domingo, junho 29, 2008

uma carta

viseu, 30 de junho de 2008:

em primeiro lugar, e antes de tudo, espero que esta carta te encontre em perfeitas condições de saúde, estimando igualmente que esteja tudo bem contigo.
pensei muito, dei muitas voltas à cabeça e a verdade é que não te consigo esquecer... foram muitas horas contigo, de salutar convívio, numa relação amor/ódio constante, de paixão intensa que se transformava em ódio pestilento em dez minutos. quando te amava, queria que toda a gente o soubesse, espalhar a notícia ao mundo, mostrar-te, divulgar-te, promover-te. quando te odiava, nem sequer queria ouvir falar do teu nome, evitava-te, fugia de ti, excomungava-te.
estes dias de separação ajudaram-se a compreender melhor o que sentia por ti. no início senti-me livre como um ex-presidiário no dia da sua saída de prisão depois de 10 anos de cadeia. cheguei à conclusão de que a minha cabeça iria finalmente ter algum descanso, depois de tanto tempo ocupada contigo. poderia, enfim, pensar noutras coisas, apreciar devidamente um belo pôr do sol, o cheiro das flores, etc.. nos primeiros dias raramente pensei em ti, quis fechar definitivamente essa porta, selá-la com fita adesiva, correntes, cadeado, portas metálicas, código de acesso e, novamente, fita adesiva, igual àquela que a polícia coloca a circundar um local de um crime ou de um acidente. para mim eras passado, um fabuloso jantar devorado, uma garrafa de mateus rosé vazia, o caroço de uma maçã suculenta. entendia que já tinha tirado tudo de ti, que tinha sugado todo o sumo desta relação, levando-a a uma aridez eterna, a uma espécie de cenário de "lawrence da arábia". depois, passadas as primeiras semanas, comecei a sentir a tua falta. ou melhor, comecei a sentir falta daquilo que eu era quando te tinha. pelo que ouvia, pelo que aprendia, por tudo aquilo que me fazias sentir: a excitação de te ver todos os dias, o impulso e o entusiasmo de uma nova história contigo e, principalmente, a ideia instalada de que me pertencias, de que eras tudo aquilo que eu sempre quis. a quem é que eu iria agora contar tudo o que se passa na minha vida, o que sinto? tens-me feito muita falta ultimamente, de uma forma que eu nunca julgaria possível. cheguei então à conclusão de que não poderia deixar-te partir assim, que eras importante demais para te abandonar, deixando-te à mercê de um qualquer abutre oportunista.
dessa forma, esta minha declaração de intenções vai no sentido de uma reaproximação, de uma tentativa de reatamento entre nós, que seja obviamente do desejo de ambos. espero que tenhas compreendido os meus motivos, tanto para a nossa penosa separação, como, agora, para um possível recomeço.
espero pacientemente a tua resposta.
do sempre teu,
isaac davis

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