o que pensarão aqueles cantores e grupos, com décadas de experiência e muitos espectáculos de província nas pernas, do sucesso quase instantâneo, com direito a triplas platinas, de tipos como o ff, os d'zrt ou a floribella?
há centenas de cantores nacionais que nunca tiveram "tempo de antena", nunca tiveram um disco de ouro, sobrevivendo à custa dos espectáculos de verão, nas milhares de festas por esse país fora. mas tinham pelo menos uma qualidade: tocavam e cantavam, porque era isso que eles sabiam fazer. foi a arte que escolheram.
hoje em dia é tudo muito mais imediato e, curiosamente, com menos custos. ou seja, hoje um espectáculo, numa qualquer vila ou aldeia de portugal, necessita apenas de duas ou três pessoas: um cantor ou cantora para fazer playback, uma pessoa para colocar o cd na aparelhagem e outra para fazer de empresário, negociando as condições com a organização da respectiva festa. e porquê? porque ao povo não interessa se os cantores cantam bem ou mal, têm é que ter uma carinha laroca. se é em playback ou não é indiferente. a britney spears também fez playback no rock in rio, perante 80 mil pessoas, e levou o seu cachet na mesma para casa.
o logro do playback ganharia outros contornos se pensarmos neste cenário: imaginem o picasso com uma tela à frente e com um pincel na mão a fingir que está a pintar; ou ir ver um jogo de futebol, em que os jogadores fingem que jogam.
qualquer zé ninguém pode ser por estes dias um "artista". desde que reúna condições físicas para tal. saber cantar? tocar um simples instrumento? isso é irrelevante. desde que faça um aceitável playback e saiba mexer os braços e as pernas em palco.
e com tudo isto a inundar os ecrãs de televisão, nos morangos, nas floribellas, nas novelas, nos programas da manhã, nos natais nos hospitais, que espaço terão aquelas pessoas que de facto sabem tocar e cantar? há quantos anos não aparece algo verdadeiramente inovador e criativo na música nacional? por isto tudo, os grupos nacionais mais conhecidos continuam a ser os mesmos de sempre: xutos e pontapés, gnr, da weasel... são poucas as bandas que resistem aos fenómenos instantâneos criados pelas estações de televisão. mas também isso é apenas um sinal de estatuto das mesmas, em vez de claro mérito musical...
3 comentários:
Ora aqui estou eu de novo, para dar a certeza de que não tenho mesmo nada para fazer. eheheh
Olha acerca do FF o meu irmão no outro dia deu-me um sermão de meia noite (o meu irmão já é um jovem adulto, atenção!) dizendo que o FF não é para ser comparado aos Dzr't porque sabe cantar e em criança foi vencedor... bolas, agora não me lembro do nome, aquele concurso internacional que dava na SIC para crianças que era artistas? Era apresentado pela Ana... rrrr... hoje estou mesmo esquecida... aquela que agora está na SIC Mulher e apresenta o Elas em Marte (??? é assim? ou é Eles não sei onde?)... bem, não importa... eu também nunca o ouvi ao vivo por isso não sei se ele faz ou não playback. Mas falha aí uma coisa no teu artigo. Talvez a mais importante de todas... (Embora deva dizer que Acho que a Luciana canta muito bem... a qualidade deste trabalho é que é duvidosa...) Os "artistas" que referes dirigem o seu trabalho a um público extremamente jovem e infantil. Em torno destes há toda uma campanha de marketing (hoje em dia o marketing é tudo! por acaso ainda hoje estava a falar acerca disso com a vendedora da Bertrand aqui da minha santa terrinha acerca do fenómeno Harry POtter ser tão divulgado, enquanto o "Eragon" e o "eldest", que considero bem melhores apesar do grande número de vendas, passarem despercebidos). Ora todos sabemos que são as crianças e os jovens que mais motivam o consumo e que arrastam os pais. Há muito que o MacDonalds segue esta táctica...
cereja:
a questão é mesmo essa. onde estão os grupos como os que citaste em termos de divulgação e mediatismo televisivo? é isso que eu digo no post. até pode haver bandas boas, mas aquelas que vemos são sempre as mesmas. e outra coisa que eu refiro é a falta de espaços televisivos para bandas como as que citaste poderem mostrar-se a um público mais abrangente. eu não digo que não há musica nacional boa, deve haver certamente, só critico a pouca visibilidade da mesma, quando comparada com aberrações como d'zrt, ff, floribellas, etc.
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