a questão do comodismo, ao longo dos tempos, foi sempre uma preocupação para o ser humano. descansar e relaxar nunca deixou de ser uma prioridade na vida das pessoas, daí que sejam consideradas normais as evoluções registadas nessa matéria. para se passar de uma superfície rugosa de pedra até a um sofá foram precisos muitos anos, tal como para o aparecimento do colchão, das almofadas, dos edredons... o comodismo não é um luxo superficial ou fútil, é antes uma exigência natural do ser humano. o problema é o alastrar desse "comodismo" para outras facetas da vida. antigamente, aos domingos de manhã, eram várias as pessoas que saíam de casa para ir comprar o jornal e beber um café; agora, não precisam de sair de casa, têm a informação toda on line, nos sites dos jornais. sair para comer fora? já não é preciso, eles trazem a comida a casa. alugar um filme no clube de vídeo? eles trazem cá o filme. compras? também já temos compras on line. ir às finanças e ficar duas horas na fila para entregar o irs? já sabem a resposta.
o mais grave ainda é em termos de questões sentimentais. antigamente, no tempo dos meus pais, por exemplo, o esforço era muito maior para se evidenciar o apreço por alguma mulher. os meus pais encontravam-se na fonte lá da aldeia, numa hora previamente definida. a minha mãe fazia todos os possíveis para convencer a minha avó que era preciso ir à fonte buscar água. depois eram cartas, poemas, galanteios, enfim, o chamado "romance".
hoje, com toda a evolução tecnológica, nem é preciso muito trabalho. o comodismo é tão gritante neste aspecto que hoje já se namora por sms, conhecem-se os futuros namorados no hi5, visita-se a rua da apaixonada no google earth, trocam-se mensagens de amor eterno no messenger, fala-se à borla com a namorada no skype... qualquer dia, até casar será possível, sem se sair de casa...
com tudo isto, nem dá para as pessoas sentirem saudades umas das outras. e como é saudável sentir saudades de alguém, ansiar avidamente pelo próximo encontro, contar os dias que faltam para voltar a ver a pessoa amada, receber uma carta dela. sentir saudades de alguém é assumir que essa pessoa nos faz falta. muitas das relações mais sólidas que conheço, incluindo a minha, foram alicerçadas e cimentadas desta forma. o romance não pode morrer; caso contrário, um dia destes em vez de palavras sentidas e fortes como "o amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer", de luís de camões, vamos ver poemas deste género: "kurto-te bué garina, sei q tb me kurtes mto, tá-se bem assim chavala, bute nessa"...
Sinais dos tempos, meu amigo...
ResponderEliminarSei que é duro, por vezes, mas há que os saber acompanhar, senão corremos o risco de nos comportarmos como uns "cotas do caraças"!!
Delicioso post, caro JAL :-)
ResponderEliminarObviamente que as tuas palavras estão carregadas de verdade, mas cabe a cada um de nós dar uma patada no c* desse comodismo ;-)
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