quinta-feira, janeiro 10, 2019
estas nuvens fazem hoje 13 anos!
o "nuvens da alma" chega hoje aos 13 anos.
são já quase 2800 posts, de muita introspecção, desvario, aqui e ali alguma irascibilidade, acolá uma porção de picuinhice, mais além, atrás daquela árvore, não, não, a outra, lado direito, isso mesmo, um pouco de hedonismo, sempre à procura daquela sensação de chegar ao fim de um texto e dizer para mim mesmo: "caramba, era isto mesmo que eu queria explanar e transmitir aos meus dois fiéis seguidores!". como isso ainda não aconteceu nestes treze anos, não me resta outra alternativa. vou porfiar, com uma tenacidade voraz, até que esse momento irrompa. com a certeza, porém, de que as nuvens continuarão a perpassar por esta alma (cada vez menos) atribulada.
um muito sentido obrigado a quem ainda me segue por aqui, na blogosfera, e às quase 800 (um número para o qual não consigo encontrar justificação. oito, compreenderia; 80 já eram demasiadas; 800 é uma barbaridade! pronto, mas isso sou eu. continua lá a frase, pá. este já é o parêntesis mais longo da história...) que seguem o "nuvens da alma" na rede social facebook.
sexta-feira, janeiro 04, 2019
como inverter um complexo em duas décadas
qual país dos brandos costumes, qual carapuça! portugal é, hoje em dia, um "papa-troféus". a auto-estima é tão elevada que em qualquer competição, concurso, sondagem ou consulta popular, em que apareça o nome de portugal, se oblitera completamente o "um dos..." e se abraça imediatamente o epíteto de "melhor". cristiano ronaldo podia ser um dos melhores jogadores do mundo. não é! é o melhor! josé mourinho podia ser um dos melhores treinadores do mundo. não é! é o melhor! ricardinho, no futsal, idem. mário centeno, nas finanças, idem. turismo, idem. estrelas michelin, gastronomia, vinhos, sapatos, joanas vasconcelos, não interessa, temos de ser sempre "os melhores", incluindo recordes do guinness, corridas de caricas, concursos de degustação de caracóis e competições inter-regionais relacionadas com o comprimento da unha do dedo mindinho.
em suma, somos os maiores. somos tão bons que até um jornal nacional, esta semana, fez parangonas a exultar que o nosso país tinha sido "eleito pela forbes como o país mais cool para visitar este ano", quando, na realidade, essa crónica (uma crónica, meu deus!) da revista referia apenas a ilha dos açores e a tabela de dez destinos a visitar estava por ordem alfabética, e, assim sendo, era difícil os açores não estarem em primeiro. ou seja, o jornal até poderia enveredar pela estrada dos factos, mas isso não chamaria a atenção de ninguém. portanto vamos lá ver como é que isto se terá processado na redacção do jornal, que eu vou manter em segredo, mas era o sol:
- vi agora no twitter uma referência a uma crónica da revista forbes que cita os açores como um dos destinos mais "cool" a visitar.
- caramba, mas isso é incrível! na forbes?
- não, vi no twitter, mas é sobre uma crónica...
- não interessa, é na forbes, que diabo! e os açores estão em que lugar?
- estão em primeiro na lista, mas é por ordem alfabética...
- um primeiro lugar é sempre um primeiro lugar. vamos lá puxar por isso.
- mas como?
- já sei! vamos colocar portugal em vez dos açores, porque também há coisas muito "cool" para se visitar em carrazeda de ansiães, freixo de espada à cinta ou vila velha de ródão, que diabo! e vamos dizer que foi a revista forbes a eleger...
- mas era apenas uma crónica...
- revista forbes, por favor. vá, vamos lá então. que dizes deste título: "portugal eleito pela forbes o país mais "cool" para visitar este ano".
e é com isto que temos de levar todos os dias. ontem, a fazer zapping, apanhei marcos frota, actor brasileiro, no "5 para a meia-noite". quando lhe perguntaram o que ele não gostava de portugal, o actor referiu que não gostava muito do portugal de há uns 20/25 anos, porque era muito triste, sorumbático, com complexo de inferioridade e de culpa enorme, apontando a enorme diferença que sente agora no nosso país, em que vê as pessoas alegres, bem dispostas, simpáticas, abertas e cheias de auto-estima. fiquei a pensar nisto durante dez segundos e voltei a mudar de canal. desde que começaram a bombardear-nos com os "somos os melhores nisto", "somos os melhores naquilo", "temos o melhor isto", "temos o homem com a unha do dedo mindinho mais comprida do mundo", que a nossa auto-estima veio por aí acima.
pena é o marcos frota, que eu já não via na televisão desde os anos 80, sensivelmente, não ser português. caso contrário, era o melhor actor do mundo!
em suma, somos os maiores. somos tão bons que até um jornal nacional, esta semana, fez parangonas a exultar que o nosso país tinha sido "eleito pela forbes como o país mais cool para visitar este ano", quando, na realidade, essa crónica (uma crónica, meu deus!) da revista referia apenas a ilha dos açores e a tabela de dez destinos a visitar estava por ordem alfabética, e, assim sendo, era difícil os açores não estarem em primeiro. ou seja, o jornal até poderia enveredar pela estrada dos factos, mas isso não chamaria a atenção de ninguém. portanto vamos lá ver como é que isto se terá processado na redacção do jornal, que eu vou manter em segredo, mas era o sol:
- vi agora no twitter uma referência a uma crónica da revista forbes que cita os açores como um dos destinos mais "cool" a visitar.
- caramba, mas isso é incrível! na forbes?
- não, vi no twitter, mas é sobre uma crónica...
- não interessa, é na forbes, que diabo! e os açores estão em que lugar?
- estão em primeiro na lista, mas é por ordem alfabética...
- um primeiro lugar é sempre um primeiro lugar. vamos lá puxar por isso.
- mas como?
- já sei! vamos colocar portugal em vez dos açores, porque também há coisas muito "cool" para se visitar em carrazeda de ansiães, freixo de espada à cinta ou vila velha de ródão, que diabo! e vamos dizer que foi a revista forbes a eleger...
- mas era apenas uma crónica...
- revista forbes, por favor. vá, vamos lá então. que dizes deste título: "portugal eleito pela forbes o país mais "cool" para visitar este ano".
e é com isto que temos de levar todos os dias. ontem, a fazer zapping, apanhei marcos frota, actor brasileiro, no "5 para a meia-noite". quando lhe perguntaram o que ele não gostava de portugal, o actor referiu que não gostava muito do portugal de há uns 20/25 anos, porque era muito triste, sorumbático, com complexo de inferioridade e de culpa enorme, apontando a enorme diferença que sente agora no nosso país, em que vê as pessoas alegres, bem dispostas, simpáticas, abertas e cheias de auto-estima. fiquei a pensar nisto durante dez segundos e voltei a mudar de canal. desde que começaram a bombardear-nos com os "somos os melhores nisto", "somos os melhores naquilo", "temos o melhor isto", "temos o homem com a unha do dedo mindinho mais comprida do mundo", que a nossa auto-estima veio por aí acima.
pena é o marcos frota, que eu já não via na televisão desde os anos 80, sensivelmente, não ser português. caso contrário, era o melhor actor do mundo!