caímos no chão, esgotados. o suor corria veloz pelos nossos corpos enquanto a respiração lutava arduamente para estabilizar. trocamos um longo olhar, sem falarmos. interiormente, sabíamos que não era preciso falar. os nossos olhos diziam tudo. o fulgor carnal começava a abrir caminho a uma emergente amargura, antecipando uma despedida cruel. levantamo-nos, resignados à limitação do tempo, a uma realidade esquecida por umas curtas horas. a roupa parecia que custava a vestir, cada pretexto servia para prolongarmos aquele momento e adiarmos o penoso e inevitável adeus. pediste-me para apertar o fecho do teu vestido branco. levantei os teus longos cabelos castanhos e, não resistindo, beijei-te o pescoço, com enorme sofreguidão. embora o desejássemos, sabíamos que era impossível estancar o tempo naquele instante. os minutos correram, os segundos voaram e o relógio limitou-se a cumprir a sua função. à medida que o fecho do teu vestido ia subindo, iam-se esgotando as últimas finas areias da nossa ampulheta virtual, madrasta do nosso destino.
já vestidos, procurei guardar na memória uma última imagem tua. estavas sentada no cadeirão a calçar os sapatos. irradiavas uma esplendorosa luz de beleza e a tua pele parecia brilhar. foi então que, em desespero, tentei arrancar-te uma promessa de um novo encontro, porque me recusava a aceitar aquela finitude. mais sensata e menos emocional, fizeste-me ver que era impossível e que a única hipótese, tendo em conta a brutal distância que nos ia separar, seria trocarmos correspondência. aceitei prontamente aquele mísero fiapo que me mantinha ligado a ti. de imediato, fui buscar um baralho e ficamos, por uns instantes, a trocar cartas.
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