quarta-feira, outubro 30, 2013
o que se ouve por aqui
ainda mal refeito do efeito avassalador que o disco "a church that fits our needs", dos lost in the trees, provocou, chegou-me agora à "mesa de trabalho" este disco dos norfolk & western, projecto musical liderado por adam selzer, intitulado "the unsung colony". pelas primeiras audições, tenho a ligeira impressão de que vem aí nova "paixoneta".
o site all music atribui-lhe 4,5 em 5 estrelas e descreve desta forma o disco:
"it's often said of esoteric records that each listen reveals more. but if ever a recording that didn't require a phd in musicology could be said to continually surprise a listener, this is it. The Unsung Colony is painstakingly crafted but also elegantly simple, as familiar and welcoming as it is new and exhilarating. and that makes it one of the most rewarding listens of this or any year".
vai continuar a rodar por aqui incessantemente.
sexta-feira, outubro 25, 2013
caminhando
apesar da chuva, vou aproveitar este fim de semana para caminhar e correr. é engraçado como se definem actualmente as coisas: se estamos a pensar ir do ponto A para o ponto B estamos simplesmente a "caminhar"; mas se paramos algures e apontamos para uma árvore, estamos a fazer "caminhadas". mesmo um simples "olha ali um pássaro!" pode levar as pessoas a confundirem-te com um ornitólogo. decididamente, o ideal é não apontar para lado nenhum...
quarta-feira, outubro 16, 2013
photoblografia
compilação de instantâneos fotográficos de um aspirante a fotógrafo amador, que descobriu, um pouco tarde, convenhamos, que tinha uma máquina fotográfica lá em casa e que esta poderia ter outras utilidades para além de pisa-papéis...
http://photoblografia.blogs.sapo.pt/
domingo, outubro 13, 2013
mark kozelek em aveiro
esta foi a última música que mark kozelek cantou ontem à noite, no teatro aveirense, num concerto englobado no festival vagabundo, que decorreu nas cidades de torres novas, aveiro e torres vedras. durante uma hora e meia, kozelek passeou a sua inebriante voz por músicas dos seus discos mais recentes e ainda apresentou três temas do próximo disco dos sun kil moon, "benji", que será lançado em fevereiro de 2014. a força motriz do concerto foi o brilhante "perils from the sea", que kozelek gravou em colaboração com jimmy lavalle, dos the album leaf. temas como "by the time that i awoke", o primeiro da noite, "gustavo", "caroline", "ceiling gazing" e "somehow the wonder of life prevails" desfilaram perante uma plateia rendida ao profissionalismo inatacável do cantor, que não se coibia de ficar longos segundos a afinar a sua única guitarra entre músicas, sempre à procura do tom correcto. kozelek ainda passou por "among the leaves", o último disco dos sun kil moon, pelo disco de colaboração com os desertshore, banda de phil carney, antigo guitarrista dos red house painters, e aceitou um pedido do público para tocar "alesund", do disco "admiral fell promises", também dos sun kil moon.
mark kozelek entrou em palco debaixo de fortes aplausos. sentou-se, colocou a guitarra em cima da perna direita e começou a tocar "by the time that i awoke". naquela que era a terceira vez que o via ao vivo, eu sabia que a voz dele não me iria decepcionar. e assim foi. na primeira música ficou bem delineado o que se iria passar a seguir. foi como se kozelek fosse o condutor de um autocarro numa longa viagem. a confiança cega no condutor aconteceu logo na primeira curva. foi só sentar-me da forma mais confortável possível e apreciar a viagem. seguiu-se "katowice", do disco "mark kozelek & desertshore", lançado em agosto passado. o cantor parecia distante do público, mas já estava a contar com isso mesmo. de trato nem sempre fácil, são frequentes as histórias de altercações entre público e artista e situações em que pura e simplesmente abandona o palco quando algo não está de acordo com o seu profissionalismo. o "pânico" instalou-se quando kozelek, na sua primeira intervenção não musical, se insurgiu com as luzes do palco. ficou irritado quando, no final da primeira música, depois dos aplausos, foram ligadas as luzes da sala (tinha acontecido isso mesmo durante o concerto anterior, de jp simões, que fez sempre longas pausas entre as músicas com monólogos hilariantes). kozelek pediu para desligarem as luzes, dizendo que não precisava de ver o público. depois, pediu para escurecerem ainda mais a luz que incidia sobre ele. quem não o conhecia, ficou a saber o quão meticuloso e exigente consegue ser o cantor norte-americano. nesta altura, já eu estava convencido que kozelek estava piurso e que nem sequer ia existir algum diálogo com o público. mas, no final da terceira música, o homem falou. "so, what were you whispering about?", perguntou, quando sentiu o público a falar enquanto preparava a sua guitarra para o próximo tema. depois brincou com o facto de apenas ver o queixo de algumas pessoas, devido à luz imanada dos telemóveis, e atirou uma hipótese para o ar sobre o que estariam essas pessoas a escrever nos mesmos. "i'm in a mark kozelek concert and he's not singing the songs i wanted him to sing". risada geral na sala. o gelo estava quebrado.
a primeira visita ao próximo disco dos sun kil moon foi feita com "richard ramirez died today of natural causes", a música que mais exigiu do cantor, que debitou a extensa letra num ritmo alucinante. antes da saída de palco, mark kozelek apresentou um dos melhores momentos da noite: "ceiling gazing", que pareceu cantada com o coração nas mãos. se até àquele momento já estava completamente estarrecido perante o virtuosismo de kozelek, esse tema, um dos meus preferidos de "perils from the sea", destruiu a mais pequena dúvida que ainda pudesse existir no meu organismo de que estava perante aquele que é, no panorama musical, a minha maior referência. e ele estava ali, à minha frente, a uns míseros 4 metros de mim (que estava na primeira fila). daí que tenha ficado a aplaudir, vigorosamente, desde o momento em que a música acabou até kozelek voltar ao palco, para o habitual encore.
o cantor sentou-se, bebeu água, colocou a guitarra em cima da perna direita e perguntou ao público: "so, what do you want to hear?". não tardaram a surgir pedidos: "alesund", "medicine bottle", "have you forgotten" e "katy song" foram alguns títulos berrados para o palco. na minha impaciência, soltei "somehow the wonder of life prevails" para os ouvidos de kozelek, que começou por dizer que não ia tocar músicas que tinha escrito há 15/20 anos (uma referência aos temas dos red house painters), porque já não se identificava com as suas letras (e todos os admiradores do cantor sabem que ele canta sobre o seu dia-a-dia, sobre as pessoas que conheceu, ex-namoradas, amigos, familiares). foi como que um atestado de óbito aos red house painters, a banda mais importante da minha vida. saber que nunca mais vou ouvir ao vivo um tema deles, com a formação original, foi como que um murro no estômago. em 2001, no centro cultural de belém, kozelek ainda tocou "katy song", depois de muitos pedidos. pelos vistos, os red house painters, para mim, ficaram aí, nesse momento de concessão do cantor ao seu passado. o disco conhecido como "rollercoaster" ainda hoje é um dos meus preferidos e foi, seguramente, o mais marcante na minha vida. mas a vida continua e kozelek está, por estes dias, mais profícuo do que nunca, a lançar discos atrás de discos. e isso, para um admirador, é o que importa. o passado, apesar de intensamente brilhante, está bem arrumado na prateleira. agora é preciso arranjar espaço para os novos discos.
kozelek decidiu aceitar "alesund", mesmo dizendo que já não a tocava há algum tempo. no entanto, foi tão perfeita que parecia que o tinha feito no dia anterior. seguiu-se mais uma música nova, do disco "benji", entre conversas cada vez mais animadas com o público. o homem estava, agora, totalmente descomplexado e desinibido. arriscou um "so where's the girl that called me awesome?" (e sim, o piropo foi mesmo real). alguém na plateia brincou: "it was a boy". mas nem isso fez sorrir o cantor, que parece nunca sair da personagem que criou. seguiu-se "caroline", de "perils from the sea", numa altura em que o nó na garganta começava a desenvolver-se, já a adivinhar o final do concerto. e foi precisamente isso que aconteceu. ao anunciar que iria tocar a última música, kozelek agradeceu a presença do público. e que música escolheu ele para o final do concerto? exactamente aquela que eu tinha pedido uns minutos atrás (não sou alucinado ao ponto de pensar que foi de propósito, muito longe disso, mas fica bem registar aqui essa coincidência). "somehow the wonder of live prevails". que adjectivos usar? brilhante? magnífico? divinal? é ir ao dicionário e fazer copy/paste. foi o final perfeito de um concerto perfeito. voltando à analogia da viagem, foi como se kozelek tivesse chegado ao seu destino e estacionado, de forma irrepreensível, entre dois autocarros.
no final, cheguei, finalmente, à fala com mark kozelek. à terceira foi mesmo de vez, depois de paredes de coura e do centro cultural de belém. depois de alguma timidez, tão característica em mim, decidi que tinha que aproveitar o momento e, ainda por cima, o cantor estava ali, à mão de semear, apenas com duas ou três pessoas à sua volta. resolvi então gastar 10 euros num dos cds colocados à venda. escolhi "among the leaves", apesar de o ter em mp3, porque era o único cd sem plástico e era o que tinha a capa mais esbranquiçada, mais adequada para receber o tão esperado autógrafo. entretanto, a fila desvaneceu-se e kozelek estava entretido a falar com uma fã, ao lado da mesa dos autógrafos. enquanto esperava, reparei que não tinha caneta, nem ele, nem eu. pedi uma emprestada à pressa e ali fiquei à espera, de cd e caneta em punho. quando kozelek veio ter comigo, cumprimentei-o com um aperto de mão e "metralhei" o que me veio à cabeça, sabendo que teria poucos segundos da sua atenção. coisas do género "i've been your fan for twenty years" ou "great concert". concentrado, o cantor só disse "thanks", enquanto pegou na caneta e no cd para autografar. o resultado final é o que a foto documenta. em tom bem disposto, quase mesmo a sair da personagem, mark kozelek disse: "not your best pen".
passaram 24 horas, entretanto, e os flashes que vou tendo da noite de 11 de outubro de 2013, em aveiro, só me fazem sorrir. a palavra que mais me ocorre é "perfeição".
volte sempre, senhor kozelek! prometo levar uma caneta decente na próxima vez...
sexta-feira, outubro 04, 2013
mark kozelek a uma semana de distância
já com bilhete garantido, falta uma semana para ver, pela terceira vez, mark kozelek em palco. depois de paredes de coura e lisboa (ccb), concertos distintos em todos os aspectos (enquadramento, duração e empatia com o público), chega a vez de aveiro receber um dos maiores ícones do movimento slowcore (ou sadcore). vai ser a primeira vez que o vou ver sozinho em palco (nos outros dois concertos trouxe os "seus" red house painters), versão unplugged, e logo na primeira fila do teatro aveirense, o que equivale a dizer que posso muito bem apanhar com um perdigoto de kozelek. se tal acontecer, não tomarei banho durante dois meses...
festival vagabundo - dia 11 de outubro - teatro aveirense
mark kozelek ao vivo.
terça-feira, outubro 01, 2013
lost in the trees - a church that fits our needs
não conhecia a banda, projecto musical de ari picker, mas fiquei "agarrado" com este disco. como sou suspeito, deixo-vos com a crítica da rolling stone e várias músicas deste "a church that fits our needs". pungente é a palavra que mais me vem à cabeça, sobretudo quando se sabe que este é um disco dedicado à mãe de ari picker, a senhora da capa, que se suicidou em 2008 ("I wanted to give my mother a space to become all the things I think she deserved to be and wanted to be, and all the beautiful things in her that didn't quite shine while she was alive"). se ouvirem "icy river" vão entender estas palavras.
"The second album from North Carolina chamber-pop collective Lost in the Trees opens on a note of uncertainty, a far-off piano playing a chilling minor chord. It's a good indication of what's to come. Over the course of a dozen songs, frontman Ari Picker tries to make sense of his mother's suicide against a backdrop of rich orchestration, piled generously atop a base of delicate acoustic folk like heaping spoonfuls of vanilla frosting. Given the subject matter, it's no surprise that the mood is grim; buried deep within the swirling layers of strings, Picker's desperate falsetto sounds like a boy crying for help from within a blizzard. The result is songs suited less for a rock club than a church sanctuary, with Picker playing the forlorn choirboy". - rolling stone, abril 2012.