não sei, se calhar fiz tudo mal. caramba, se nem no hi5 tenho "saída" o que me restará? é certo que fico com a distinção de ter sido o primeiro blogger a iniciar um post com as palavras "não sei", mas é nitidamente pouco para quem, nesta altura da vida, esperava já ter realizado pelo menos sete dos seus quatrocentos e vinte e oito sonhos. a vida é feita de círculos e de ciclos. temos determinado círculo de pessoas à nossa volta em determinado ciclo da nossa vida (e prometo que vou deixar de escrever a palavra "determinado"). passando esse ciclo, o círculo de pessoas desaparece. no fundo, são etapas de vida, camadas de experiência por que temos de passar, como tomar banho aquando do baptizado, com água fria, ainda por cima, aprender a andar de bicicleta e, consequentemente, aprender a não gritar quando a mãe nos coloca álcool nos joelhos esfolados, ir à escola, começar a namorar, ir à escola porque nos esquecemos lá do porta-lápis, a alegria de termos um quarto só para nós, a imposta responsabilidade de termos de o arrumar sozinhos, ir à escola porque nos esquecemos lá da namorada, ir para a universidade ou, transversalmente, para arrumador de carros, começar a trabalhar, casar, ter filhos, ir à escola porque nos esquecemos lá do filho, passar pela famosa crise de meia-idade, comprar um porsche, quando se pode, para disfarçar a crise da meia-idade, ser avô e, com sorte, bisavô e, finalmente, morrer. e o que fica desta vida? o raio do porta-lápis que ficou na escola.
sim, não há dúvidas que as pessoas que nos rodeiam são essenciais. imaginem o que seria passar a adolescência tendo como amigos de escola o cláudio ramos, o nuno eiró e o daniel nascimento. é claro que não podemos encomendar por catálogo as pessoas que queremos conhecer, caso contrário todas as mulheres escolheriam o george clooney ou o johnny depp e os homens optariam pela filha do nené ou pela betty grafstein. elas surgem de repente, caem de pára-quedas nas nossas vidas, sem pré-aviso que nos permita, ao menos, tomar banho antes. depois, como é natural, entra em campo o nosso rigoroso sistema selectivo, que faz com que fiquemos naturalmente com as pessoas com quem mais nos identificamos (ou que tenham seios grandes, é opcional) e deitemos fora as outras, as chatas, as inoportunas e as falsas (e as que nem de calças de licra bem apertadas fiquem minimamente atraentes). depois, quando nos dá para a introspecção, como num qualquer dia de aniversário, olhamos para trás e vemos que ainda nem levantamos a mesa do jantar. depois disso, continuamos a avaliar intensamente o nosso percurso ao longo de meia vida. afinal, segue-se a etapa da crise da meia-idade e eu não tenho dinheiro para um porsche, nem para um renault clio ou um smart. com sorte, consigo comprar um datsun 1200 de 1982 num sucateiro. a questão é esta: estarei devidamente preparado para esta crise? e ainda posso colocar mais algumas questões pertinentes, como estas: o que hei-de vestir? o que levo para comer? fará frio ou calor? conseguirei destrocar uma nota de 200 euros? não faço a mínima ideia de que forma vou enfrentar tudo isto.
o que é suposto eu fazer na minha crise de meia-idade? vestir-me como se tivesse 19 anos? fazer desportos radicais? ver os morangos com açúcar? andar na rua sempre com o mp3 a bombar nos ouvidos? visitar os pais só para poder sair disparado de casa deles a vociferar "nesta casa ninguém me entende"? não sei. só sei que por esta altura se começa, efectivamente, a ver o tempo fugir-nos e queremos aproveitar ao máximo tudo aquilo a que ainda temos direito. ontem, que diabo, até comi sushi. não quero morrer ignorante. "então meu amigo, gostou da vida que levou?", pergunta-me o s. pedro. "gostei, foi interessante", respondo-lhe eu. "experimentou tudo? plantar uma árvore? ser pai? sexo com gémeas polacas? tiramisu? por-do-sol na praia? sushi?", volta a perguntar o barbudo. "bolas, sushi, eu sabia que me faltava alguma coisa...". pois, era chato pedir ao homem para vir cá abaixo só para experimentar sushi. mas há ainda uma imensidão de coisas que ainda quero fazer, como ir à pesca. nunca fui mas sempre quero saber qual é a "pica" que se tira daquilo, do facto de se estar sentado largas horas com uma cana de pesca nas mãos. deve ser giro. ou talvez não. também gostava de ser comentador desportivo de voleibol de praia feminino. ou de ténis feminino. gostava de ir a itália, mas de avião nem pensar, só de comboio. gostava de ver ao vivo um jogo do campeonato inglês, se bem que isso seja praticamente impossível, só pedindo às equipas e aos adeptos para se deslocarem a portugal ou, vá, à espanha. ainda quero ver muitos concertos musicais, cantar ainda muitas vezes os parabéns aos meus pais e assistir ao crescimento dos meus filhos ao lado da minha mulher. são já vinte os anos ao seu lado, mais de metade da minha vida, em que a passagem do tempo apenas a tornou, ano após ano, ainda mais resplandecente aos meus olhos. tenho muitas dúvidas em relação a diversos aspectos do meu futuro, mas sei perfeitamente que nunca me vou cansar de olhar para ela. essa é a única certeza.
o futuro não me assusta. independentemente dos ciclos que aí venham, bons ou maus, conto com o apoio do meu círculo, nas alegrias e nas vitórias, nas tristezas e nas derrotas, e, essencialmente, para me ajudarem a encontrar as tais gémeas polacas...
sábado, agosto 30, 2008
sexta-feira, agosto 29, 2008
anos 90 (I)
"debonair", the afghan whigs, do disco "gentlemen", de 1993, interpretado ao vivo no late night with conan o'brien.
u.s. closed
ana ivanovic fez história ontem no u.s. open. foi a primeira número um mundial a perder na segunda ronda em 40 anos. julie coin, tenista francesa de 27 anos que ocupa a 188ª posição do ranking atp, venceu pelos parciais 6-3, 4-6 e 6-3. vinda de uma lesão, que a impossibilitou de marcar presença nos jogos olímpicos, a bela ana ivanovic bem poderia ter seguido os conselhos de marco fortes e ter ficado na caminha a descansar. mesmo assim, os americanos não ficaram muito desiludidos. um site americano escreveu mesmo: "it’s ok though because ana will live on at the open in our hearts and minds". à beleza desculpa-se tudo...
romântico incurável?
rui costa - ó mister, então qual é o avançado que quer?
quique flores - já não vem mesmo o luís garcia?
rui costa - é muito caro.
quique flores - e o saviola?
rui costa - também é muito caro.
quique flores - dios mio, mas então onde vamos arranjar um ponta de lança versátil?
rui costa - temos a hipótese de ir buscar o suazo, por empréstimo, ao inter de milão.
quique flores - quem é esse? jogou contra nós na taça eusébio?
rui costa - não. mas acho que esteve a aquecer por trás da baliza do quim. e pela forma como ele aqueceu deve ser muito bom.
quique flores - então pode ser esse.
rui costa - e há ainda outra faceta do jogador que lhe vai interessar de certeza...
quique flores - qual? joga bem de cabeça? remata forte de fora da área? faz bons cruzamentos?
rui costa - nada disso. ele é um romântico incurável...
quique flores - vamos já lá buscar o homem então.
too much californication
david duchovny, actor das séries "x-files" e "californication", entrou recentemente numa clínica de reabilitação devido ao seu vício por sexo. o advogado stanton "larry" stein, divulgou à imprensa o comunicado do actor, onde este afirma que foi de forma voluntária que decidiu sujeitar-se ao tratamento, pedindo respeito e privacidade para a sua esposa, a actriz téa leoni, e filhos, enquanto lidam com a situação como uma família.
david duchovny, de 48 anos, está casado com téa leoni há 10 anos e têm dois filhos, madelaine, de 9 anos, e kyd, de 6.
tendo em conta o papel que interpreta em "californication", o escritor hank moody, parece que a personagem lhe subiu à cabeça...
quinta-feira, agosto 28, 2008
sorteio da liga dos campeões
liga dos campeões 2008/2009
- constituição dos grupos
Grupo A:
Chelsea (ING); Roma (ITA); Bordéus (FRA); Cluj (ROM)
Grupo B:
Inter Milão (ITA); Werder Bremen (ALE); Panathinaikos (GRE); Anorthosis (CHP)
Grupo C:
Barcelona (ESP); Sporting (POR); Basileia (SUI); Shakhtar (UCR)
Grupo D:
Liverpool (ING); PSV (HOL); Marselha (FRA); Atlético Madrid (ESP)
Grupo E:
Manchester United (ING); Villarreal (ESP); Celtic (ESC); Aalborg (DIN)
Grupo F:
Lyon (FRA); Bayern (ALE); Steaua (ROM); Fiorentina (ITA)
Grupo G:
Arsenal (ING); FC Porto (POR); Fenerbahçe (TUR); Dínamo Kiev (UCR)
Grupo H:
Real Madrid (ESP); Juventus (ITA); Zenit (RUS); BATE Borisov (BIE)
à primeira vista, o grupo D será o mais equilibrado, com liverpool, marselha, psv e atlético de madrid. logo a seguir, nesta matéria, vem o grupo F, com lyon, bayern, steaua e fiorentina. o chelsea, de scolari, vai enfrentar a roma, o bordéus e a "catrefada" de portugueses que jogam no cluj, da roménia. o inter, de josé mourinho, um dos grandes candidatos, enfrentará o werder bremen, o panathinaikos e o anorthosis, do chipre. real madrid e juventus vão proporcionar, no grupo H, o primeiro grande embate de "gigantes" na fase de grupos. o zenit e a sensação bate borisov, da bielorússia, fecham o grupo.
sporting e fc porto nem se podem queixar muito da sorte, se bem que os portistas tenham um grupo mais difícil, com arsenal, que dispensa comentários, o fenerbahçe, treinado por luis aragonés, campeão da europa no euro 2008, e o sempre complicado dinamo kiev. o sporting fez ontem em madrid o ensaio geral, péssimo por sinal, para enfrentar o barcelona, um dos mais sérios candidatos ao troféu. as duas restantes equipas do grupo são, em teoria, acessíveis: o basileia, que os leões eliminaram no ano anterior na taça uefa e que, ontem, eliminaram o vitória de guimarães, e o shakhtar, da ucrânia.
- constituição dos grupos
Grupo A:
Chelsea (ING); Roma (ITA); Bordéus (FRA); Cluj (ROM)
Grupo B:
Inter Milão (ITA); Werder Bremen (ALE); Panathinaikos (GRE); Anorthosis (CHP)
Grupo C:
Barcelona (ESP); Sporting (POR); Basileia (SUI); Shakhtar (UCR)
Grupo D:
Liverpool (ING); PSV (HOL); Marselha (FRA); Atlético Madrid (ESP)
Grupo E:
Manchester United (ING); Villarreal (ESP); Celtic (ESC); Aalborg (DIN)
Grupo F:
Lyon (FRA); Bayern (ALE); Steaua (ROM); Fiorentina (ITA)
Grupo G:
Arsenal (ING); FC Porto (POR); Fenerbahçe (TUR); Dínamo Kiev (UCR)
Grupo H:
Real Madrid (ESP); Juventus (ITA); Zenit (RUS); BATE Borisov (BIE)
à primeira vista, o grupo D será o mais equilibrado, com liverpool, marselha, psv e atlético de madrid. logo a seguir, nesta matéria, vem o grupo F, com lyon, bayern, steaua e fiorentina. o chelsea, de scolari, vai enfrentar a roma, o bordéus e a "catrefada" de portugueses que jogam no cluj, da roménia. o inter, de josé mourinho, um dos grandes candidatos, enfrentará o werder bremen, o panathinaikos e o anorthosis, do chipre. real madrid e juventus vão proporcionar, no grupo H, o primeiro grande embate de "gigantes" na fase de grupos. o zenit e a sensação bate borisov, da bielorússia, fecham o grupo.
sporting e fc porto nem se podem queixar muito da sorte, se bem que os portistas tenham um grupo mais difícil, com arsenal, que dispensa comentários, o fenerbahçe, treinado por luis aragonés, campeão da europa no euro 2008, e o sempre complicado dinamo kiev. o sporting fez ontem em madrid o ensaio geral, péssimo por sinal, para enfrentar o barcelona, um dos mais sérios candidatos ao troféu. as duas restantes equipas do grupo são, em teoria, acessíveis: o basileia, que os leões eliminaram no ano anterior na taça uefa e que, ontem, eliminaram o vitória de guimarães, e o shakhtar, da ucrânia.
quarta-feira, agosto 27, 2008
real madrid - sporting II
ena, na segunda parte ganhamos 2-0... resultado final: 5-3.
algumas observações:
decididamente, hélder postiga nunca deveria ter seguido uma carreira de futebolista; romagnoli continua inconsequente e raramente toma a iniciativa e a responsabilidade de rematar à baliza; continuo sem saber se rochemback é precioso ou nocivo para o sporting; caneira lá prosseguiu o seu calvário, agora a defesa esquerdo, escondendo-se tanto do jogo que só aos 77 minutos dei por ele, quando ao tentar passar a bola a um colega de equipa a atirou, infantilmente, para fora; joão moutinho, para mim, não devia voltar a vestir a camisola do sporting, por isso nem devia ter jogado; adrien, em vez de amadurecer, parece que está cada vez mais "verde" e imaturo; por que raio não jogou vukcevic? é "apenas" um dos melhores jogadores do plantel! paulo bento implicou com o montenegrino, à imagem do que sucedeu com stojkovic, e agora temos que recorrer a pereirinhas, adriens, tiuís e postigas. enfim... quem não consegue resolver os problemas dentro do balneário, impondo respeito e fazendo-se respeitar, nunca consegue ir muito longe como treinador. basta comparar a atitude do técnico nos casos de stojkovic e vukcevic com aquela que evidenciou, e continua a evidenciar, no caso de joão moutinho.
aspectos positivos? houve alguns. abel e tonel demonstraram que estão em boa forma; izmailov é, cada vez mais, a "estrela da companhia", defendendo, atacando, rematando, sempre em alta rotação; e yannick djaló. admito que já embirrei solenemente com ele, às vezes tem falhas próprias de um juvenil, seja na recepção da bola ou no passe, mas, não havendo liedson ainda, tem sido djaló a resolver. e tem marcado quase sempre. vamos lá ver se paulo bento não se incompatibiliza com ele... nunca se sabe...
algumas observações:
decididamente, hélder postiga nunca deveria ter seguido uma carreira de futebolista; romagnoli continua inconsequente e raramente toma a iniciativa e a responsabilidade de rematar à baliza; continuo sem saber se rochemback é precioso ou nocivo para o sporting; caneira lá prosseguiu o seu calvário, agora a defesa esquerdo, escondendo-se tanto do jogo que só aos 77 minutos dei por ele, quando ao tentar passar a bola a um colega de equipa a atirou, infantilmente, para fora; joão moutinho, para mim, não devia voltar a vestir a camisola do sporting, por isso nem devia ter jogado; adrien, em vez de amadurecer, parece que está cada vez mais "verde" e imaturo; por que raio não jogou vukcevic? é "apenas" um dos melhores jogadores do plantel! paulo bento implicou com o montenegrino, à imagem do que sucedeu com stojkovic, e agora temos que recorrer a pereirinhas, adriens, tiuís e postigas. enfim... quem não consegue resolver os problemas dentro do balneário, impondo respeito e fazendo-se respeitar, nunca consegue ir muito longe como treinador. basta comparar a atitude do técnico nos casos de stojkovic e vukcevic com aquela que evidenciou, e continua a evidenciar, no caso de joão moutinho.
aspectos positivos? houve alguns. abel e tonel demonstraram que estão em boa forma; izmailov é, cada vez mais, a "estrela da companhia", defendendo, atacando, rematando, sempre em alta rotação; e yannick djaló. admito que já embirrei solenemente com ele, às vezes tem falhas próprias de um juvenil, seja na recepção da bola ou no passe, mas, não havendo liedson ainda, tem sido djaló a resolver. e tem marcado quase sempre. vamos lá ver se paulo bento não se incompatibiliza com ele... nunca se sabe...
real madrid - sporting
o jogo está no intervalo. resultado: 5-1.
algumas observações:
será pedro silva o pior jogador de futebol do mundo? bem, chamar-lhe "jogador de futebol" já é muito; miguel veloso sabe que está a jogar? alguém lhe disse? o que estão lá a fazer tiuí e postiga? para fazerem número de maneira a serem onze de cada lado? será que caneira nunca vai encontrar uma posição no terreno onde renda, efectivamente, alguma coisa? a forma como é "comido" por higuain no primeiro golo do jogo é de principiante; ronny saberá que pode tentar roubar a bola aos adversários em vez de lhes estender uma passadeira vermelha para eles passarem?
enfim, vamos ver se o resultado final não será uma hecatombe ainda maior do que a registada ao intervalo. a figura que estamos a fazer neste troféu de prestígio é má demais para ser verdade.
algumas observações:
será pedro silva o pior jogador de futebol do mundo? bem, chamar-lhe "jogador de futebol" já é muito; miguel veloso sabe que está a jogar? alguém lhe disse? o que estão lá a fazer tiuí e postiga? para fazerem número de maneira a serem onze de cada lado? será que caneira nunca vai encontrar uma posição no terreno onde renda, efectivamente, alguma coisa? a forma como é "comido" por higuain no primeiro golo do jogo é de principiante; ronny saberá que pode tentar roubar a bola aos adversários em vez de lhes estender uma passadeira vermelha para eles passarem?
enfim, vamos ver se o resultado final não será uma hecatombe ainda maior do que a registada ao intervalo. a figura que estamos a fazer neste troféu de prestígio é má demais para ser verdade.
2ª temporada de "californication"
a estreia da 2ª temporada de "californication", nos estados unidos da américa, está marcada para o dia 28 de setembro. vamos ver se não demora muito tempo a chegar a portugal. e, já agora, para quando o lançamento em dvd da 1ª série em território nacional? já tenho o dinheiro guardado desde julho para a comprar. se demorar muito ainda gasto tudo em gelados. por falar em lançamentos em dvd, em setembro vão ser lançadas algumas coisas interessantes. a saber: "joey" - 2ª temporada, no dia 11 de setembro; "prison break" - 3ª temporada, no dia 25 de setembro; e, principalmente, "entourage" - 4ª temporada, no dia 18 de setembro. lá vou ter que começar a juntar dinheiro outra vez.
terça-feira, agosto 26, 2008
26-08-1988
já foi há 20 anos...
carlos paião faleceu no dia de anos do meu avô, num acidente de viação em rio maior, quando se dirigia para um concerto integrado nas festas da vila de penalva do castelo, precisamente a terra do meu avô. era uma figura simpática, divertida, cheia de sentido de humor e criatividade, sem recorrer ao vernáculo e à verborreia popularucha, que tanto prolifera hoje na chamada música popular portuguesa (vulgo "pimba"). ao longo dos últimos 20 anos não apareceu ninguém no nosso panorama musical com as características e as qualidades de paião, o que constitui mais um forte motivo para o recordar. músicas como "souvenir", "play back", "pó de arroz", "vinho do porto", "o foguete", "meia dúzia", "cinderela" ou "versos de amor" marcam de uma forma indelével a infelizmente curta carreira do cantor. já lá vão 20 anos mas, de 1988 até hoje, não houve um único 26 de agosto em que não me tenha lembrado de carlos paião, pelo seu trágico desaparecimento, pelo sentido de humor, simpatia e boa disposição que dele irradiavam e, também, porque ficou "agrafado" sentimentalmente ao dia de aniversário do meu avô.
segunda-feira, agosto 25, 2008
capítulo IX
capítulo IX
os dias seguintes foram de tédio absoluto. o andré tinha ido de férias, com uma namorada recente, a verónica, para itália. eu tinha a casa só para mim e tempo para construir um navio, mas não me apetecia fazer nada. só tinha a sofia na cabeça, um pensamento tão vívido e tão forte que até me tolhia os movimentos. os dias de trabalho, a quinze dias de ir de férias, sucediam-se, sem nenhuma ponta de interesse. dias houve em que "despachei" a garrafa de vodka toda e, mesmo assim, as coisas não melhoraram. faltava-me lá o andré para a "galhofa", para nos rirmos de toda e qualquer situação, mesmo as mais normais possíveis. os meus outros colegas da repartição eram chatos como tudo, tinham uma cultura geral abaixo de cão, limitando-se a repetir durante todo o santo dia as anedotas que tinham ouvido na noite anterior nos "malucos do riso" ou nos "batanetes". eu devia olhar para o relógio umas duzentas vezes por dia, tal era a vontade de sair dali. atender as pessoas ainda era o mais insuportável, digamos que era bem o exemplo de um funcionário do estado: mal encarado, antipático e pouco prestável. ficava as tardes todas a pensar no que haveria de fazer quando saísse daquela "prisão" e, quando finalmente saía, metia-me em casa, sem coragem nem iniciativa para fazer fosse o que fosse. limitava-me a ficar no sofá, com o comando da televisão na mão, a mudar de canal. no dia seguinte, mais uma gigantesca dose de neura no trabalho. sempre, mas sempre, com a sofia na cabeça. angustiava-me a incerteza de um novo encontro, a minha cobardia e impotência para lhe pedir um número, uma morada, o que quer que fosse que a mantivesse ligada a mim. estávamos em agosto, ela estava certamente de férias, sabe-se lá onde. e eu aqui, "amordaçado", em lisboa, que parecia vazia, sem alma e também ela de férias.
os dias foram passando, sempre da mesma forma, até eu sentir uma enorme necessidade de falar com alguém, de algum calor humano, compaixão, ternura... ir a uma festa ou sair sem o andré era mentira, ainda não me sentia preparado para enfrentar uma multidão sozinho. mas dei o primeiro passo, que era vital, para estancar aquela monotonia: meti-me no carro, depois de jantar, e vagueei sem destino. para mim já era uma grande passo, aventurar-me sozinho na noite, sem "muletas", sem paternalismos de qualquer espécie. acabei por ir ao colombo tomar café, fazendo questão de escolher a mesma mesa onde estive com a sofia. desta vez tomei mesmo o café, seguindo depois para uma inconsequente excursão pelas montras. sentia-me tão sozinho, tão desamparado, que cheguei a pensar em ligar à sónia, que ainda estava por lisboa. mas o marco não iria compreender. depois pensei na paula, a fogosa mulher do césar cardoso, tal era o desespero. saí do colombo e passei por casa dela, de carro. não sei o que é que eu pensava encontrar indo lá. a paula à porta de casa, em lingerie, a fazer-me sinal com o dedo para eu entrar? um sinal gigante em neón a dizer "o meu marido saiu em negócios, só volta para a semana"? não sei o que me motivou a ir ali, à procura de algo que a paula, manifestamente, não me poderia voltar a dar. já tinha sido um grande risco da outra vez, ainda acabaria por lhe estragar a vida. por isso afastei-me do local, em direcção... ao vazio. ainda não me tinha sentido assim tão sozinho desde o meu divórcio. sentia-me mal e angustiado mas recusava-me a assumir a derrota daquela noite. continuei a conduzir, pela noite dentro.
estava uma noite quente, quase sem vento, e eu tinha os vidros abertos. parei num sinal vermelho e, do meu lado direito, vi três prostitutas, o que até era normal ver quando saía com o andré. de roupas minúsculas, maquilhagem a mais e... ao alcance de qualquer pessoa. uma delas disse bem alto "30 euros, uma hora". a minha primeira reacção foi de profunda censura e até de algum nojo. sempre tinha reprovado o conceito de alguém "alugar" o corpo por alguns minutos a troco de dinheiro. quando o sinal verde abriu, suspirei de alívio. mas, à medida que o tempo ia passando, e a frase "30 euros, uma hora" não deixava de ecoar na minha cabeça, começou a instalar-se uma forte curiosidade e uma vontade de experimentar algo que nunca tinha vivido. sim, tinha noção de que era o "último recurso", mas se houve noite, em toda a minha existência, em que eu não queria regressar sozinho para casa foi aquela. voltei a passar por lá e encostei. lentamente, uma delas foi-se aproximando do carro. era feia como tudo e, sinceramente, creio ter visto um proeminente buço nos cantos da sua boca quando proferia, vezes sem conta, o "famoso" chavão "30 euros, uma hora". como não estava minimamente preparado para tanta falta de beleza, disse à prostituta que não estava interessado e pedi-lhe para chamar uma outra sua colega de profissão. ela reagiu mal e, no mais estridente sotaque brasileiro, lá foi perguntando se aquilo era algum "rodízio de putas". depois de me mandar para a "puta qui ti pariu" e de se afastar, aproximou-se uma das outras duas. sotaque ucraniano, ou de algum país de leste, sem buço, olhos azuis e cabelos louros, curtos. chamava-se natasha e praticava os mesmos preços da sua colega do rodízio. disse-lhe para entrar no carro, ao que ela prontamente acedeu. pelo caminho, fiz-lhe perguntas sobre as "condições" do nosso pequeno contrato, nomeadamente se a poderia levar para casa. ela, em mau português, disse que podia ser onde eu quisesse, desde que lhe pagasse o táxi para regressar. já era tarde quando entrei em casa com a natasha. creio que nenhum vizinho nos viu a entrar; se vissem facilmente chegariam à conclusão de que ela era uma prostituta, tal a forma como estava vestida. mal chegamos ao quarto, ela começou imediatamente a despir-se, o que demorou uns meros trinta segundos, dada a quantidade, ou a falta dela, de roupa que tinha vestida. perguntou-me onde era a casa de banho e se eu me queria lavar primeiro. eu concordava com tudo naquela altura, sentia-me bem por estar com alguém, mesmo que esse alguém fosse uma pessoa que não percebia quase nada do que eu dizia. quando regressamos ao quarto, ela pediu-me o dinheiro e disse que eu tinha uma hora. de repente, sentia-me uma criança a quem os pais deram 500 escudos para andar nos carrinhos de choque na feira popular. paguei à natasha, ela arrumou o dinheiro na carteira e deitou-se na cama.
uma hora depois, chamei-lhe um táxi por telefone. a minha solitária saída nocturna tinha acabado por me custar algum dinheiro, mas, no final, ficou um certo sabor a vitória, mesmo que tenha sido alcançada com um "golo irregular". o mais importante foi não ter ficado sozinho, mesmo que tenha pago pela companhia. a natasha tinha acabado de me "desvirginar".
os dias seguintes foram de tédio absoluto. o andré tinha ido de férias, com uma namorada recente, a verónica, para itália. eu tinha a casa só para mim e tempo para construir um navio, mas não me apetecia fazer nada. só tinha a sofia na cabeça, um pensamento tão vívido e tão forte que até me tolhia os movimentos. os dias de trabalho, a quinze dias de ir de férias, sucediam-se, sem nenhuma ponta de interesse. dias houve em que "despachei" a garrafa de vodka toda e, mesmo assim, as coisas não melhoraram. faltava-me lá o andré para a "galhofa", para nos rirmos de toda e qualquer situação, mesmo as mais normais possíveis. os meus outros colegas da repartição eram chatos como tudo, tinham uma cultura geral abaixo de cão, limitando-se a repetir durante todo o santo dia as anedotas que tinham ouvido na noite anterior nos "malucos do riso" ou nos "batanetes". eu devia olhar para o relógio umas duzentas vezes por dia, tal era a vontade de sair dali. atender as pessoas ainda era o mais insuportável, digamos que era bem o exemplo de um funcionário do estado: mal encarado, antipático e pouco prestável. ficava as tardes todas a pensar no que haveria de fazer quando saísse daquela "prisão" e, quando finalmente saía, metia-me em casa, sem coragem nem iniciativa para fazer fosse o que fosse. limitava-me a ficar no sofá, com o comando da televisão na mão, a mudar de canal. no dia seguinte, mais uma gigantesca dose de neura no trabalho. sempre, mas sempre, com a sofia na cabeça. angustiava-me a incerteza de um novo encontro, a minha cobardia e impotência para lhe pedir um número, uma morada, o que quer que fosse que a mantivesse ligada a mim. estávamos em agosto, ela estava certamente de férias, sabe-se lá onde. e eu aqui, "amordaçado", em lisboa, que parecia vazia, sem alma e também ela de férias.
os dias foram passando, sempre da mesma forma, até eu sentir uma enorme necessidade de falar com alguém, de algum calor humano, compaixão, ternura... ir a uma festa ou sair sem o andré era mentira, ainda não me sentia preparado para enfrentar uma multidão sozinho. mas dei o primeiro passo, que era vital, para estancar aquela monotonia: meti-me no carro, depois de jantar, e vagueei sem destino. para mim já era uma grande passo, aventurar-me sozinho na noite, sem "muletas", sem paternalismos de qualquer espécie. acabei por ir ao colombo tomar café, fazendo questão de escolher a mesma mesa onde estive com a sofia. desta vez tomei mesmo o café, seguindo depois para uma inconsequente excursão pelas montras. sentia-me tão sozinho, tão desamparado, que cheguei a pensar em ligar à sónia, que ainda estava por lisboa. mas o marco não iria compreender. depois pensei na paula, a fogosa mulher do césar cardoso, tal era o desespero. saí do colombo e passei por casa dela, de carro. não sei o que é que eu pensava encontrar indo lá. a paula à porta de casa, em lingerie, a fazer-me sinal com o dedo para eu entrar? um sinal gigante em neón a dizer "o meu marido saiu em negócios, só volta para a semana"? não sei o que me motivou a ir ali, à procura de algo que a paula, manifestamente, não me poderia voltar a dar. já tinha sido um grande risco da outra vez, ainda acabaria por lhe estragar a vida. por isso afastei-me do local, em direcção... ao vazio. ainda não me tinha sentido assim tão sozinho desde o meu divórcio. sentia-me mal e angustiado mas recusava-me a assumir a derrota daquela noite. continuei a conduzir, pela noite dentro.
estava uma noite quente, quase sem vento, e eu tinha os vidros abertos. parei num sinal vermelho e, do meu lado direito, vi três prostitutas, o que até era normal ver quando saía com o andré. de roupas minúsculas, maquilhagem a mais e... ao alcance de qualquer pessoa. uma delas disse bem alto "30 euros, uma hora". a minha primeira reacção foi de profunda censura e até de algum nojo. sempre tinha reprovado o conceito de alguém "alugar" o corpo por alguns minutos a troco de dinheiro. quando o sinal verde abriu, suspirei de alívio. mas, à medida que o tempo ia passando, e a frase "30 euros, uma hora" não deixava de ecoar na minha cabeça, começou a instalar-se uma forte curiosidade e uma vontade de experimentar algo que nunca tinha vivido. sim, tinha noção de que era o "último recurso", mas se houve noite, em toda a minha existência, em que eu não queria regressar sozinho para casa foi aquela. voltei a passar por lá e encostei. lentamente, uma delas foi-se aproximando do carro. era feia como tudo e, sinceramente, creio ter visto um proeminente buço nos cantos da sua boca quando proferia, vezes sem conta, o "famoso" chavão "30 euros, uma hora". como não estava minimamente preparado para tanta falta de beleza, disse à prostituta que não estava interessado e pedi-lhe para chamar uma outra sua colega de profissão. ela reagiu mal e, no mais estridente sotaque brasileiro, lá foi perguntando se aquilo era algum "rodízio de putas". depois de me mandar para a "puta qui ti pariu" e de se afastar, aproximou-se uma das outras duas. sotaque ucraniano, ou de algum país de leste, sem buço, olhos azuis e cabelos louros, curtos. chamava-se natasha e praticava os mesmos preços da sua colega do rodízio. disse-lhe para entrar no carro, ao que ela prontamente acedeu. pelo caminho, fiz-lhe perguntas sobre as "condições" do nosso pequeno contrato, nomeadamente se a poderia levar para casa. ela, em mau português, disse que podia ser onde eu quisesse, desde que lhe pagasse o táxi para regressar. já era tarde quando entrei em casa com a natasha. creio que nenhum vizinho nos viu a entrar; se vissem facilmente chegariam à conclusão de que ela era uma prostituta, tal a forma como estava vestida. mal chegamos ao quarto, ela começou imediatamente a despir-se, o que demorou uns meros trinta segundos, dada a quantidade, ou a falta dela, de roupa que tinha vestida. perguntou-me onde era a casa de banho e se eu me queria lavar primeiro. eu concordava com tudo naquela altura, sentia-me bem por estar com alguém, mesmo que esse alguém fosse uma pessoa que não percebia quase nada do que eu dizia. quando regressamos ao quarto, ela pediu-me o dinheiro e disse que eu tinha uma hora. de repente, sentia-me uma criança a quem os pais deram 500 escudos para andar nos carrinhos de choque na feira popular. paguei à natasha, ela arrumou o dinheiro na carteira e deitou-se na cama.
uma hora depois, chamei-lhe um táxi por telefone. a minha solitária saída nocturna tinha acabado por me custar algum dinheiro, mas, no final, ficou um certo sabor a vitória, mesmo que tenha sido alcançada com um "golo irregular". o mais importante foi não ter ficado sozinho, mesmo que tenha pago pela companhia. a natasha tinha acabado de me "desvirginar".
o "intocável"
a liga sagres começou este fim de semana mas já deu para ver que há um jogador, à semelhança do que acontecia no ano anterior com rui costa, que é praticamente intocável. se ele cai, é falta. se ele perde a bola, é falta. se ele escorrega numa casca de banana, é falta. se ele espirra, é falta. chegou a ser ridícula a forma como o árbitro do jogo rio ave - benfica "protegia" o seu menino, só faltando pegar-lhe ao colo. o referido jogador, se é que ainda não o identificaram, veio como o "salvador da pátria", criou um autêntico foletim privado num dos principais jornais desportivos nacionais, com repetidas manchetes de "é hoje", "está para breve", "já vem a caminho", "parou apenas para almoçar na mealhada", fui apontado como o substituto natural de rui costa (epíteto que se comprova agora, mas na referida "protecção"), e afinal, meia dúzia de jogos realizados, sempre a titular e jogando quase sempre os 90 minutos e... nada. nicles. zero. ou será que foi contratado apenas com o intuito de "cavar" faltas junto às grandes áreas adversárias? e, ou muito me engano, ou reyes vai pelo mesmo caminho. são "estrelas", daquelas que toda a gente é unânime em considerar que trazem prestígio e qualidade ao campeonato português. como o foram pizzi, esnaider, skurahvy, missé-missé... o argentino pablo aimar (sim, é ele o "intocável), que desceu com o saragoça na época passada, a jogar assim, ainda vai fazer com que rui costa mude de ideias e regresse aos relvados ainda esta época.
sábado, agosto 23, 2008
luta (demasiadamente) livre
a senhora que está por cima chama-se wang jiao, é chinesa e venceu a medalha de ouro, no passado dia 17 de agosto, na categoria até 72 kg da luta livre nos jogos olímpicos de pequim. a infeliz senhora que está por baixo chama-se ali bernard, é americana e ganhou, no combate com jiao, um exame rectal totalmente grátis.
quinta-feira, agosto 21, 2008
palo santo - shearwater
shearwater, com apenas dois elementos, jonathan meiburg e thor harris, a interpretar o tema "palo santo", do disco com o mesmo nome, quarto da banda, datado de 2006.
quarta-feira, agosto 20, 2008
o que se ouve por cá
"rook", dos shearwater. quinto disco da banda de austin, texas, formada em 1999, por jonathan meiburg e will sheff, quando ambos integravam a banda okkervil river. actualmente, dos shearwater fazem parte meiburg, kimberly burke e thor harris.
aqui ficam algumas palavras acerca deste disco:
"the band creates an immense sonic wave of their own, crashing with soaring levels of volume and distortion, mimicking the physical devastation, yet with a powerful melodic beauty" (...) that the album lasts a mere 35 minutes is for the best, as it might be difficult to endure such an emotional toll for far longer. still, every note and every word of those 35 minutes is so meticulously plucked, sung and crafted that it's nearly flawless in its execution, but dark enough to haunt long after the music has stopped" - aqui.
o site treblezine.com refere como "similar albums" três excelentes discos: "spirit of eden", dos talk talk (a voz do vocalista dos shearwater, jonathan meiburg, é mesmo muito parecida com a de mark hollis dos talk talk, com laivos de antony hegarty pelo meio), "amnesiac", dos radiohead, e "boxer", dos the national.
"hollis acolytes or not, these are hardly song-sketches; all of them are careful compositions adding new instruments, moods, and sounds around the anchor of meiburg's voice. the edges of these otherwise lulling, hypnotic songs hint at danger and chaos (...) as impressive and uniformly gorgeous a record as Rook is, the band's best work is likely still to come" - aqui.
"most of the album tracks marry meiburg's high vocal register with classical instrumentation, though this is no pretty chamber pop. there's always a sense of greater ambition at play here: whether it's through meiburg stretching his extraordinary voice to its upper limits, or through the refusal to play the verse-chorus game, or through the intention to milk every moment for maximum drama" - aqui.
"this fifth album from jonathan meiburg’s okkervil river off-shoot is a masterpiece of melodramatic, string and piano-based prog-folk, like the precocious child of antony hegarty and joni mitchell fronting latterday talk talk on a soundtrack to ‘night of the hunter" - aqui.
para já, concordo com tudo o que foi transcrito. o espírito dos talk talk, especialmente dos discos "laughing stock" e "spirit of eden", renasceu com os shearwater. pura perfeição!
aqui ficam algumas palavras acerca deste disco:
"the band creates an immense sonic wave of their own, crashing with soaring levels of volume and distortion, mimicking the physical devastation, yet with a powerful melodic beauty" (...) that the album lasts a mere 35 minutes is for the best, as it might be difficult to endure such an emotional toll for far longer. still, every note and every word of those 35 minutes is so meticulously plucked, sung and crafted that it's nearly flawless in its execution, but dark enough to haunt long after the music has stopped" - aqui.
o site treblezine.com refere como "similar albums" três excelentes discos: "spirit of eden", dos talk talk (a voz do vocalista dos shearwater, jonathan meiburg, é mesmo muito parecida com a de mark hollis dos talk talk, com laivos de antony hegarty pelo meio), "amnesiac", dos radiohead, e "boxer", dos the national.
"hollis acolytes or not, these are hardly song-sketches; all of them are careful compositions adding new instruments, moods, and sounds around the anchor of meiburg's voice. the edges of these otherwise lulling, hypnotic songs hint at danger and chaos (...) as impressive and uniformly gorgeous a record as Rook is, the band's best work is likely still to come" - aqui.
"most of the album tracks marry meiburg's high vocal register with classical instrumentation, though this is no pretty chamber pop. there's always a sense of greater ambition at play here: whether it's through meiburg stretching his extraordinary voice to its upper limits, or through the refusal to play the verse-chorus game, or through the intention to milk every moment for maximum drama" - aqui.
"this fifth album from jonathan meiburg’s okkervil river off-shoot is a masterpiece of melodramatic, string and piano-based prog-folk, like the precocious child of antony hegarty and joni mitchell fronting latterday talk talk on a soundtrack to ‘night of the hunter" - aqui.
para já, concordo com tudo o que foi transcrito. o espírito dos talk talk, especialmente dos discos "laughing stock" e "spirit of eden", renasceu com os shearwater. pura perfeição!
sábado, agosto 16, 2008
supertaça
como sportinguista, devo agradecer a jesualdo ferreira os consecutivos erros tácticos sempre que joga contra o sporting, como por exemplo a colocação de joão paulo a defesa esquerdo na final da taça de portugal e, hoje, a estranha troca de lisandro por farias na frente de ataque. ah, e por não ter convocado quaresma. e, já agora, por ter preferido sapunaru a fucile para defesa direito (que grande ajuda nos deu o romeno no segundo golo, onde foi mais preponderante do que... djaló). e já que estamos a falar no assunto, ainda tenho que lhe agradecer a inclusão do macio guarin no meio campo e do inconsequente benitez no lugar de defesa esquerdo (ao pé do argentino, marek cech até parece um grande jogador). ah, e por último, por ter metido candeias. jesualdo só "errou" num aspecto: devia ter metido hulk mais cedo, porque o tipo joga sozinho, não passa a bola a ninguém. imagino a quantidade de problemas que vai arranjar no balneário portista.
no sporting, no meu entender, está a despontar um grande jogador, que correu quilómetros, atacou, defendeu, rematou e foi extremamente influente: izmailov. fez o que quis do pobre sapunaru, ajudou bastante caneira a cobrir o flanco esquerdo, recuou no terreno para acompanhar lucho gonzalez (indiscutivelmente, o melhor jogador do fc porto e um dos melhores jogadores de sempre a jogar em portugal), fez a ligação defesa/ataque, transportando o jogo até aos avançados. o sporting teve a atitude certa ao apostar na compra do passe do jogador russo. de resto, polga e tonel (tirando os constante alívios para a bancada deste último) estiveram bem a segurar farias e lisandro, abel perdeu muitos poucos lances para rodriguez (que tinha feito uma exibição de gala na primeira parte contra a lazio no passado domingo), caneira continua a ser o mesmo "pão sem sal", aquele tipo de jogador que nem aquece nem arrefece, limitando-se a defender a sua zona, sem rasgos ou brilho. hoje até cometeu um penalty infantil e tudo. onde raio estava o grimi, que até tinha sido o melhor em campo contra a sampdoria? rui patrício, que dizer!? logo nas suas primeiras intervenções na primeira parte, sobretudo quando lhe atrasavam as bolas, deixou ficar a sensação de que o sporting nunca na vida seria campeão com um guarda-redes destes, tão inseguro e incapaz de transmitir confiança à sua defesa. mas depois faz uma segunda parte de sonho e... já não sei o que pensar. as alternativas também não me parecem muito melhores. no meio campo, moutinho fez de miguel veloso (se bem que o lugar seja mesmo deste último); romagnoli lá conseguiu mais uma vez passar ao lado do jogo, até parece que joga sempre de pantufas, para não fazer muito barulho e chamar as atenções para si; rochemback foi importantíssimo no meio campo, estancando as iniciativas atacantes do adversário e fazendo uma pressão constante ao homem que conduzia a bola; izmailov foi "apenas" o melhor jogador em campo. na frente, derlei e djaló, que, para já, parecem constituir a melhor dupla possível. postiga nem assusta para já e tiuí muito menos. quando vierem liedson e vukcevic, logo se vê quem sai. a principal dificuldade vai ser no meio campo. se miguel veloso jogar a trinco, restam 3 posições. rochemback e moutinho têm lugar cativo (se o capitão não sair até 31 de agosto), sobrando apenas um lugar. concorrentes: izmailov, vukcevic, romagnoli, adrien e pereirinha. para já não falar em caneira, que foi testado por paulo bento a trinco nesta pré-temporada. não saindo moutinho, jogarão, a meu ver, veloso, moutinho, rochemback e izmailov (pelo que ajuda em termos defensivos, muito mais do que vukcevic ou romagnoli). saindo moutinho, jogarão veloso, rochemback, izmailov e vukcevic. o pior é que paulo bento gosta de romagnoli, que tem sido o preferido do técnico para a posição "10". para mim, rochemback, moutinho e vukcevic fariam muito melhor essa posição, com a vantagem de rematarem muito melhor de fora da área do que o argentino.
o sporting começa a época da mesma forma do que no ano passado, vencendo a supertaça. foi o quarto troféu da era paulo bento, três deles conquistados ao fc porto. à primeira vista, o próximo campeonato parece vir a ser muito mais disputado do que o anterior. mas, para já, dos três grandes, parece ser a formação leonina a mais preparada para iniciar a liga, com sistema táctico e onze definido. o fc porto precisa de resolver a questão dos laterais, do trinco que vai substituir paulo assunção e o "problema" quaresma. se este sair, quem jogará com lisandro e rodriguez? hulk? farias? mariano? candeias? tarik? muitas dúvidas. quanto ao benfica, as indefinições são ainda maiores. aimar parece um "peixe fora de água" e tarda em revelar as suas tão propaladas qualidades; reyes precisa de mais um mês para decorar o nome dos seus colegas de equipa e tem a mania que é vedeta; yebda, balboa, ruben amorim e carlos martins poderiam perfeitamente constituir o meio campo de uma equipa do meio da tabela, como o belenenses ou o estrela da amadora; sidnei é uma incógnita; o "novo" defesa direito é o tipo que era médio direito no ano passado; no ataque, para além de cardozo, há "isto": nuno gomes, makukula e mantorras. será que luís filipe vieira virá dizer, novamente, que este é o melhor plantel do benfica dos últimos dez anos? enfim, venha a liga!
no sporting, no meu entender, está a despontar um grande jogador, que correu quilómetros, atacou, defendeu, rematou e foi extremamente influente: izmailov. fez o que quis do pobre sapunaru, ajudou bastante caneira a cobrir o flanco esquerdo, recuou no terreno para acompanhar lucho gonzalez (indiscutivelmente, o melhor jogador do fc porto e um dos melhores jogadores de sempre a jogar em portugal), fez a ligação defesa/ataque, transportando o jogo até aos avançados. o sporting teve a atitude certa ao apostar na compra do passe do jogador russo. de resto, polga e tonel (tirando os constante alívios para a bancada deste último) estiveram bem a segurar farias e lisandro, abel perdeu muitos poucos lances para rodriguez (que tinha feito uma exibição de gala na primeira parte contra a lazio no passado domingo), caneira continua a ser o mesmo "pão sem sal", aquele tipo de jogador que nem aquece nem arrefece, limitando-se a defender a sua zona, sem rasgos ou brilho. hoje até cometeu um penalty infantil e tudo. onde raio estava o grimi, que até tinha sido o melhor em campo contra a sampdoria? rui patrício, que dizer!? logo nas suas primeiras intervenções na primeira parte, sobretudo quando lhe atrasavam as bolas, deixou ficar a sensação de que o sporting nunca na vida seria campeão com um guarda-redes destes, tão inseguro e incapaz de transmitir confiança à sua defesa. mas depois faz uma segunda parte de sonho e... já não sei o que pensar. as alternativas também não me parecem muito melhores. no meio campo, moutinho fez de miguel veloso (se bem que o lugar seja mesmo deste último); romagnoli lá conseguiu mais uma vez passar ao lado do jogo, até parece que joga sempre de pantufas, para não fazer muito barulho e chamar as atenções para si; rochemback foi importantíssimo no meio campo, estancando as iniciativas atacantes do adversário e fazendo uma pressão constante ao homem que conduzia a bola; izmailov foi "apenas" o melhor jogador em campo. na frente, derlei e djaló, que, para já, parecem constituir a melhor dupla possível. postiga nem assusta para já e tiuí muito menos. quando vierem liedson e vukcevic, logo se vê quem sai. a principal dificuldade vai ser no meio campo. se miguel veloso jogar a trinco, restam 3 posições. rochemback e moutinho têm lugar cativo (se o capitão não sair até 31 de agosto), sobrando apenas um lugar. concorrentes: izmailov, vukcevic, romagnoli, adrien e pereirinha. para já não falar em caneira, que foi testado por paulo bento a trinco nesta pré-temporada. não saindo moutinho, jogarão, a meu ver, veloso, moutinho, rochemback e izmailov (pelo que ajuda em termos defensivos, muito mais do que vukcevic ou romagnoli). saindo moutinho, jogarão veloso, rochemback, izmailov e vukcevic. o pior é que paulo bento gosta de romagnoli, que tem sido o preferido do técnico para a posição "10". para mim, rochemback, moutinho e vukcevic fariam muito melhor essa posição, com a vantagem de rematarem muito melhor de fora da área do que o argentino.
o sporting começa a época da mesma forma do que no ano passado, vencendo a supertaça. foi o quarto troféu da era paulo bento, três deles conquistados ao fc porto. à primeira vista, o próximo campeonato parece vir a ser muito mais disputado do que o anterior. mas, para já, dos três grandes, parece ser a formação leonina a mais preparada para iniciar a liga, com sistema táctico e onze definido. o fc porto precisa de resolver a questão dos laterais, do trinco que vai substituir paulo assunção e o "problema" quaresma. se este sair, quem jogará com lisandro e rodriguez? hulk? farias? mariano? candeias? tarik? muitas dúvidas. quanto ao benfica, as indefinições são ainda maiores. aimar parece um "peixe fora de água" e tarda em revelar as suas tão propaladas qualidades; reyes precisa de mais um mês para decorar o nome dos seus colegas de equipa e tem a mania que é vedeta; yebda, balboa, ruben amorim e carlos martins poderiam perfeitamente constituir o meio campo de uma equipa do meio da tabela, como o belenenses ou o estrela da amadora; sidnei é uma incógnita; o "novo" defesa direito é o tipo que era médio direito no ano passado; no ataque, para além de cardozo, há "isto": nuno gomes, makukula e mantorras. será que luís filipe vieira virá dizer, novamente, que este é o melhor plantel do benfica dos últimos dez anos? enfim, venha a liga!
sexta-feira, agosto 15, 2008
jogos olímpicos
em jeito de homenagem à brilhante participação dos atletas portugueses, até agora, nos jogos olímpicos de pequim.
quarta-feira, agosto 13, 2008
domingo, agosto 10, 2008
eu fui à galiza e não sofri nenhum golo
(algumas imagens da praia de samil, em vigo, com piscinas espalhadas pela marginal)
confesso que fiquei rendido à galiza: praias bem tratadas, limpas, com bons acessos, água a temperaturas sempre aceitáveis, pouca ondulação... comprovei que os galegos são de facto muito simpáticos e que se come muito bem por lá, especialmente marisco. nesse aspecto, não descurámos nada. comeu-se muito bem, bebeu-se ainda melhor (alvarinho verde e a cerveja da galiza) e as saudades começaram no preciso momento em que partimos para portugal. pelo caminho pudemos fazer uma curiosa comparação entre espanhóis e portugueses, a partir da simpatia demonstrada pelos funcionários das portagens. em espanha, sempre simpáticos, sorridentes, cumprimentando à chegada e despedindo-se no final com um "gracias". em portugal, nem uma nem duas. nada mesmo.
apesar da paragem em vigo, o nosso destino era sanxenxo. lá pudemos verificar como se rentabiliza de uma forma integrada, ordeira e correcta um destino turístico, sem confusões, sem alarido, sem avionetas constantemente a passar com publicidade, com a polícia a intervir e a castigar os prevaricadores (especialmente estacionamentos abusivos), não permitindo a instalação da anarquia total em termos de circulação automóvel, edifícios arquitectonicamente irrepreensíveis, extremamente bem cuidados, uma perfeita simbiose entre a praia e o pinhal, que em algumas zonas chega mesmo até à água, ruas limpas, praias com os sempre úteis chuveiros à saída e casas de banho, rampas para deficientes, e, como não poderia deixar de ser, esplanadas convidativas ao longo de toda a marginal. confesso que fui "com um pé atrás", desconfiando das virtudes das praias galegas. perdi todos esses preconceitos mal entrei na água. para além da surpreendente temperatura da água, esta é ainda límpida e cristalina. se já tinha adorado a praia de samil, em vigo, e toda a sua envolvência paisagística, a praia de silgar, em sanxenxo, bateu a concorrência, não ficando a dever nada às praias do algarve em termos de temperatura da água.
em termos gastronómicos, fomos parar, ao segundo dia, a um restaurante chamado "la terraza", porque a mariana, nos seus irrequietos três anos, insistiu que queria comer massa. depois de lermos dezenas de ementas, onde não constava nem sequer algo parecido, fomos encontrar um "spaghetti" no citado restaurante. como adoramos o almoço, com uns calamares inesquecíveis, gambas ao alhinho, polvo e mexilhão, sem esquecer o referido "spaghetti", passamos a ir lá quase sempre. chegamos a sair do hotel com chuva torrencial só para irmos lá provar a paella. mas valeu bem a pena... a chuva acabou precisamente quando tínhamos acabado de comprar um guarda-chuva. já sabem: se forem a sanxenxo, procurem um restaurante chamado "la terraza". prometo que vão gostar. se quiserem ir sem pré-reserva de hotel, estão à vontade. hotéis são quase porta sim, porta não. são às centenas.
para o ano, se tudo correr bem, vamos voltar a sanxenxo. já ficou decidido. pelos quatro. a mariana ainda torceu o nariz, por haver poucos restaurantes com massa, mas lá acabou por aceitar. até porque a itália é bem mais longe...
terça-feira, agosto 05, 2008
até domingo!
depois de uma curta estadia no sul, nesse algarve que nunca me deixa ficar mal, seguem-se uns dias a descobrir os encantos da bela galiza. vigo, pontevedra e sanxenxo fazem naturalmente parte deste roteiro, em que se privilegiará a gastronomia e os afamados vinhos galegos, a rica moldura paisagística da galiza, as praias de vigo (samil) e sanxenxo, e, sobretudo, da grande empatia entre os galegos e os portugueses. pelo menos neste último aspecto é enorme a vantagem em relação ao algarve.
volto, em princípio, ao vosso convívio no domingo. até lá!
volto, em princípio, ao vosso convívio no domingo. até lá!
segunda-feira, agosto 04, 2008
capítulo VIII
capítulo VIII
a sofia parecia estar muito mais descontraída do que eu. sentou-se, pousou a carteira e os livros que tinha comprado numa cadeira e cruzou as pernas, entrelaçando as mãos por cima do seu joelho direito. transpirava descontracção, agindo sempre com uma desarmante naturalidade, como se este género de situações lhe acontecessem todos os sábados à tarde. "tomar um café com um pai de um aluno meu? vamos lá embora!".
- sempre quis ser professora? - perguntei.
- sim, sempre fui muito determinada nesse aspecto. os meus pais diziam que eu só podia mesmo ser professora, porque, nas minhas brincadeiras, imitava sempre os meus professores, as atitudes, a postura rígida e responsável, os raspanetes. até os meus pais eram meus alunos...
- nesse caso, foi para a universidade com o estágio já feito...
- mas mesmo assim ainda tive que lá andar quatro anos até me darem o diploma... foi uma injustiça.
- e escolheu história por vocação ou porque estava decidida a quebrar aquela ideia generalizada de que esse curso é um dos que tem menos saída profissional? quer dizer, ainda ontem um licenciado em história me pesou um quilo de uvas...
- eu sabia disso, como é óbvio, mas a história sempre me fascinou. quantas vezes arranjei problemas lá em casa porque eu queria ver os programas do josé hermano saraiva e os meus irmãos e o meu pai queriam ver futebol. naquela altura ainda não havia quatro televisores por casa, como agora.
- quem ganhava mais vezes?
- eles, porque eram mais. ficaram aliviados quando vim estudar para lisboa.
- e veio de onde mesmo?
- de uma aldeia chamada sarzedo, do concelho de arganil. lembro-me bem dos magníficos verões que lá passei, no rio alva.
- lisboa deve ter sido um choque muito grande...
- sim, nos primeiros meses andei à deriva. perdia os autocarros todos, enganava-me nas paragens, nunca conseguia decorar os horários do metro. enfim, o "pacote" todo, típico de alguém que nunca viveu numa grande cidade. mas também, se não fôssemos nós, os da província, vocês lisboetas não teriam ninguém com quem gozar, não é?
- eu não sou lisboeta. estou apenas à espera de juntar dinheiro suficiente para me pirar. aqui, nunca me senti verdadeiramente em casa.
quando a sofia se preparava para falar, provavelmente para me perguntar de onde é que eu vinha, fomos interrompidos pelo marco, que me veio pedir dinheiro para comprar um cd. enquanto eu procurava na carteira a quantia solicitada, a sofia começou a conversar com o marco, num tom mais sério, fazendo valer o seu estatuto de professora, sobretudo porque existiam fortes possibilidades de ela voltar a ser a sua professora de história no 11º ano. quando lhe dei o dinheiro, o marco disse-me para não me esquecer que o filme que íamos ver começava dentro de dez minutos, ao que eu lhe respondi "mas vamos ver um filme? qual filme". a sofia riu-se, por achar que eu estava a brincar com o marco. mas não estava. naquela altura sentia-me alheado de tudo, de tão inebriado que estava, por me sentir bem, finalmente, a fazer parte de uma conversa e por sentir que poderia ficar ali quinze meses seguidos apenas a falar com a sofia. foi como se toda aquela rotina do sábado à tarde com o marco, tão rigorosamente cronometrada e previamente estabelecida, se tivesse evaporado, de repente, da minha cabeça. e foi uma sorte o marco ter-me pedido apenas dinheiro para comprar um cd, porque se ele me tivesse pedido a chave do carro eu era bem capaz de lha dar.
o marco despediu-se da sofia com um "até p'ró ano stôra. boas férias!". ela respondeu "igualmente. fica descansado que eu aviso o teu pai quando chegar a hora do filme". esbocei um sorriso de cumplicidade, mas por dentro dava pulos de alegria. esta frase dela "caiu-me" maravilhosamente bem. encaixou. foi a perfeita conclusão para aquele pequeno interlúdio com o marco. foi o assumir de que também ela queria mais tempo comigo, caso contrário, teria olhado para o relógio, dizia que já estava atrasada para qualquer coisa e "entregava-me de bandeja" ao meu filho.
o tema da conversa passou a ser o marco, as suas virtudes, potencialidades e, sobretudo, a coragem que demonstrou perante as adversidades com que foi defrontado: a morte do avô e o divórcio dos pais. apesar da natural quebra a meio do ano, ele conseguiu dar a volta por cima e acabar o ano com notas razoáveis.
- fiquei realmente impressionada com a maturidade que o marco revelou no último período. confesso que não estava à espera que ele voltasse tão rapidamente ao seu nível.
- tenho a impressão de que ele se sentiu culpado, de certa forma, pela separação dos pais. eu e a minha ex-mulher entramos em discussão por causa dele, porque ela queria proibi-lo de sair com os amigos e eu defendi-o, dizendo que tinha confiança nele. como foi a última discussão, a que precipitou o fim, acredito que ele se tenha sentido assim. aliás, quando saí de casa, ele prometeu-me que ia estudar mais. cumpriu, como se pôde verificar.
- digamos que, em parte, o vosso divórcio acabou por lhe fazer bem...
- ele cresceu muito neste último ano em termos psicológicos e emocionais. gostava muito do avô artur, de ir com ele à pesca e ao futebol, de o ajudar no quintal. as férias em tomar eram indispensáveis para ele. e depois, de repente, ficar sem essa parte importante da sua vida, foi um choque demasiadamente brutal. comparado com isto, a separação dos pais foi quase como uma ida ao dentista.
- e como é que ele tem reagido?
- muito bem. ficou com a mãe, como era evidente. eu estou com ele aos sábados, de quinze em quinze dias. mas não moramos muitos longe um do outro. a sónia também facilita bastante, caso eu queira sair com ele noutros dias. o nosso casamento até acabou muito bem. digamos que foi por mútuo acordo. se calhar, até somos mais amigos agora do que quando éramos casados...
- bem, sempre é verdade então que depois da tempestade vem mesmo a bonança!...
- boa série essa. era com o lorne greene e o michael landon.
- sim, o "anjo na terra".
- exactamente. andei anos a ansiar por uma série chamada "tempestade" e que a colocassem antes do "bonanza". seria giro ouvir a fátima medina ou a helena ramos anunciar a programação.
- seria bem interessante, sem dúvida. lamento dizer que está na hora do vosso filme. já passaram dez minutos.
- mas ainda nem tomamos café... - referi, bastante espantado.
- também é verdade que nos esquecemos de o pedir - disse a sofia, sorrindo.
o marco aproximava-se lá ao fundo. eu sentia o nó a apertar na garganta, ao pressentir uma eminente e incontornável despedida. e vinham lá as férias de verão. quando é que eu a tornaria a ver? levantamo-nos. ajudei-a com o saco dos livros. lancei um último olhar à mesa, para ver se nos tínhamos esquecido de alguma coisa, e virei-me para ela. contra a minha vontade, o tempo não parou. os ponteiros continuavam a marchar imperturbáveis. o marco continuava a caminhar na nossa direcção. ficámos uns bons dez segundos assim, a olhar um para o outro, sem dizer nada. até que, no café, alguém deixou cair um copo ao chão, desviando-nos o olhar.
- bem, tenho que ir andando. vocês têm o filme para ver.
- sim, é verdade. é pena. gostaria de ficar mais tempo a falar consigo - até hoje me custa a crer que disse estas palavras, que tive coragem para tanto.
- talvez um dia a gente possa, efectivamente, tomar um café juntos. hoje perdemos essa oportunidade.
o marco chegou ao pé de nós e disse "vamos pai, já estamos atrasados". a sofia entendeu que era a "deixa" dela e começou a afastar-se, sorrindo e dizendo adeus com a mão direita. o marco começou também a afastar-se, mas em direcção oposta. eu permanecia estático, sem reacção, a ver a sofia cada vez mais longe, impotente para travar a sua marcha e incapaz de proferir fosse o que fosse, tal era a minha frustração. "pai, anda!". "sim, sim, já vou".
escusado será dizer que o filme me passou completamente ao lado. aliás, nem me lembro que raio de filme é que fomos ver nessa tarde de sábado. mesmo que fosse a melhor obra cinematográfica de todos os tempos, a minha indiferença nesse dia estaria sempre garantida. não conseguia deixar de pensar que poderia estar ainda a falar com ela. e, pior ainda, não parava de me recriminar por não lhe ter pedido um contacto que fosse.
a sofia parecia estar muito mais descontraída do que eu. sentou-se, pousou a carteira e os livros que tinha comprado numa cadeira e cruzou as pernas, entrelaçando as mãos por cima do seu joelho direito. transpirava descontracção, agindo sempre com uma desarmante naturalidade, como se este género de situações lhe acontecessem todos os sábados à tarde. "tomar um café com um pai de um aluno meu? vamos lá embora!".
- sempre quis ser professora? - perguntei.
- sim, sempre fui muito determinada nesse aspecto. os meus pais diziam que eu só podia mesmo ser professora, porque, nas minhas brincadeiras, imitava sempre os meus professores, as atitudes, a postura rígida e responsável, os raspanetes. até os meus pais eram meus alunos...
- nesse caso, foi para a universidade com o estágio já feito...
- mas mesmo assim ainda tive que lá andar quatro anos até me darem o diploma... foi uma injustiça.
- e escolheu história por vocação ou porque estava decidida a quebrar aquela ideia generalizada de que esse curso é um dos que tem menos saída profissional? quer dizer, ainda ontem um licenciado em história me pesou um quilo de uvas...
- eu sabia disso, como é óbvio, mas a história sempre me fascinou. quantas vezes arranjei problemas lá em casa porque eu queria ver os programas do josé hermano saraiva e os meus irmãos e o meu pai queriam ver futebol. naquela altura ainda não havia quatro televisores por casa, como agora.
- quem ganhava mais vezes?
- eles, porque eram mais. ficaram aliviados quando vim estudar para lisboa.
- e veio de onde mesmo?
- de uma aldeia chamada sarzedo, do concelho de arganil. lembro-me bem dos magníficos verões que lá passei, no rio alva.
- lisboa deve ter sido um choque muito grande...
- sim, nos primeiros meses andei à deriva. perdia os autocarros todos, enganava-me nas paragens, nunca conseguia decorar os horários do metro. enfim, o "pacote" todo, típico de alguém que nunca viveu numa grande cidade. mas também, se não fôssemos nós, os da província, vocês lisboetas não teriam ninguém com quem gozar, não é?
- eu não sou lisboeta. estou apenas à espera de juntar dinheiro suficiente para me pirar. aqui, nunca me senti verdadeiramente em casa.
quando a sofia se preparava para falar, provavelmente para me perguntar de onde é que eu vinha, fomos interrompidos pelo marco, que me veio pedir dinheiro para comprar um cd. enquanto eu procurava na carteira a quantia solicitada, a sofia começou a conversar com o marco, num tom mais sério, fazendo valer o seu estatuto de professora, sobretudo porque existiam fortes possibilidades de ela voltar a ser a sua professora de história no 11º ano. quando lhe dei o dinheiro, o marco disse-me para não me esquecer que o filme que íamos ver começava dentro de dez minutos, ao que eu lhe respondi "mas vamos ver um filme? qual filme". a sofia riu-se, por achar que eu estava a brincar com o marco. mas não estava. naquela altura sentia-me alheado de tudo, de tão inebriado que estava, por me sentir bem, finalmente, a fazer parte de uma conversa e por sentir que poderia ficar ali quinze meses seguidos apenas a falar com a sofia. foi como se toda aquela rotina do sábado à tarde com o marco, tão rigorosamente cronometrada e previamente estabelecida, se tivesse evaporado, de repente, da minha cabeça. e foi uma sorte o marco ter-me pedido apenas dinheiro para comprar um cd, porque se ele me tivesse pedido a chave do carro eu era bem capaz de lha dar.
o marco despediu-se da sofia com um "até p'ró ano stôra. boas férias!". ela respondeu "igualmente. fica descansado que eu aviso o teu pai quando chegar a hora do filme". esbocei um sorriso de cumplicidade, mas por dentro dava pulos de alegria. esta frase dela "caiu-me" maravilhosamente bem. encaixou. foi a perfeita conclusão para aquele pequeno interlúdio com o marco. foi o assumir de que também ela queria mais tempo comigo, caso contrário, teria olhado para o relógio, dizia que já estava atrasada para qualquer coisa e "entregava-me de bandeja" ao meu filho.
o tema da conversa passou a ser o marco, as suas virtudes, potencialidades e, sobretudo, a coragem que demonstrou perante as adversidades com que foi defrontado: a morte do avô e o divórcio dos pais. apesar da natural quebra a meio do ano, ele conseguiu dar a volta por cima e acabar o ano com notas razoáveis.
- fiquei realmente impressionada com a maturidade que o marco revelou no último período. confesso que não estava à espera que ele voltasse tão rapidamente ao seu nível.
- tenho a impressão de que ele se sentiu culpado, de certa forma, pela separação dos pais. eu e a minha ex-mulher entramos em discussão por causa dele, porque ela queria proibi-lo de sair com os amigos e eu defendi-o, dizendo que tinha confiança nele. como foi a última discussão, a que precipitou o fim, acredito que ele se tenha sentido assim. aliás, quando saí de casa, ele prometeu-me que ia estudar mais. cumpriu, como se pôde verificar.
- digamos que, em parte, o vosso divórcio acabou por lhe fazer bem...
- ele cresceu muito neste último ano em termos psicológicos e emocionais. gostava muito do avô artur, de ir com ele à pesca e ao futebol, de o ajudar no quintal. as férias em tomar eram indispensáveis para ele. e depois, de repente, ficar sem essa parte importante da sua vida, foi um choque demasiadamente brutal. comparado com isto, a separação dos pais foi quase como uma ida ao dentista.
- e como é que ele tem reagido?
- muito bem. ficou com a mãe, como era evidente. eu estou com ele aos sábados, de quinze em quinze dias. mas não moramos muitos longe um do outro. a sónia também facilita bastante, caso eu queira sair com ele noutros dias. o nosso casamento até acabou muito bem. digamos que foi por mútuo acordo. se calhar, até somos mais amigos agora do que quando éramos casados...
- bem, sempre é verdade então que depois da tempestade vem mesmo a bonança!...
- boa série essa. era com o lorne greene e o michael landon.
- sim, o "anjo na terra".
- exactamente. andei anos a ansiar por uma série chamada "tempestade" e que a colocassem antes do "bonanza". seria giro ouvir a fátima medina ou a helena ramos anunciar a programação.
- seria bem interessante, sem dúvida. lamento dizer que está na hora do vosso filme. já passaram dez minutos.
- mas ainda nem tomamos café... - referi, bastante espantado.
- também é verdade que nos esquecemos de o pedir - disse a sofia, sorrindo.
o marco aproximava-se lá ao fundo. eu sentia o nó a apertar na garganta, ao pressentir uma eminente e incontornável despedida. e vinham lá as férias de verão. quando é que eu a tornaria a ver? levantamo-nos. ajudei-a com o saco dos livros. lancei um último olhar à mesa, para ver se nos tínhamos esquecido de alguma coisa, e virei-me para ela. contra a minha vontade, o tempo não parou. os ponteiros continuavam a marchar imperturbáveis. o marco continuava a caminhar na nossa direcção. ficámos uns bons dez segundos assim, a olhar um para o outro, sem dizer nada. até que, no café, alguém deixou cair um copo ao chão, desviando-nos o olhar.
- bem, tenho que ir andando. vocês têm o filme para ver.
- sim, é verdade. é pena. gostaria de ficar mais tempo a falar consigo - até hoje me custa a crer que disse estas palavras, que tive coragem para tanto.
- talvez um dia a gente possa, efectivamente, tomar um café juntos. hoje perdemos essa oportunidade.
o marco chegou ao pé de nós e disse "vamos pai, já estamos atrasados". a sofia entendeu que era a "deixa" dela e começou a afastar-se, sorrindo e dizendo adeus com a mão direita. o marco começou também a afastar-se, mas em direcção oposta. eu permanecia estático, sem reacção, a ver a sofia cada vez mais longe, impotente para travar a sua marcha e incapaz de proferir fosse o que fosse, tal era a minha frustração. "pai, anda!". "sim, sim, já vou".
escusado será dizer que o filme me passou completamente ao lado. aliás, nem me lembro que raio de filme é que fomos ver nessa tarde de sábado. mesmo que fosse a melhor obra cinematográfica de todos os tempos, a minha indiferença nesse dia estaria sempre garantida. não conseguia deixar de pensar que poderia estar ainda a falar com ela. e, pior ainda, não parava de me recriminar por não lhe ter pedido um contacto que fosse.