terça-feira, janeiro 29, 2013

onde está o botão de reiniciar?

os mais velhos costumam justificar uma série de infortúnios de uma determinada pessoa com um pouco esclarecedor "alguma bruxa te viu"... no fundo, é como atribuir as culpas a um unicórnio ou à fada dos dentes, mas pronto, eles lá sabem e não adianta contrariá-los... a questão é que quando alguém mergulha numa espiral negativa, com azares atrás de infortúnios e infelicidades atrás de adversidades, tenta desesperadamente agarrar-se a algo, a um culpado, nem que seja o raio do unicórnio, para, em primeiro lugar, justificar a desdita, e, em segundo lugar, tentar resolver a situação o mais rápido possível, para tudo voltar à normalidade. não basta encolher os ombros dezenas de vezes, bufar de trinta em trinta segundos ou apelar a uma divindade superior (nick drake) que "meta uma cunha" por nós.
"as coisas más, quando têm que acontecer, acontecem". "as coisas más fazem parte da vida". "as coisas más...". pronto, já calei o velhote (deviam acabar com os intervalos nos torneios de sueca).
estamos nós descansados da vida, a iniciar um novo ano, com renovada esperança de que algo bom nos possa eventualmente acontecer, quando, sem darmos por isso, três ou quatro situações nos colocam ao nível de um tapete. uma pessoa questiona-se, como é natural: "será que comi mesmo 12 passas ou só ingeri 11?"; "terei eu vestido as cuecas pretas em vez das azuis? ai esta minha miopia...".
é frequente entrar com o pé esquerdo em cada novo ano. já nem sei por que raio me espanto quando o carro avaria, as gripes vão lá a casa passar uns dias ou me cai um piano em cima quando vou a atravessar a estrada. é janeiro. ainda por cima está frio. não tarda nada, chega fevereiro. e então sim, a minha sorte vai mudar. pode ser apenas de roupa, mas vai mudar.
"não acredito em bruxas mas que elas existem, existem"... vá, já são horas de ir para a caminha. não se esqueça da lindor. (raio do velho...)

quarta-feira, janeiro 16, 2013

amargos tempos




a doutrina dos tempos modernos, a filosofia reinante que privilegia tudo aquilo que é parecido com o que pretendemos, porque é mais prático, mais barato, mais simples e mais rápido. a lei do menor esforço criou raízes profundas e uma larga fatia da sociedade parece contentar-se com o "é quase isto" em vez do "é isto mesmo". desiste-se de uma virtude julgada impossível para não se perder a possível. é tudo cada vez mais "fake", numa invasão catatónica dos sentidos que tolda o discernimento daqueles que já desistiram de continuar a procurar a "real thing". para esses, o "fake" já é suficientemente bom e não se importam de viver numa mentira, desde que as aparências iludam os mais incautos e desinformados. porque, para esta gente, uma mentira, quando repetida cem vezes, passa a ser verdade.

segunda-feira, janeiro 14, 2013

globos de ouro 2013 - os vencedores


cinema

melhor drama: "Argo"
melhor comédia/musical: "Os Miseráveis"
melhor realizador: Ben Affleck ("Argo")
melhor ator de drama: Daniel Day-Lewis ("Lincoln")
melhor atriz de drama: Jessica Chastain ("00h30 Hora Negra")
melhor ator de musical/comédia: Hugh Jackman ("Os Miseráveis")
melhor atriz de musical/comédia: Jennifer Lawrence
("Guia para um Final Feliz")
melhor ator secundário: Christoph Waltz ("Django Libertado")
melhor atriz secundária: Anne Hathaway ("Os Miseráveis")
melhor filme estrangeiro: "Amor" (Áustria)
melhor argumento: Quentin Tarantino, "Django Libertado"
melhor banda sonora original: Mychael Danna ("A Vida de Pi")
melhor música original: Adele e Paul Epworth ("007 - Skyfall")
melhor filme de animação: "Brave - Indomável"

televisão

melhor série dramática: "Segurança Nacional"
melhor atriz de drama: Claire Danes ("Segurança Nacional")
melhor ator de drama: Damian Lewis ("Segurança Nacional")
melhor série de comédia/musical: "Girls"
melhor atriz de comédia/musical: Lena Dunham ("Girls")
melhor ator de comédia/musical: Don Cheadle ("House of Lies")
melhor mini-série/filme: "Game Change"
melhor atriz de mini-série/filme: Julianne Moore ("Game Change")
melhor ator de mini-série/filme: Kevin Costner ("Hatfields & McCoys")
melhor atriz secundária de série/mini-série/filme: Maggie Smith
("Downton Abbey")
melhor ator secundário de série/mini-série/filme: Ed Harris
("Game Change")

 
Prémio Carreira Cecil B. DeMille: Jodie Foster

quinta-feira, janeiro 10, 2013

7 anos de nuvens da alma

 
 
custa a acreditar... uma pessoa vai à janela, fica especado a olhar durante uns minutos e, de repente, já passaram sete anos. o tempo voa, nunca volta atrás, foge-nos como areia fina por entre os dedos nesta ampulheta gigante que é a vida.
em sete anos muita coisa aconteceu: primeiros-ministros caíram em desgraça e foram viver principescamente para paris, presidentes da república passaram a ter a mesma utilidade que um candelabro, políticos interventivos e eloquentes que mal abrem as "portas" de um cargo ministerial deixam de ser vistos e ouvidos, um clube que veste de verde e branco deixou praticamente de existir, subsídios voaram da carteira dos cidadãos, a língua portuguesa, tal como a conhecíamos, morreu, em virtude de um aborto ortográfico inenarrável, o processo casa pia continua sem fim à vista e, pasme-se, até a "praça da alegria" passou do porto para lisboa. é muita coisa para processar, sobretudo esta última (o que será de nós sem a presença diária de sónia araújo a fazer ginástica na televisão?...), mas vamos aguentando estoicamente, contando os cêntimos para tomar um café, aqueles mesmos cêntimos que antigamente expulsávamos da carteira por considerarmos que não tinham utilidade nenhuma, tentando poupar o mais possível para, num puro acto de loucura, ir jantar fora com a família ou ir ao cinema. apenas uma destas, porque as duas juntas obrigariam a um (novo) pedido de empréstimo bancário.
mas voltemos ao blogue e ao seu sétimo aniversário...
em 2006, lembro-me bem, o sporting ainda lutava pelo título nacional. velhos tempos... agora luta para não descer de divisão. jesualdo ferreira estava no fc porto, depois de ter estado vários anos no benfica. hoje, está no sporting. sempre foi um dos treinadores que mais detestei no mundo futebolístico. agora tenho que torcer pelo seu sucesso, porque caso não o tenha estarei no próximo ano a ver o sporting em tondela. e não estou a falar da equipa b...
mas voltemos ao blogue e ao seu sétimo aniversário...
estas nuvens da alma já passaram por vários ciclos e já cá tivemos um pouco de tudo (menos receitas culinárias e dicas sobre jardinagem). vejo este blogue como um reflexo do que sou como pessoa: uma tremenda confusão. umas vezes privilegiei o cinema, outras a música, aqui e ali a poesia, lá diante o futebol, mais acolá, atrás daquela macieira, as séries de televisão. não é um blogue específico, porque eu também não o sou. fico sempre meia-hora para decidir o que comer em restaurantes. e nem me falem em sobremesas... acima de tudo, tendo colocar aqui tudo aquilo que gosto, até para memória futura. sei que me vai dar algum gozo, daqui a uns 20 anos, vir aqui descobrir quem eu era, até porque nessa altura já nem do meu nome me lembrarei, certamente. sei que vou gostar de ouvir as músicas que hoje venero, de relembrar séries ou filmes que me fizeram vir a correr para o computador com o propósito de os elogiar. sei também que aqui estão reunidos muitos momentos da minha vida, familiar, profissional e pessoal, bem como referências a amizades, umas mais fortes do que outras, e a pessoas que me marcaram de alguma forma nesta caminhada pela auto-estrada da vida (já foi uma ampulheta gigante... agora é uma auto-estrada... decide-te pá!).
à meia dúzia de pessoas que (ainda) passa por este blogue não prometo estar aqui, daqui a um ano, a escrever um texto desprovido de sentido para comemorar o oitavo aniversário. o entusiasmo esmorece, está cada vez mais frio, os comprimidos esgotam nas farmácias, os amigos estão longe, os concertos musicais são praticamente um luxo inacessível, férias são coisa do século passado, a última noitada ainda foi no tempo de d. afonso henriques e é cada vez mais difícil combinar alguma coisa com a monica bellucci...
mas voltemos ao blogue e ao seu sétimo aniversário...

segunda-feira, janeiro 07, 2013

a.a. bondy - believers (2011)

 
 
de vez em quando aparece um disco que "encaixa" de uma maneira perfeita nos nossos gostos. aconteceu há precisamente um ano com o disco "what the night delivers", de scott matthews; acontece novamente agora, com este "believers", de aa bondy, antigo vocalista da banda grunge verbena. o "aa" do nome representam as iniciais do cantor (augeste arthur), que enveredou por uma carreira a solo em 2007, adoptando outro nome artístico (o anterior era scott bondy), bem como uma sonoridade muito mais suave e calma, trocando o grunge pelo indie folk. "american hearts", lançado em 2007, foi o primeiro trabalho a solo do cantor, seguindo-se-lhe "when the devil's loose", em 2009. em setembro de 2011, surgiu este "believers", um disco perfeito para uma noite de insónia, suficientemente intimista para nos embalar estrada fora, pela noite dentro, com as mãos nos bolsos, a contemplar a noite. o site "all music", a propósito, descreve assim o disco: "and for 2011's "believers", bondy's music has crept further into the darkest hours of the early morning, conjuring up a sound that lurks somewhere between consciousness and a dream; these ten songs are full of elusive magic and bondy and his collaborators have made an album that's long on mystery but satisfying enough to make it worthy of repeated investigation; you're not likely to hear a new album that sounds better after 1 A.M. than this anytime soon". por sua vez, o site "the line of best fit" termina assim a sua crítica ao disco: "believers is the exciting sound of a remarkable songwriter finding his own, genuinely unique voice; a masterful album of arresting details forming a cohesive, hugely compelling whole that’s so much more than a sum of its impressive parts".
há algo de hipnótico neste album, como uma viagem interior ao coração da mais negra melancolia, às raízes da solidão nostálgica e contemplativa. "believers", apesar de muito homogéneo, atinge o seu ponto alto no final, com as duas últimas músicas (rte.28/believers e scenes from a circus) a fundirem-se de uma forma perfeita. e como não consigo dizer isto de uma forma mais perfeita, volto a recorrer ao site "the line of best fit": "the road-weary beauty of ‘rte 28/believers’ eventually blooms into a slow-motion second movement that’s like a ray of tentative early morning sunlight peeking through the impenetrable darkness of night".
nos posts imediatamente a seguir a este, podem ouvir quatro músicas deste album.
espero que gostem!...