quinta-feira, novembro 23, 2006

défice de realismo

vivemos hoje em portugal com um tremendo défice de realismo. é este o mais perigoso de todos os défices actuais. as famílias afogam-se em dívidas, compram tudo a crédito, sempre com a sensação de que vão conseguir pagar tudo, nem que seja aos poucos. mas as mensalidades acumulam-se, misturam-se com outras antigas, há sempre imprevistos financeiros e despesas com que não contávamos que lixam sempre tudo. viver em portugal é viver sempre acima das possibilidades. isto porque o vizinho tem tv cabo, carro novo, mobílias novas e, curiosamente, também comprou tudo a crédito. se ele pode, porque raio não haveremos nós de poder também? de mês para mês, aparece uma nova "financeira", para além das antigas cofidis, credifin, etc.. a crise aperta mas a tentação de comprar é irresistível e supera a fraca capacidade financeira. sobretudo se nos impingirem aquela treta do "comece a pagar apenas no próximo ano", como se isso suprimisse alguma prestação. e geralmente o "próximo ano" é... dentro de dois meses.
a expressão "estar em crise" só se aplica aos portugueses naquelas conversas de treta que acontecem diariamente, no emprego, no café. continua a ser um bom desbloqueador de conversas, dá pano para mangas em conversas de dez, quinze minutos. porque uma pessoa vai ao continente (para tomar café e comprar o jornal), aos sábados ou domingos, quando não se trabalha, e vê milhares de pessoas às compras. ora, todos sabemos que existem vários locais de compras com preços muito mais baixos que a referida superfície comercial. meia dúzia de produtos no carrinho chegam para se desembolsar 50 euros na caixa. mas não importa. o que interessa é o estatuto, o poder de compra que se transmite aos outros. se forem às compras ao mini preço ou ao lidl não impressionam ninguém. este é apenas um exemplo, mas há muitos mais: brinquedos, roupa, calçado...
o estatuto é o que realmente interessa. não interessa ter algo, o que interessa é mostrar a toda a gente que temos esse algo, nem que tenhamos que fazer um sacrifício enorme para conseguir pagar todos os meses as mensalidades.
é este o défice que urge combater em portugal. convencer as pessoas a descer à terra, a viverem mediante as suas capacidades financeiras e nunca acima disso. porque, mais tarde, quem vai acabar por pagar os nossos erros são... os nossos filhos.

2 comentários:

  1. quando descobrires como é que isso se faza, avisa ok? é que eu dou voltas e mais voltas e ainda não cosnegui saber como é que se muda a mentalidade de um povo... ;-)
    beijocas

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  2. pois....
    (in)felizmente sou sempre demasiado realista embora em alguns casos adie enfrentar a realidade feia e negra com que me deparo... mas nunca no q trata de dinheiro...

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