sempre vivi no interior. estive apenas uns meses a residir em coimbra (já é mais litoral que interior), em virtude de lá ter conseguido entrar na universidade. sinceramente, não gostei, senti-me deslocado e voltei imediatamente para o meu "cantinho". não foi por causa da cidade, que até adorava antigamente quando lá ia passar uns fins de semana com a minha então namorada, hoje mulher, que lá estudava na altura. senti-me sozinho, desamparado e inadaptado. o meu hedonismo sempre me levou a evitar tudo o que é desagradável, dando clara predominância a tudo o que dê prazer. e foi nessa altura que causei aos meus pais um desgosto enorme, ao desistir do curso, voltando para "debaixo das saias da minha mãe". reconheço que posso ter perdido "os melhores anos da minha vida", como é frequente ouvirmos dizer aos estudantes universitários. festas, noitadas de copos, etc.. atirei para o ar tudo isto, anos de farra e de despreocupação, se excluirmos os próprios estudos, obviamente. queria que a minha vida começasse o mais rapidamente possível, e isso passava por viver com a mulher que amava, casar, ter filhos... dessa forma, comecei a trabalhar para que o meu futuro chegasse rapidamente. não chegou... eu tinha acabado de renunciar a coimbra e a minha namorada foi chamada para faro (faro, meu deus, longe como tudo!), aceitando imediatamente o emprego que já ansiava há anos. ou seja, voltava tudo à estaca zero e a oportunidade coimbra tinha-se esfumado. só meia década depois (parece muito mais tempo do que "cinco anos depois") se consumaria o ansiado desiderato.
este episódio acabou por ser, de certa forma, irónico. de vez em quando sinto que aqueles anos em coimbra me fizeram falta, pela "bagagem" que me poderiam ter dado, pelo fortelecimento de carácter que me dariam, pela "viagem" espiritual que não cheguei a fazer, pelo corte do cordão umbilical que se impunha já na altura, pelas pessoas que não conheci... se calhar, hoje seria uma pessoa diferente... mas preferi o "quentinho", o aconchego do lar e a companhia das pessoas de que gostava (e ainda gosto). no interior (lá está! interior!), ainda se travam algumas lutas entre o "eu" extrovertido que não teve oportunidade de se soltar devidamente, na altura certa, e o "eu" certinho e introvertido, que foi privilegiado e convocado um pouco cedo demais.
Como não o fizeste ficarás para sempre na duvida do que teria acontecido. Não quero dizer que te tenhas arrependido, nada disso. Mas talvez a tua vida fosse muito diferente
ResponderEliminaré... o corte do cordão é necessário...
ResponderEliminarcomo compreendo as tuas palavras! nem sabes o que me custou sair de Coimbra, do meu cantinho e deixar tudo, os pais, os amigos, 24 anos de uma vida e vir viver para Lisboa, cidade onde o anonimato, a impessoalidade e a solidão imperam. hoje, 7 anos depois, ainda me sinto deslocada aqui e por vezes penso se terei tomado a atitude correcta...
ResponderEliminarfazemos as escolhas que temos de fazer e, apesar de pensarmos o contrário, crescemos e aprendemos com elas...
beijocas