quarta-feira, março 21, 2007

filosoficamente

ah, que saudades das minhas aulas de filosofia no liceu, aquele jogo de palavras fascinante, o estudo de mentes brilhantes e grandes inteligências que proferiam observações pertinentes e luminosas, como "penso, logo existo", e abordavam a vida, a morte, a arte, a moral, etc., sempre de uma forma elevada e de infinita sabedoria. são pensadores desta estirpe que fazem o mundo avançar, como kierkegaard: "uma tal relação que se relaciona a si consigo mesmo (quer dizer, com o Eu) tem de se ter constituído a si própria ou ter sido constituída por outrem". o conceito de kierkegaard até me fez vir as lágrimas aos olhos... são pensamentos como este que fazem de nós homens, que nos preparam efectivamente para a vida. pensamos imediatamente, "como ele é inteligente!". agora sim, constatamos que aquelas aulas de filosofia eram necessárias para o nosso crescimento como ser humanos. eu, que até tenho dificuldades em escrever até três frases inteiras e inteligíveis sobre "a visita de estudo ao museu soares da costa", reparo agora que nunca seria capaz de escrever algo tão inteligente, porque, na verdade, aquela frase é totalmente incompreensível para mim, mas o que é que isso importa agora, se kierkegaard se tinha divertido a escrevê-la?! caramba, o homem tem inúmeros livros publicados... as suas pesquisas e descobertas filosóficas hão-de ter ajudado alguém, como por exemplo aquele meu colega de liceu, que hoje tem um excelente emprego como secretário de estado do desenvolvimento rural e florestas. há dias encontrei-o e, como já não nos víamos há muito tempo, colocamos a conversa em dia. quando ele me disse a profissão que tinha, fiquei pasmado e algo invejoso. mas ele aí desarmou-me logo: "não me digas que, desde o liceu, nunca mais voltaste a pegar num livro do kierkegaard? eu tenho sempre um livro dele na minha mesinha de cabeceira".
enveredei então pela metafísica. debrucei-me sobre o conceito filosófico "o que é que podemos ter a certeza de conhecermos, ou a certeza de conhecermos o que conhecíamos, se é que é de todo conhecível, ou simplesmente nos esquecemos e estamos demasiado envergonhados para dizer seja o que for". peguei numa caneta e comecei a anotar as minhas primeiras meditações filosóficas. esta foi a primeira: "a minha mente nunca pode conhecer o meu corpo, apesar de se ter tornado muito amiga das minhas pernas". a segunda foi: "para conhecer uma substância ou uma ideia temos de duvidar dela e, deste modo, ao duvidar, chegar à apreensão das qualidades que possui no seu estado finito, as quais estão na própria coisa ou são da própria coisa, ou de alguma coisa ou de coisa nenhuma". muitos mais pensamentos brilhantes como este me vieram à cabeça, como: "porque é que a existência é muitas vezes considerada estúpida, em particular pelas pessoas que usam calças à boca de sino?". ou: "o conhecimento é conhecível? como é que poderemos ter a certeza?".
tenho a certeza de que a história vai reservar um espaço para mim, depois da publicação da minha obra filosófica, que deverá ser lançada postumamente ou depois da minha morte, o que acontecer primeiro.

1 comentário:

Ricardo disse...

Por falar nisso, tenho kierkegaard. Volto já. É que estou mesmo aflito.