente, vi uma pessoa capaz de alterar o seu próprio rumo e destino. teriam sido estes os impulsos que faltavam? a aventura? o medo? o risco? de qualquer forma, e tirando as dores na perna esquerda, cada vez mais lancinantes, instalou-se pela primeira vez, em muitos anos, um rasgado sorriso na minha cara e estava a ser deveras gratificante poder ver isso reflectido no espelho.
capítulo II
o meu nome é jorge oliveira, sou divorciado, tenho um filho, o marco, que vejo aos fins-de-semana de quinze em quinze dias, e sou delegado de informação médica. não que tenha grande apetência para o cargo profissional que ocupo, mas foi o que pude arranjar depois de quase três anos de desemprego. é claro que tinha outras ambições para a minha vida, nunca pensei chegar assim tão derrotado a esta idade, mas a minha vida caiu a pique depois da morte do meu pai, há quatro anos. depois seguiu-se a separação da minha mulher, o desemprego e uma cada vez menor resistência a todo um vasto leque de vícios e companhias obscuras. a perda do meu pai foi muito dolorosa, perdi o meu rochedo, o meu apoio. era sempre com ele que ia ter quando os problemas atacavam. a prestação da casa, os seguros, as avarias do carro... ele arranjava sempre soluções para tudo. habituei-me tanto a que fosse ele a resolver todas as coisas chatas que me apareciam que acabei por me desleixar, por nunca me ter verdadeiramente interessado por elas, pela forma como se resolviam. quando o perdi, senti-me sozinho, desamparado. não estava ainda preparado para o perder, não me tinha ainda ensinado tudo. naquela noite fria de janeiro, quando o telefone tocou às três da manhã, senti imediatamente que tinhas partido. que outra má notícia poderia ser? a minha mulher estava ao meu lado, o meu filho dormia no seu quarto, a mãe já tinha partido há anos... só podias ser tu pai! caminhei para o telefone como um condenado a caminho da execução. o choro compulsivo do meu irmão foi a confirmação final. metade do que tinha sido até aí partiu com ele. infelizmente, a melhor parte.
o meu pai vivia com o joão, em tomar, desde que a nossa mãe morreu. vinha passar apenas um mês connosco. a minha cunhada, a matilde, trabalhava em casa, como ama, e podia dedicar-lhe mais tempo do que nós. eu, na altura, era funcionário público, nas finanças, e a sónia, minha mulher, já era advogada, com escritório próprio. como invejei nos anos seguintes o joão e a matilde, por terem podido estar mais tempo com o meu pai do que eu, ouvir os seus conselhos, ir ao futebol, jogar às cartas. nos meses seguintes à sua morte, a tensão em minha casa já era muito grande. a sónia sentia que eu a culpava por não termos passado mais tempo com o meu pai. o trabalho era tudo para ela, queria construir uma carreira, estabelecer-se como advogada de topo na cidade. quando lhe ventilei a hipótese de o meu pai ficar em nossa casa mais tempo do que o tradicional mês de julho, quando o joão e a matilde iam de férias, a sónia logo disse que era incomportável com o ritmo das nossas vidas, ela sem horário para chegar a casa e eu com horários rígidos e inflexíveis. fez-me ver igualmente que o meu pai não iria ser feliz na cidade, com a confusão do trânsito, o barulho, as multidões. eu, obviamente, concordei, porque a sónia tinha razão. mas depois de ele morrer, culpei-a inconscientemente pelo facto de não ter passado mais tempo com o meu pai. e o casamento começou a ir pelo cano abaixo...
(continua)
sábado, julho 05, 2008
it´s the only way to fly
quer-me parecer que, desta forma, como anunciou em conferência de imprensa o ceo da ryanair, michael o'leary, em dusseldorf (alemanha), a ideia de eu algum dia fazer uma viagem de avião não esteja de todo afastada. especialmente em business class...
sexta-feira, julho 04, 2008
the same deep water as you - the cure
"The Same Deep Water As You"
Kiss me goodbye, pushing out before I sleep
Can't you see I try
Swimming the same deep water as you is hard
"The shallow drowned lose less than we" you breathe
The strangest twist upon your lips
And we shall be together...
Kiss me goodbye, bow your head and join with me
And face pushed deep reflections meet
The strangest twist upon your lips
And disappear the ripples clear
And laughing break against your feet
And laughing break the mirror sweet
So we shall be together...
Kiss me goodbye, pushing out before I sleep
It's lower now and slower now
The strangest twist upon your lips
But I don't see, and I don't feel
But tightly hold up silently
My hands before my fading eyes
And in my eyes your smile
The very last thing before I go...
I will kiss you, I will kiss you
I will kiss you, forever on nights like this
I will kiss you, I will kiss you
And we shall be together...
questões existenciais
- para que servem as unhas dos pés? alguém conseguirá coçar as costas com elas? têm tanta utilidade como os mamilos nos homens. e o umbigo? ui, isso daria pano para mangas. para que raio serve o catano do umbigo? para criar cotão? guardar o porta-chaves? imagino a cara do adão, quando deus o presenteou com o corpo humano, e quão intrigado não terá ficado quando viu que tinha um buraco no meio da barriga... para o compensar, deus atribuiu-lhe uma maçã, que ainda hoje tem o nome dele.
- o mundo dividir-se-à mesmo entre as pessoas que gostam de banana nas pizzas e as que não gostam? ou entre as pessoas que, quando querem guardar o número de telemóvel de outra pessoa, dizem "dás-me o teu número de telemóvel?" ou "dás-me o teu telemóvel?". é sempre chato quando nos pedem, assim, do pé para a mão, o telemóvel.
- será que vou começar agora, aos 35, a ter finalmente algum respeito e consideração pelos adeptos benfiquistas: "luís filipe vieira teve, esta quinta-feira, que ser escoltado pela polícia até ao parque de estacionamento do estádio da luz, após uma assembleia-geral do benfica que terminou com desacatos e ameaças ao presidente do clube" - tsf.
- "águas de portugal", com prejuízos de 75 milhões, distribui 2,3 milhões em prémios aos funcionários - relatório denuncia gastos exagerados com viaturas de serviço e prémios de incentivo - jn. será preciso dizer mais alguma coisa?
- é impressão minha ou as bandas que vêm todos os anos a portugal, por altura dos festivais, são sempre as mesmas? que é feito de uns my morning jacket, death cab for cutie, radiohead, antony and the johnsons, the dears, the czars, beach house, sun kil moon, ou american music club?
- se pepe e deco não tivessem sido convocados, por serem brasileiros e tal, teria a selecção nacional chegado aos quartos-de-final do europeu? creio que não. e por que raio continuam os jornalistas e comentadores desportivos a colar o epíteto de "melhor jogador do mundo" a cristiano ronaldo? quando é que foi a votação? já saíram os resultados? quem promoveu essa votação? e nessa votação fictícia entraram os nomes de messi, lampard, gerrard, torres, xavi, sneijder, iniesta, casillas, ballack, pirlo, drogba, rio ferdinand, robinho...
- então e não há incêndios este ano? ainda era uma das poucas coisas garantidas que este país tinha, todos os anos. até isso nos tiram... agora a única coisa certinha e garantida que o país tem é que o pinto da costa nunca há-de ser castigado por coisa alguma.
- o mundo dividir-se-à mesmo entre as pessoas que gostam de banana nas pizzas e as que não gostam? ou entre as pessoas que, quando querem guardar o número de telemóvel de outra pessoa, dizem "dás-me o teu número de telemóvel?" ou "dás-me o teu telemóvel?". é sempre chato quando nos pedem, assim, do pé para a mão, o telemóvel.
- será que vou começar agora, aos 35, a ter finalmente algum respeito e consideração pelos adeptos benfiquistas: "luís filipe vieira teve, esta quinta-feira, que ser escoltado pela polícia até ao parque de estacionamento do estádio da luz, após uma assembleia-geral do benfica que terminou com desacatos e ameaças ao presidente do clube" - tsf.
- "águas de portugal", com prejuízos de 75 milhões, distribui 2,3 milhões em prémios aos funcionários - relatório denuncia gastos exagerados com viaturas de serviço e prémios de incentivo - jn. será preciso dizer mais alguma coisa?
- é impressão minha ou as bandas que vêm todos os anos a portugal, por altura dos festivais, são sempre as mesmas? que é feito de uns my morning jacket, death cab for cutie, radiohead, antony and the johnsons, the dears, the czars, beach house, sun kil moon, ou american music club?
- se pepe e deco não tivessem sido convocados, por serem brasileiros e tal, teria a selecção nacional chegado aos quartos-de-final do europeu? creio que não. e por que raio continuam os jornalistas e comentadores desportivos a colar o epíteto de "melhor jogador do mundo" a cristiano ronaldo? quando é que foi a votação? já saíram os resultados? quem promoveu essa votação? e nessa votação fictícia entraram os nomes de messi, lampard, gerrard, torres, xavi, sneijder, iniesta, casillas, ballack, pirlo, drogba, rio ferdinand, robinho...
- então e não há incêndios este ano? ainda era uma das poucas coisas garantidas que este país tinha, todos os anos. até isso nos tiram... agora a única coisa certinha e garantida que o país tem é que o pinto da costa nunca há-de ser castigado por coisa alguma.
quinta-feira, julho 03, 2008
"friends" no cinema?
o recente sucesso de bilheteira do filme "sex and the city" (que se prevê que ultrapasse a barreira dos 300 milhões de dólares, nas bilheteiras, à escala mundial), serviu de alavanca a uma aspiração antiga dos produtores de "friends". segundo o daily mail, os seis actores da saudosa sitcom, jennifer aniston, courteney cox, lisa kudrow, matthew perry, matt le blanc e david schwimmer, chegaram finalmente a acordo quanto a uma versão cinematográfica da série. aniston foi a última a aceitar a proposta dos produtores, por ser a única dos seis com uma razoável carreira no grande ecrã e com estatuto de "estrela maior" do elenco na actualidade. uma fonte daquele jornal refere igualmente que o filme, produzido pela warner bros., poderá estrear dentro de 18 meses.
o elenco de "friends" separou-se em 2004, aquando da décima e última temporada da série, seguindo caminhos separados, com graus de sucesso bastante diferentes. jennifer aniston especializou-se em comédias românticas, algumas delas com êxito comercial, e nunca deixou de estar debaixo dos holofotes da imprensa devido à sua vida sentimental (o seu casamento com brad pitt, o divórcio, a relação com vince vaughn e, mais recentemente, com john mayer). courteney cox continuou nos meandros televisivos, conseguindo um relativo sucesso com a série "dirt", do canal fx, que, no entanto, viria a ser cancelada ao fim de duas temporadas. lisa kudrow enveredou pelo carreira cinematográfica, mas sempre em filmes independentes e em papéis menores. matt le blanc manteve a sua personagem, joey tribbiani, na série "joey", um spin-off de "friends", por duas temporadas. quando a série foi cancelada, por falta de audiências, dedicou-se... à família. matthew perry, tal como courteney cox, experimentou igualmente um relativo sucesso, mais de crítica do que de audiências, com a série "studio 60 on the sunset strip", que apenas viria a ter uma temporada. por último, david schwimmer, que depois de ter dirigido uma dezena de episódios de "friends" e dois de "joey", decidiu enveredar por uma carreira como realizador. este ano estreou a comédia "run fatboy run", em março, que arrecadou 35 milhões nas bilheteiras à escala mundial.
a crítica arrasou a adaptação cinematográfica de "sex and the city". nem os aficionados da série gostaram muito. espero que o mesmo não aconteça com "friends", porque não queria alterar a excelente impressão que tenho da série. costuma-se dizer que não se deve mexer naquilo que já é perfeito, sob pena de se estragar. mas acredito que, com os argumentistas e os produtores certos, mais os actores, sempre excelentes, o produto final possa ser algo que preste, efectivamente, homenagem a este fabuloso produto televisivo que, durante dez anos, manteve um elevado nível de qualidade. de qualquer forma, é um filme que não irei perder por nada deste mundo.
quarta-feira, julho 02, 2008
vícios
acabei de ver, no canal fox, os dois últimos episódios da quarta série de "lost". é uma valente descarga emocional, é um facto, se bem que existam duas dezenas de situações com que um tipo possa facilmente embirrar. enerva-me, por exemplo, andar por lá um bebé, o aaron, filho da claire, que ninguém alimenta, nunca chora nem tem fome, nunca tem as fraldas sujas, nada. hoje até caiu de um helicóptero, o pobre bebé, e nem um arranhão teve. mas admito que ali muitas personagens poderosas, casos de ben (o meu preferido), desmond, kate, sawyer, jack, locke, hurley, sayid, e é muito por causa delas que eu vou mesmo ter que seguir esta série até ao fim.
até ao fim segui, religiosamente, a transmissão da primeira série de "californication", na rtp2, cujo último episódio foi para o ar na segunda feira passada. a segunda série começou a ser rodada em abril deste ano, para estrear no outono no canal showtime. a personagem de david duchovny, por quem eu nunca dei um chavo como actor e pensei que nunca conseguiria livrar-se da imagem do empertigado fox mulder dos "ficheiros secretos", é cativante, cómica na forma desprendida como vive a vida, tocante pelo amor eterno que sente pela ex-mulher e extremamente viciante pelo ódio que destila por tudo o que odeia e lhe causa repulsa. hank moody é um "loser" moderno, cheio de pinta, que vive dos rendimentos dos livros que escreve e das suas manhosas adaptações para cinema. a ex-mulher e a filha de ambos são as únicas pessoas que o conseguem trazer de volta ao mundo terreno. nesta primeira série, de apenas 12 episódios, ele vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para reconquistar a ex-mulher, sem, no entanto, deixar passar ao lado muitas recompensas inerentes ao seu estilo de vida boémio. uma série a comprar, de caras, sem hesitações, quando sair em dvd, porque o ritmo dos diálogos é tão intenso que, mesmo estando muito atento, ainda se perdem muitas pérolas de hank moody. muito respeito para tom kapinos, criador e argumentista chefe da série, cujo primeiro trabalho como argumentista em hollywood foi... "dawson's creek".
se "lost" tem inúmeras personagens fortes, carismáticas e marcantes, em "californication" basta uma: hank moody. depois de george costanza e chandler bing, moody é o meu "loser" preferido. e que venham mais dez séries, por favor.
até ao fim segui, religiosamente, a transmissão da primeira série de "californication", na rtp2, cujo último episódio foi para o ar na segunda feira passada. a segunda série começou a ser rodada em abril deste ano, para estrear no outono no canal showtime. a personagem de david duchovny, por quem eu nunca dei um chavo como actor e pensei que nunca conseguiria livrar-se da imagem do empertigado fox mulder dos "ficheiros secretos", é cativante, cómica na forma desprendida como vive a vida, tocante pelo amor eterno que sente pela ex-mulher e extremamente viciante pelo ódio que destila por tudo o que odeia e lhe causa repulsa. hank moody é um "loser" moderno, cheio de pinta, que vive dos rendimentos dos livros que escreve e das suas manhosas adaptações para cinema. a ex-mulher e a filha de ambos são as únicas pessoas que o conseguem trazer de volta ao mundo terreno. nesta primeira série, de apenas 12 episódios, ele vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para reconquistar a ex-mulher, sem, no entanto, deixar passar ao lado muitas recompensas inerentes ao seu estilo de vida boémio. uma série a comprar, de caras, sem hesitações, quando sair em dvd, porque o ritmo dos diálogos é tão intenso que, mesmo estando muito atento, ainda se perdem muitas pérolas de hank moody. muito respeito para tom kapinos, criador e argumentista chefe da série, cujo primeiro trabalho como argumentista em hollywood foi... "dawson's creek".
se "lost" tem inúmeras personagens fortes, carismáticas e marcantes, em "californication" basta uma: hank moody. depois de george costanza e chandler bing, moody é o meu "loser" preferido. e que venham mais dez séries, por favor.