segunda-feira, janeiro 25, 2016

sem palavras




para uma pessoa que se concentra tanto nas letras das músicas, ouvir um instrumental acaba por ser um descanso. não há interpretações a fazer, não há frases para retirar e evidenciar, não há palavras mais sentidas do que outras. há apenas sons de bateria, piano e guitarras. não adianta complicar e, sejamos sinceros, por vezes as palavras complicam. onde há sentimento, existem olhos para o transmitir; onde há paixão, existem gestos para a demonstrar; onde há amor, existem corações a bater de forma desordenada e acelerada. as palavras são redundantes, por vezes. até acabam por ser traiçoeiras e inoportunas naqueles instantes em que se desamarra a vontade e o desejo invade os sentidos, delegando ao corpo o controlo da situação, depois de os olhos já terem feito metade do trabalho. e um olhar, às vezes, consegue ser mais eloquente do que mil palavras...

the revenant - o veredicto



um filme claramente sobrevalorizado, não em virtude dos seus aspectos técnicos (realização, fotografia, efeitos visuais e som) ou de interpretação (leonardo dicaprio tem o óscar garantido, embora passe metade do filme a fazer o mesmo tipo de gemidos que eu faço quando estou com gripe), mas sim de argumento. duas horas e meia (a meu ver, o filme tem meia hora a mais) para uma história de vingança, em que as personagens, tirando o protagonista, revelam uma fraca densidade emocional, a roçar a unidimensionalidade, atribuem ao argumento do filme uma mescla de insipidez e monotonia, daquelas que nos fazem abrir a boca (de sono, não de espanto) de dez em dez minutos. claro que também existem momentos de abrir a boca de espanto, nomeadamente a batalha inicial e a já famosa cena do urso, ambas com o mérito a ir direitinho para o realizador mexicano alejandro gonzález iñárritu, que se arrisca a vencer o óscar de melhor realizador em dois anos consecutivos. uma palavra final para a fotografia, da responsabilidade de outro mexicano, emmanuel lubezkia, que é a todos os títulos notável.

domingo, janeiro 10, 2016

dez anos de nuvens da alma (2006-2016)


10 de janeiro de 2006: depois de muitas voltas à cabeça, a designação "nuvens da alma" é escolhida para intitular o blogue, superando pérolas como "o meu reino por um guarda-chuva", "centro de baixas depressões" ou "está um tempo bom para estender uma máquina de roupa". despretensioso e modesto, aqui e ali leviano, acolá assertivo, lá adiante, atrás daquela macieira, não, não, a outra, do lado direito, pertinente, o blogue conseguiu encontrar o seu espaço na blogosfera, algures entre uma bola de cotão e um cotonete usado. foi crescendo devagarinho, tentando sempre trilhar os caminhos certos, ser diferente, uma espécie de espelho das idiossincrasias, misantropia e, por que não dizê-lo, alguma imbecilidade do seu autor. os leitores foram surgindo, alguns até ficaram por um longo período de tempo; outros, porventura mais sensatos, passaram, deram uma vista de olhos e seguiram viagem. tentei aliciar os visitantes, oferecendo um queque de laranja da dan cake e um capri-sonne de pêssego a quem ficasse mais de meia hora no blogue. em vão. aconteceu precisamente o mesmo com os vouchers de fim de semana em carrazeda de ansiães. mesmo assim, não esmoreci. escrevi textos atrás de textos, sobre tudo e mais alguma coisa, e até tive a sorte de ver um dos meus textos escolhidos pelo suplemento p2 do jornal "público". o tema foi a fuga de fátima felgueiras para o brasil. portanto, a partir daqui só poderia ser sempre a descer. e foi mesmo. sobretudo naquele extenso relato da minha viagem ao piódão, em que, obviamente, para não sair da personagem, escolhi o caminho mais difícil para lá chegar. mas valeu pela paisagem e pelos quatro mini-avc's que tive.
a rotina da vida caseira, o quotidiano familiar, as peripécias dos filhos, os aniversários, vida escolar, etc., tudo serviu para um post, um desabafo para memória futura. e, dez anos depois, acreditem que sabe mesmo bem reler esses textos, relembrar esses momentos todos com um sorriso nos lábios.
como é evidente, sendo este um blogue pessoal, os meus gostos foram fáceis de soltar. música, cinema, televisão, humoristas, futebol (e esse grande desgosto de o sporting nunca ter sido campeão ao longo destes dez anos). aqui coube sempre tudo o que eu quis partilhar com os meus leitores, até as minhas irritações sociais, a antipatia que gero em desconhecidos e a recorrente incapacidade de me servirem um café realmente curto quando o peço. mais as péssimas primeiras impressões que coleciono, a rapidez com que perco amigos (quase tão rápido como perco guarda-chuvas) e a falta de jeito para construir novas amizades. digamos que o meu jackpot neurótico está e fica bem evidente nestas páginas. pelo meio, ainda tentei dar largas à minha veia poética, com uma dúzia de poemas mal amanhados, e dei início a um livro que ainda está a meio (chegou aos dez capítulos). até que surgiu uma nova paixão: a fotografia. fui colocando vários instantâneos fotográficos por aqui, até surgir a ideia de criar um blogue específico para essa actividade (o http://photoblografia.blogs.sapo.pt/).
em suma, são dez anos que não me envergonham, não me deslustram, antes pelo contrário. fico naturalmente satisfeito por aqui ter chegado e prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para estar cá daqui a outros dez a escrever um texto igualmente parvo.
a todos os que me ajudaram nesta odisseia (sim, estou-me a referir a vocês os seis...), fica o meu agradecimento sincero, o meu respeito e a minha vénia. se tivesse chapéu (o que seria uma enorme estupidez, uma vez que estou de pijama e chinelos), tirava-o agora mesmo para vos saudar. o blogue também é vosso... portanto, se me quiserem aliviar a carga e escrever um textito de vez em quando, eu agradecia.
obrigado!

sábado, janeiro 09, 2016

algumas estatísticas para combater insónias

na véspera do décimo aniversário deste blogue, apresento algumas estatísticas sobre a página do nuvens da alma no facebook, que apresenta números interessantes. desde logo, os seus 188 seguidores, número bem superior ao número de amigos do autor do blogue. em menos de dois anos de vida naquela redes social, o nuvens da alma divide o seu pecúlio da seguinte forma: 71% são do sexo feminino e 29% do sexo masculino. em termos de faixa etária, as mulheres ficam com as três primeiras posições: 31% entre os 35 e os 44 anos; 20% entre os 45 e os 54 anos; e 12% entre os 25 e os 34 anos. depois, surgem os homens: 9% entre os 35 e os 44 anos; e os mesmos 9% entre os 45 e os 54 anos. Com 5%, regressam as mulheres, desta vez entre os 55 e os 64 anos, a mesma faixa etária onde os homens obtêm 4%. 
em matéria de países, portugal surge naturalmente à frente, com 148, seguido do brasil, com 15, e do reino unido, com 4. suiça e itália (3) e espanha, alemanha e frança (2) também fazem parte da tabela, que fecha com um membro em cada um destes três países: estados unidos da américa, noruega e, surpreendentemente, moçambique.
já em termos geográficos nacionais, lisboa encabeça a lista, com 24 membros, seguindo-se viseu, com 23, vila nova de gaia, com 15, e porto, com 14. destaque para a presença de membros da página do nuvens da alma em lugares tão remotos como aprilia (itália), maputo (moçambique), three rivers (estados unidos da américa), ivaiporã (paraná - brasil), oslo (noruega), florianópolis (brasil), tenerife (canárias - espanha), marburgo (hesse - alemanha) e durnten (zurique - suiça).

sexta-feira, janeiro 08, 2016

tive necessidade de escrever isto

dez anos depois, continuo sem atingir o meu objectivo: vender o nome do blogue à tvi para servir de título a uma novela. nesse aspecto, falhei completamente. noutros também, mas este eu julgava ser perfeitamente viável.
os blogues estão novamente na moda, sendo esta a palavra certa, na medida em que qualquer badameco, ou badameca, que se entretenha a julgar a roupa que os outros vestem passa de desempregado a "blogger" em dois dias. no meu tempo, um "blogger" era alguém que queria manter o anonimato, vivendo nas sombras, privilegiando a liberdade da escrita, precisamente por ninguém saber quem ele era, mas, ao mesmo tempo, lançando farpas certeiras ao poder instalado, fosse ele central, local, paroquial ou associativo. havia uma necessidade de agitar as massas, de acordar um país ainda pouco desperto para este tipo de ferramentas.
mais tarde, surgiram os blogues predominantemente políticos, tanto de direita como de esquerda, que prolongavam na blogosfera a propaganda eleitoral e partidária dos seus apaniguados. claro que também existiam coisas aberrantes como "a pipoca mais doce", uma espécie de embrião da blogosfera fútil e desprovida de neurónios que hoje campeia no país, mas na generalidade a qualidade dos blogues era alta e apetecia mesmo fazer parte daquele mundo. e o que é certo é que fiz mesmo.
foram bons anos: 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010. parecia que havia sempre assunto, matéria e factos para comentar, analisar e apreciar. quando acontecia algo, era uma correria para o computador para fazer um dos primeiros posts sobre o assunto e ficar à espera dos comentários. lembro-me bem de várias altercações que tive com leitores do meu blogue, com os comentários a prolongarem-se até à meia centena. bons tempos! tempos até em que havia alguma preocupação em se escrever bem, sem erros, sem abreviaturas, sem "lol's" e essas merdas. hoje vale tudo em termos de "escrita" e as caras amarelas fazem praticamente o trabalho todo. neste nosso tempo, ilustres personalidades como fernando pessoa ou eça de queirós não teriam a mínima possibilidade de vingar.
tudo isto serve para desenhar alguma frustração num presente desencantado e, acima de tudo, despreocupado. são aos milhares os "tiveste bem" em vez do correcto "estiveste bem", ou "eu tive em madrid na semana passada" em vez de "eu estive" (e não estou a mandar uma piada para rafa benitez). confunde-se o verbo "ter" com o "estar" como quem compra pepsi em vez de coca-cola. a ideia é despachar, estugando os processos de comunicação, mesmo que se cometam autênticos atentados à nossa língua.
portanto, não admira que, depois da aberração que constituiu o novo acordo ortográfico e as facilidades que ele trouxe para quem sempre se borrifou para a língua portuguesa, qualquer dia este género de calinada seja validado e ratificado, ficando a valer tanto o "tive" como o "estive". sempre se foram comendo as palavras neste país. agora até já imitamos os brasileiros (o que não admira, na medida em que o novo acordo ortográfico foi quase como que uma vassalagem nossa ao país irmão) e encurtamos o "independentemente" (porque é uma palavra muito grande...), passando a dizer "independente". um exemplo: "eu vou votar no domingo, independente das condições climatéricas". qualquer dia, não existem palavras com mais do que oito letras. cansam muito...

quinta-feira, janeiro 07, 2016

escadas


gostaria de estar a subir umas escadas diferentes nesta altura da minha vida. talvez umas que, durante o processo, me proporcionassem muito mais satisfação e prazer, ou umas em que eu ansiasse avidamente por chegar ao topo. a realidade é que as escadas são as que tenho à minha frente. tenho-as subido com receio, tropeçando aqui e ali, com alguma insegurança e, acima de tudo, medo de falhar e de desapontar aqueles que me estão a ver, alguns mesmo até a apoiar. mas, porventura, sentir-me-ia muito mais confiante e seguro ao iniciar o mesmo processo noutras escadas. umas que eu quisesse efectivamente subir e em que não tremesse à primeira contrariedade ou duvidasse das minhas capacidades a cada tropeção. mas cá as vou subindo, uma a uma, resignado, à espera que, a qualquer momento, me possam aparecer outras mais aliciantes...

quarta-feira, janeiro 06, 2016

antecipando o décimo aniversário



já tinha saudades vossas. sim, estou a falar dessa meia dúzia de resistentes que ainda passa regularmente por este cantinho para ver se há algo de novo. e realmente aconteceu muita coisa neste hiato de tempo, com o ano de 2015 a vestir de negro e a ficar guardado na prateleira como um dos mais desafortunados de sempre. e acreditem que me fez falta vir aqui desabafar as minhas amarguras. mesmo que ninguém as lesse, sei que ficaria melhor se as gritasse para a blogosfera.
muita coisa mudou, é um facto. desde logo, a nível profissional. desde a criação deste blogue, em 2006, sempre tive o mesmo emprego, que, apesar de mal pago e de oferecer condições precárias a todos os níveis, teve esse lado positivo de me possibilitar a sua actualização quase diária. tinha tempo, música à disposição, internet rápida e até silêncio e disponibilidade para deixar a inspiração chegar. o início de 2015, no entanto, fez-me ver que nunca chegaria a lado algum naquele emprego (já tinha completado todas as etapas mesmo) e que estava a enterrar os meus melhores anos de vida profissional num buraco sem fundo. resolvi, então, sair, arriscando mesmo ficar algum tempo sem trabalhar (sempre eram 42 anos e toda a gente sabe como estava o mercado de trabalho no início do ano). e o certo é que fiquei mesmo, talvez até um pouco mais do que estava à espera. foram meses e meses de centro de emprego, formações profissionais inócuas, juntas de freguesia, segurança social, burocracia imensa, papelada, carimbos, senhas de atendimento, procura de emprego em todas as plataformas possíveis, entrevistas, etc.. em novembro, porém, a sorte começou a iluminar o meu caminho, acabando por me trazer boas novas. chegou tarde a redenção, mas ainda veio a tempo de me dar algumas alegrias em 2015.
o blogue, todavia, é que foi perdendo protagonismo. com a chegada do facebook, o nuvens da alma ressentiu-se bastante, ficando um pouco para trás nas prioridades, em detrimento da rapidez do feedback que aquela rede social oferecia (e oferece). em todo o caso, os posts foram continuando, porém de forma menos regular, até que surgiu a ideia de criar também a página do nuvens da alma no facebook. juntei o melhor dos dois mundos (blogosfera e redes sociais) e o resultado até tem sido agradável em termos de visitas, interacção e aceitação, embora a maior parte dos textos seja uma espécie de retalho de alguns textos que me deram mais gozo escrever e, posteriormente, reler. e alguns textos dão-me realmente gozo voltar a ler. e são esses que costumo partilhar na página do facebook do blogue.
hoje, dia 6 de janeiro, dou por mim a consciencializar-me de que faltam poucos dias para o décimo aniversário do nuvens da alma e não quero, de forma alguma, deixar passar essa efeméride. este blogue sempre teve o efeito de uma montanha russa, com os seus altos e baixos. alturas houve em que o idolatrei e fazia dele o meu escape diário, o meu muro das lamentações, o meu confessionário; e outras em que, pela pressão de ter que o actualizar, para o manter interessante (sim, como se isso alguma vez fosse possível...) e vivo, quase o ostracizei. agora, passados quase dez anos, olho para ele com alguma nostalgia e carinho. caramba, são dez anos! são 2152 posts, quase 200 mil visualizações, 29 seguidores e 2137 comentários. estão nele registados os últimos dez anos da minha vida. ou, se calhar, podíamos dividir a coisa: de 2006 a 2010 no blogue; e de 2011 a 2015 no facebook. em todo o caso, aqui ficaram expressos muitos dos meus gostos (musicais, televisivos, cinematográficos), muitas das minhas irritações sociais, muitas paixões, desgostos, desabafos, frustrações, resignações. e, por tudo isto, a aproximação do seu 10º aniversário puxa pelo meu sentimentalismo e, daqui até lá, dia 10 de janeiro, vou fazer posts diários, nem que seja para falar do tempo ou das contratações de inverno do união da madeira. o que interessa é voltar a dar vida ao nuvens da alma. e, para isso, quem melhor do que eu!...