quinta-feira, março 06, 2008

apeteceu-me...

viveríamos num mundo perfeito se fosse possível justificar as nossas mais estapafúrdias decisões ou actos com um simples "apeteceu-me", sem que isso acarretasse algum tipo de punição. seria um consolo para muita gente, como ricardo quaresma, que ontem, na primeira parte do prolongamento do jogo da liga dos campeões contra o schalke o4, teve nos pés uma oportunidade de ouro para fazer o 2-0, quando isolado frente ao guarda-redes (e que grande guarda-redes!) não teve o discernimento necessário nem para rematar em condições à baliza nem para passar a bola a farias, que estava ao seu lado, em melhores condições para fazer o golo. no final, perante os jornalistas, limitar-se-ia a dizer "apeteceu-me" e o assunto morreria ali mesmo. o mesmo se passaria com paulo paraty, que no domingo passado não assinalou um penalty do tamanho da china a favor do sporting, quando léo "atropelou" vukcevic dentro da área benfiquista, e que não viu, também, a agressão de cardozo a tonel. quando confrontado por alguém, sejam jornalistas, dirigentes do sporting ou outro comum mortal, bastaria dizer "apeteceu-me" para encerrar qualquer discussão. obviamente que, nesse mundo perfeito, toda a gente entenderia a explicação, tanto de quaresma como de paraty. se lhes apeteceu, tudo bem, estão no seu direito. o que interessa é que se tenham divertido no cumprimento das suas obrigações profissionais. se quaresma, no último minuto do tempo regulamentar do jogo de ontem, com possibilidades para centrar para a área, onde estão quatro colegas seus à espera da bola, decide antes tentar fintar três alemães, perdendo a bola, o público não pode assobiar nem ficar aborrecido com o jogador porque, simplesmente, foi o que lhe apeteceu fazer. a questão é que, tal como quaresma e paraty, nesse mundo perfeito toda a gente pode utilizar essa justificação para qualquer acto, reflectido ou irreflectido. se eu fosse portista (não sou, mas ontem fartei-me de torcer pelo fc porto) e me cruzasse acidentalmente com o quaresma na rua, assistir-me-ia o direito de lhe partir a cana do nariz, ao mesmo tempo que lhe explicava que o jogo de ontem não podia ser encarado com a mesma ligeireza que um encontro entre solteiros e casados de uma qualquer freguesia do concelho de fiães; o mesmo aconteceria com o anti-lagarto fervoroso chamado paulo paraty, a quem facilmente me apeteceria infligir alguma dor. é que o homem detesta mesmo o sporting (apetece-lhe detestar) e eu tenho tendência para gostar desse clube (apetece-me), entrando facilmente em conflito com o árbitro de apelido patético (ao ponto de até o paulo bento fazer trocadilhos com ele). quando viesse a polícia, eu diria simplesmente isto: "ó senhor guarda, apeteceu-me muito partir a tíbia e o perónio deste indivíduo e quem sou eu para contrariar os meus apetites...". ao agente da autoridade só competiria dizer isto: "muito bem, assine só aqui esta declaração, reconhecendo que de facto lhe apeteceu efectuar esta acção. é só assinalar a opção "apeteceu-me"".

2 comentários:

  1. nem me fales no jogo de ontem.... só me apetece dizer asneiras! (algumas já as disse ontem...)

    boa sorte para logo!

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  2. Apos ler o teu texto, apeteceu-me rir, e ri-me desvairadamente. Apeteceu-me depois, reflectir sobre o dito texto, e surgiu-me uma pergunta... como e que e possivel, um so homem (o Paraty) desagradar a tanta gente? Sera porque lhe apetece? Ou sera antes porque, realmente nasceu com o "dom" de desagradar? Dom para o qual ele nao faz nada, pois se calhar ate gostaria de agradar de vez em quanto. Mas enfim, o tal dom esta ali sempre, bem presente, e a qualquer lado que va, pimba, desagrada. Por muito que procure, nao consigo encontrar um simples elogio a este senhor...desabafos de desagrado? Milhares!

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